Eric Evans

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Minha vida não poderia estar pior! Fui expulso de casa e estou vagando pelas ruas da cidade de Nova York desde então.

 Fiquei abalado no começo, só que mais pelo choque, já que isso era algo que eu esperava que o meu pai fizesse a qualquer momento. Ele nunca foi presente na minha vida, só me dava o que era necessário para eu sobreviver, nunca tive sua atenção, carinho ou amor de verdade. Sei que isso parece algo horrível, mas nunca me dei ao trabalho de tê-lo como exemplo, tenho meus próprios conceitos, pensamentos e ideais. E quando ele percebeu que eu sou algum tipo de "aberração" por gostar de pessoas do mesmo sexo que o meu, essa era a decisão mais óbvia que ele tomaria, levando em consideração que sempre teve repulsa por homossexuais, e eu apenas me mantinha quieto diante dos comentários maldosos que fazia. Então... é, acho que posso dizer que já estava ciente desse momento, uma hora ou outra a verdade iria aparecer. Mas claro que ainda estou um pouco perturbado por ter sido tão de repente.

Na verdade, acho que essa foi a desculpa perfeita para ele se livrar de mim de uma vez.

 Nunca iria imaginar que em plena manhã de um sábado qualquer, apenas alguns dias depois de eu completar os meus vinte e um anos, meu pai estaria na internet e acabaria vendo a minha conta no Instagram, onde nunca tive nenhum problema com postar fotos minhas com o meu ex, que mesmo ele sempre escondendo o rosto, deixava claro ser um homem. E, obviamente, meu genitor surtou ao me ver em fotos beijando e abraçando carinhosamente outra pessoa do gênero masculino. Ele nem mesmo me deixou falar alguma coisa, apenas começou a gritar, xingar, me jogou para fora da minha cama e me colocou para fora do portão de casa, a força. Deixando claro em seus berros que eu nunca mais deveria aparecer em sua frente, além de também ter jogado minhas roupas e alguns outros dos meus pertences pela janela.

 Não o culpo por ter feito isso e por eu estar onde estou, afinal, ele sempre achou que eu fui o culpado pela morte da minha mãe, que faleceu no parto. Além de que, pelo que me contou desde pequeno, eu não fui planejado, e ele nunca me quis realmente. Foi minha avó paterna que não deixou minha mãe abortar e tudo aconteceu, mas ela; a única pessoa que sempre se importou comigo de verdade, também morreu a quatro anos atrás, e eu já não me lembro mais como é ser amado. Mesmo que eu não pudesse a ver muito, e que meu pai não me deixe ver nem uma foto sequer de como minha mãe era, são perdas que eu já consegui superar, mas ele não.

 Sei que estraguei a vida perfeita que meus pais tinham antes de eu nascer, e agora que já sou maior de idade, talvez seja mesmo a hora de deixá-lo livre de mim, por mais que isso acabe comigo.

 Pode parecer estranho eu estar lidando com essa situação de uma forma tão tranquila, mas a verdade é que eu também me culpo um pouco por ter nascido, por ter trazido apenas desgraça e infelicidade ao meu pai. Ele sempre me deixou claro tudo o que estraguei; seus planos; viagens; trabalhos; sonhos e maior amor de sua vida. Então, talvez, agora ele possa recomeçar, e eu possa seguir meu próprio caminho, por mais difícil que ele seja. Sou o tipo de pessoa que acredita em esperança e em amor ao próximo, mesmo que nem o meu ex-namorado tenha ao menos gostado de mim o bastante para me manter ao seu lado quando as coisas se complicaram. Mas ainda assim acredito que possa melhorar, que tudo isso possa melhorar.

 Meus pés doem, fiquei andando sem rumo desde que fui colocado brutalmente para fora da minha antiga casa, e depois de ter escondido minhas coisas em um beco escuro; por não poder as carregar, fui ignorado pelo cara que já disse me amar, e como não tenho nenhum parente próximo ou amigos para me abrigar, essa foi minha única opção.

 Por mais que considerem minha beleza acima da média; que todos elogiem minha altura; meus lábios grossos; meu cabelo castanho escuro e levemente ondulado com um corte em chanel; meu corpo magro; meus olhos cor de mel e até as roupas simples que escolho para vestir, e que muitos gostem de conversar comigo e me ter por perto pela aparência, nenhum deles se preocupou comigo de verdade, perguntou se eu estava bem ou como estava o meu dia, sempre são conversas fúteis e rápidas. E sei que se pedir ajuda a algum desses colegas, as coisas podem acabar ficando ainda mais complicadas.

