Frio

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🌒

O vento frio de Busan assoitava meu rosto. A cidade passava por meus olhos, não era mais a mesma. Estava ainda mais decrépita.

—Feche a janela, ou pode ficar resfriado. — Meu pai pede com calma.

Reviro os olhos e volto a encarar a cidade, enquanto paravamos no sinal vermelho. Meus pais se divorciaram quando minha mãe teve um caso com seu empresário e decidiu se mudar para Seul, me levando na mala claro.

Eu me acostumei com a cidade grande e os holofotes,  não é todo mundo que tem uma atriz famosa como mãe.

—Jimin, eu sei que vai ser difícil se acostumar, mas rapidinho você pega o jeito.— Mais uma vez meu pai tenta me confortar.

Não respondo, apenas o encaro. Seus cabelos pretos com alguns fios branco, sua face cansada com todo o tempo no trabalho. 

Meu pai, Weith, antes era chefe em uma delegacia de polícia, a única da cidade. Mas acabou virando patrulheiro graças a sua ótima habilidade de investigação.

—Tudo bem pai, eu já morei aqui se lembra?

—É sim, desculpe. As vezes esqueço o quanto você cresceu. — Ele sorri afetado.

—Não me lembro de ser tão frio aqui.

Aperto o moletom contra meu corpo, meu pai sorri alisando o bigode. Nossa casa ficava quase nos limites da cidade com o bosque. 

Ele para o carro em frente a garagem, a casa não havia mudado. A tintura descascando e o lodo na parte de baixo era notável.

Saio do carro batendo a porta, ajeito minha mochila nas costas enquanto Weith pegava minhas malas. Uma sensação estranha percorre meu corpo, não me lembrava dessa área ser tão silenciosa, não se ouvia pássaros ou passadas de animais por entre as moitas.

Um latido monstruoso vem de dentro da casa, então um cachorro enorme preto salta pela janela disparando em minha direção. Aquilo não era um cachorro,era um rinosseronte pronto para me esmagar.

Dou passos rápidos para trás, desajeitadamente colidindo com o carro.

—MATADOR! — Meu pai grita.

O cachorro para a poucos centímetros de mim rosnando.

— Puta merda, o que é isso? — Solto junto ao ar que estava preso.

— Ele não está acostumado com visitas. Matador, ele é amigo. — Ele fala pro cachorro.

Meu pai acaricia o animal, que se anima. O cão me encara com seus olhos azuis, era bonito e surrealmente assustador!

— Não serei seu amigo nem fodendo. — Sussurro pro cão.

Ele  rosna em resposta, acho que ele também concordava comigo.

Dentro da casa, tudo ainda me era familiar, pego minhas malas subindo degrau por degrau. A porta do meu antigo quarto entra no meu campo de visão. Coloco a mão sobre a maçaneta fria, meu estômago embrulha, e escancaro a porta de uma vez.

Meu quarto não havia mudado muito, a decoração azul pelas paredes havia sido retocada. Odeio azul.

Haviam mobílias novas ali, mas eu não ficaria muito tempo. Jogo as malas na cama, começo a colocar minhas roupas no armário. 

Ajeito os poucos livros na estante onde antes ficavam brinquedos. Tudo em seu devido lugar.

Desço as escadas lentamente para não pisar na monstruosidade que dormia em um dos degraus, que mal o cabia de tão grande.

Moonlight • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora