Linda, a bartender ficava assim com a bata do hospital. Em seus cabelos molhados ela tinha uma toalha enrolada e reclamava comigo por eu ter demorado a chegar.- Você perdeu! - se sentou em sua maca e me observou, eu estava ofegando por causa da correria a qual ela me fez passar.
- Perdi o que?
- O nascimento de um bebê, eu consegui ver! - que nojento.
- Não acredito que vim correndo por isso... Você falou com o médico? - mudei de assunto. LiAh cruzou as pernas e se apoiou em seu corpo com os seus braços a sua frente. Seu corpo era bastante flexível.
- Ele disse que precisa falar com você. - ela estava tão serena. Como alguém internada em um hospital poderia se sentir tão familiarizada?
Fui encontrar o médico no mesmo instante e após rodar todo o andar, o encontrei dançando para uma enfermeira. Médicos não são normais.
- Olá, você queria falar comigo?
- Ah, sim! Você deve ser o responsável por Lee Li-Ah. Vamos ali, eu preciso mostrar umas coisas a você.
Caminhando um ao lado do outro, ele me levou até o prontuário médico de LiAh. Os exames que ela tinha feito na noite anterior estavam ali junto com algumas anotações, eu não entendia nada daquilo, por isso esperei que ele me explicasse bem.
- Há quanto tempo você conhece a LiAh?
Dois dias.
- Não muito, não tivemos tempo, por que? - o meu pulso já estava acelerado. Só o que me faltava, naquela altura do campeonato era ele me dizer que LiAh já não tinha mais chance de cura.
- O coração de LiAh não está mais operando sozinho.
O quê?
- Explique melhor, por favor. - varri os exames de LiAh em busca de algo que eu reconhecesse, mas estava lidando com algo bastante complexo para a minha mente lerda. - Está dizendo que o coração dela não quer mais pegar... Ligar.. como se chama...
- Bater. O coração dela não bate mais sozinho. LiAh tem insuficiência cardíaca e sempre soube que em algum momento precisaria de um transplante. Bem, o coração não está mais servindo para ela, e precisamos de um doador.
Aquele médico era tão sério em alguns momentos. Eu só queria que ele começasse a dançar para mim como fez com a enfermeira minutos atrás e não que me jogasse uma bomba daquelas.
- O que eu posso fazer?
- Bem, eu conversei com ela e parece que você é a única pessoa que ela tem. O apoio emocional é bastante importante nesses momentos, principalmente porque ela terá de ficar aqui até conseguirmos um doador, mas essas coisas não são fáceis, mesmo ela sendo uma prioridade. O seu coração não bate sozinho, se desligarmos os aparelhos temporários por um minuto, poderia ser fatal.
Apoio emocional, certo? Como se dar isso?
- Entendi... Ficarei com ela, não se preocupe. - LiAh era a minha amiga, eu não poderia deixar alguém como ela sozinha.
Acabei voltando para o seu leito e de longe pude ver sua animação ao conversar com uma enfermeira que ria de algo que ela dizia. LiAh tinha um caderno em seus pernas e mostrava os desenhos que ela fazia. Eram animes. Ela notou a minha presença no mesmo instante em que me aproximei.
- Ah, esse é o Hyuk, o meu amigo! - LiAh me apresentou à enfermeira que sorriu envergonhada.
- É um prazer.
A enfermeira foi embora um pouco depois.
- Sabe com quantas pessoas eu já fiz amizade aqui? - ela brincava com os dedos, fingindo estar fazendo uma conta imaginária e eu ri baixinho vendo o seu nariz se enrugar quando ela não chegou em conclusão alguma.
- Você não é nem um pouquinho normal.
Ela sorriu também, concordando comigo e eu notei suas bochechas ficarem rosadas. Ela acabou me mostrando o desenho em seu caderno, era um boneco com os cabelos escuros e tinha o mesmo corte de cabelo que o meu. Também tinha os olhos puxados, quase fechados.
- Personagem de animes por acaso não deveriam ter olhos... Hum, enormes?
- Esse carinha não... Ele fecha os olhos quando sorri.
O boneco tinha a franja caída para os lados e, olhando bem, se parecia comigo...
2 meses depois...
LiAh parecia tão saudável a cada dia, mesmo estando em um hospital ela estava sempre fazendo loucuras e passeava sempre que podia - mesmo que eu a proibisse, mas ela era teimosa.
Saí do trabalho o mais rápido que pude. Ultimamente tem demorado uma eternidade até chegar 16:00 horas e como se já não fosse o suficiente, o metrô até o hospital é sempre lotado. Mesmo assim, o meu esforço diário compensa quando chego em sua ala e ela sorri para mim.
Acontece que hoje ela estava chorando.
Eu já me aproximei com medo do que estava acontecendo. LiAh passara por tanta coisa e mesmo assim ainda era tão leve e sorridente que para estar chorando, deveria ter acontecido algo muito grave.
- A vovó Choi recebeu alta essa manhã! - ela limpou suas lágrimas quando me viu e não sorriu, me deixando triste. - Todos os meus amigos recebem alta e saem daqui, menos eu.
Me aproximei da garota com cautela e fui surpreendido quando ela agarrou a minha cintura e apertou o meu corpo. Sua estatura tão pequena que ia até os meus ombros a fez esconder o rosto dentro do meu casaco. Ela respirou fundo que por um segundo eu fiquei preocupado. E se ela estiver passando mal?
- Vamos receber um doador em breve. Tem de ser paciente, ou irá morrer do coração.
Que piada horrível, humor negro não combina com a situação.
O pior é que ela riu.
Os meus braços acabaram rodeando os seus ombros e aquela foi a primeira vez que eu a abracei. Confesso que me senti bem, porque mesmo quase no fim do inverno, ainda era tão frio, e LiAh tinha um abraço tão quente.
- Você cheira bem. - ela disse baixinho. - Uma pena você ainda não ter uma namorada, ela seria uma sortuda.
- Não tenho tempo para ter uma namorada, a minha melhor amiga precisa de um coração e fica melancólica às vezes. Olha só o trabalho que você me dá!
Ela riu e se afastou me mostrando suas bochechas rosadas. As covinhas - tortas, porém lindas - estavam fundas ali e eu recebi o que fiquei o dia inteiro esperando para ver: seu sorriso.
Se me perguntassem em que estação estávamos, eu diria que era o inverno, porém, dentro daquele quartinho de hospital que não tinha mais nada além de uma maca, alguns aparelhos e uma cadeira lisa, a minha resposta seria Verão, porque LiAh aquece tudo em mim e as minhas emoções são diferentes quando estou com ela. Ela me contou sobre como se tornou uma bartender e eu nunca ri tanto em minha vida como naquele dia.
A estação era inverno, mas por causa de LiAh, estava se tornando verão.
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WINTER |•| Kwon Hyuk- Dean
Fanfiction"O inverno é a minha estação preferida..." "Pois eu acho o verão muito melhor." Ideia inicial: 22/03/2019 Início da Fanfic: 22/03/2019 Término da Fanfic: 25/03/2019 ©2019.