 Andei tanto que só agora percebi que acabei parando no Central Park, nem sei a quanto tempo devo estar caminhando por esse lugar enorme, estou em uma parte dele completamente desconhecida por mim. Acho que me distraí demais com esses pensamentos inúteis. Eu deveria estar pensando em algum tipo de abrigo ou algo assim para passar a noite, mas agora, me esqueci até do que estava refletindo a pouco, já que acabo de ver um menino de cabelos loiro frio, feições sutis, um corpo delicado e baixinho, usando roupas que me parecem ser bem caras e de alguma marca famosa, muito bem arrumado com um cardigã perto; blusa branca e calça grafite, sentado em um banco aqui próximo, mas... chorando.

Eu não posso simplesmente passar e o ignorar, deixar ele aqui assim, como se nem tivesse o visto, isso seria muita frieza da minha parte... mesmo que já tenha meus próprios problemas nesse momento.

- Oi... está tudo bem? - pergunto me aproximando.

- Ah... ahn... sim, não foi nada...- ele responde um pouco tímido e tenta disfarçar suas lágrimas, encolhendo ainda mais sua silhueta. Ele parece até uma criança assim, é muito fofo.

- Você está chorando, não pode ter sido nada - digo ao me sentar do seu lado.- Sabe? ... Algumas pessoas dizem que os estranhos são os melhores para poder desabafar. Afinal, é bem provável que a gente nunca mais se veja de novo. E eu prometo não o julgar.

- Sé.sério?

- Claro – dou-lhe um sorriso sutil para o confortar.

- Bom... desculpa. Realmente não foi nada demais, eu só... tinha um encontro agora com uma pessoa importante, e ele ligou cancelando. Mas aí, eu fiquei chateado e ele acabou brigando comigo por isso. Sei que é tolice, mas... estou cansado de ele ser tão frio..

- Ele é... um namorado?

 Perguntei um tanto receoso, ele aprece estar bastante inseguro quando fala, e é um assunto complicado de tratar com pessoas que acaba de conhecer, já que existem opiniões muito opostas sobre a homossexualidade, e não vai ser nada legal se eu acabar falando alguma bobeira.

- É... quase isso.

- Então... desculpa, mas não sou a melhor pessoa para te dar um conselho. Meu primeiro e último relacionamento foi um desastre. Inclusive, acabamos de terminar. Mas... eu posso ficar aqui só te ouvindo desabafar até que se sinta melhor.

- Droga, me desculpa! Eu disse que não era nada demais, eu só fico sensível quando se trata dele. Mas e você? Não está triste? Deveria gostar muito dela.. o.ou dele...

- Na verdade, era um "ele" também, um cara dois anos mais velhos do que eu, que fazia aulas de dança em um estúdio próximo da minha antiga escola. Mas não, está tudo bem, acho que não era para ser. Então não se preocupe, pode continuar desabafando se quiser – digo sincero, e ele passa alguns segundos apenas me olhando.

- Eric... Eric Evans... é o meu nome, prazer - ele fala depois de um tempo.

- Dylan Collins, e o prazer é meu, Eric- respondo sorrindo amigável, feliz por ele se sentir mais confortável e já ter parado de chorar. Só agora percebo que ele tem lindos olhos azuis piscina, e que são serenos.

- Você é muito bonito! Desculpa por falar isso assim, mas é que... só reparei agora. Você é modelo, Dylan?

- Tudo bem, e obrigado! Mas não, eu cursava artes na universidade.

- Cursava?

- Sim, comecei esse ano, mas agora já vou ter que largar, nem pude aprender muita coisa.

- Nossa... eu aqui chorando por causa de uma discussão boba, e você com a vida de cabeça para baixo...

- Não diga isso, seu relacionamento também é importante. E eu só preciso arranjar algum emprego e dinheiro, então tudo vai se resolver.

 Expliquei de forma simples e normal, não deixando transparecer toda minha insegurança, mas ele voltou a me olhar daquele jeito um tanto profundo e curioso.

- De 0 a 10... o quanto você precisa de um emprego? - pergunta diretamente, me pegando de surpresa e ainda me encarando estranho.

- Acho que diria uns 10... – falo rindo um pouco para descontrair.

- E se eu dissesse que posso ter uma proposta para você? Confiaria em mim?

- Bom... depende, você ainda é um estranho para mim. Mas que tipo de trabalho seria? - me interesso, mesmo sabendo que devo ter cuidado ao me relacionar com desconhecidos, mas eu não tenho lá muitas opções no momento.

- Não é bem um trabalho, mas... você já ouviu falarem algo sobre Sugar Baby?

9 Regras Para Ser Um Sugar Baby Gay (Parte 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora