A primavera era a estação que mais combinava com LiAh. As flores floresceram e o caminho até o hospital naquele dia estava repleto de ameixas. Eu recolhi uma delas ainda um pouco receoso, pois não sabia se a bartender gostava daquele tipo de demonstração, desde que disse que a amava, fiquei com receio de que dessa vez ela finalmente percebesse que eu era uma péssima companhia.
Me sentia exausto e o motivo era que LiAh estivera praticamente a noite inteira na cirugia e a cada médico que saía, eu tinha a certeza de que receberia uma notícia ruim. Mas a minha garota era a pessoa mais forte que eu tive a chance de conhecer e não morreria daquela maneira.
Por volta das cinco da manhã, a cirurgiã que fizera o procedimento em LiAh me contou sobre o coma induzido após a cirurgia e que eu não poderia vê-la antes de vinte e quatro horas.
Fora uma espera sem fim. Acabei voltando para casa depois de recolher todas as suas coisas de seu antigo leito e passei toda a noite pensando sobre os sonhos que ela estaria tendo naquele momento. LiAh tinha razão sobre guardar um cheiro e eu só consegui cochilar quando encontrei no meio de suas coisas um lenço que ela gostava de pôr em seu cabelo às vezes, que por sua vez tinha o seu aroma.
Dois dias haviam se passado e eu era o primeiro da fila de visitantes. LiAh ainda estaria na UTI, mas eu esperava lhe encontrar acordada. O meu coração estava frenético e eu me senti uma criança imperativa novamente com a ansiedade de vê-la.
LiAh ainda estava dormindo, mesmo assim, era como uma divindade. Eu já havia perdido as contas de quantas vezes observei aquela garota dormir, porém, toda vida achava diferentes reações ou expressões que ela tinha durante o sono, só que daquela vez ela estava sem nenhum dos dois. Parecia morta mesmo.
Os aparelhos ao lado do leito apitavam vez ou outra. A decoração do quarto de uma UTI é diferente da emergência. As paredes eram mais limpas e a cadeira - que antes lisa - era acolchoada. Havia um banheiro um pouco afastado, mas era privado ao quarto e claro, minha LiAh estava em uma maca maior.
— Ouvi dizer que conversar com pessoas em coma pode ajudar para que acordem, mas você está em um coma induzido e pode acordar a qualquer momento desde que parem com a medicação. Mas me deixe falar, por favor.
Me sentei na cadeira melhorada após ter aproximado um pouco mais de seu leito. Eu havia substituído a minha roupa por uma própria para aquele ambiente e mesmo sentido medo de passar alguma bactéria ou germe que a pudesse prejudicar, seria mais fácil falar enquanto ela estivesse dormindo.
— Sabe, eu tenho déficit de atenção desde quando era garotinho e nada nessa vida nunca me prendeu tanto a atenção como o seu sorriso, LiAh... Você não precisa me amar agora, só não deixe de ser minha amiga.
Não sabia muito bem o que falar. Esperava que as palavras saíssem facilmente por ela estar dormindo, mas ainda era difícil nomear os meus sentimentos.
Por um segundo, os aparelhos apitaram em constante, afirmando que os batimentos cardíacos haviam mudado de frequência. Como um bom entendedor de nada, me desesperei ao pensar que estava perdendo a minha LiAh. Entretanto, no minuto seguinte acompanhei a volta que suas pálpebras fizeram quando ela abriu seus olhos bem devagar.
LiAh estivera fingido dormir todo o tempo e me pegou falando aquelas coisas vergonhosas bem no momento certo. As suas bochechas - agora pálidas - levantaram e suas covinhas apareceram quando ela sorriu. Parecia ter acabado de ver uma enorme fatia de torta ao me encarar e riu baixinho quando a minha expressão de espanto não suavizou mesmo depois de algum tempo.
— Eu também amo você... Hyuk.
Ela sorriu e eu suspirei. Como aguentei firme depois de sentir tanta falta dela?
LiAh não podia se levantar, tampouco falar normalmente, estava tão fraca que mal ficou acordada durante a minha visita, mas eu sabia que ela havia dado tudo de si para estar viva. Ter passado por tudo o que ela passou era uma vitória e eu estava muito orgulhoso.
Sua mão foi preenchida com a minha e eu segurei como se fosse um bebê recém-nascido. O aparelho em seu dedo indicador que mais se parecia um alicate competia espaço comigo, mas os resultados que apontavam no painel deste sinalizavam os batimentos cardíacos da minha garota.
LiAh finalmente estava curada.
As flores de ameixa desabrocham na primavera e com ela, nasce o meu desejo de cuidar de LiAh por toda a minha vida. Não percebi quando uma estação mudou para a outra, porém, agora eu não estava mais no inverno, nem ela estava mais sozinha. Éramos completamente complementares e mesmo com a quantidade de defeitos que eu tinha, LiAh não se importava.
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WINTER |•| Kwon Hyuk- Dean
Fanfiction"O inverno é a minha estação preferida..." "Pois eu acho o verão muito melhor." Ideia inicial: 22/03/2019 Início da Fanfic: 22/03/2019 Término da Fanfic: 25/03/2019 ©2019.