— Como você lida com o preconceito do seu pai? — a doutora Hernández indaga, anotando algo em seu bloco de notas. Soltei um suspiro alto, exausto por estar naquele lugar.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ — De jeito nenhum, porque eu não me importo.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ — Você está em estado de negação, Omar — ela para de escrever, me encarando. — Os seus pais te colocaram em minhas consultas com o intuito de eu compreender o que você sente, o motivo pelo o qual você está tão "revoltado", essas foram as palavras de seu pai. Me diga, você odeia ele?
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ — Claro que não! — exclamei, quase que com raiva. Soltei outro suspiro. — Apesar das atitudes dele, eu continuo o amando.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ — Você tem alguma noção do que o leva a ter atitudes e ações tão drásticas em relação a você?
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ Neguei com a cabeça, ela realmente achava que eu teria uma resposta pra isso? Dra. Hernández se ajeitou em sua poltrona confortável, ajustando o óculos que insistia em cair na ponta de seu nariz.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ — Ele pensa que está te protegendo do resto do mundo, apesar dos métodos dele parecerem insensatos, é a forma dele de demonstrar o amor que sente por você. Tanto você quanto a sua irmã Nadia, precisam entender que os seus pais cresceram em um ambiente totalmente diferente do de vocês dois, aparentemente, eles não tinham liberdade para quase nada, e se casar cedo tornou-se um mantra para todos os jovens naquela época, de certa forma, desta também.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ — Eu sei que eles tiveram dificuldades! — a minha voz soou vacilante, eu estava destruído, tinha vontade de chorar e gritar para o resto do mundo. Eu não me sentia seguro em minha própria casa, sempre escondendo o que eu sentia, eu estava prestes a sufocar de tanta dor! — Mas eles não podem me forçar a viver de acordo com as regras que tiveram quando jovens. Eles não podem achar mesmoque criar os seus filhos da "maneira certa" deva ser de forma brusca.
