Trust your body

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Minseok olhou entristecido para a porta de madeira rústica à sua frente, depois de bater algumas vezes e não obter nenhuma resposta. Sabia que devia ter enviado uma mensagem antes, mas as palavras pareciam lhe faltar depois de todos aqueles dias. Talvez encará-lo pessoalmente tornasse as coisas mais fáceis. Olhar nos olhos de Jongdae sempre tornava as situações mais fáceis.

Havia ido até a casa do doce obstetra para procurá-lo algum tempo depois de seu último encontro, que não havia terminado da forma que esperava. Mas Minseok também achava que tinha merecido. No fim das contas concluiu que Jongdae estava certo: antes de tentar se relacionar com qualquer pessoa, ele precisava de resoluções. Não apenas com Luhan, mas principalmente consigo mesmo. Jongdae acreditava em si e, com sua intuição afiada, conseguia enxergar muito além de suas atitudes autodestrutivas. E Minseok quis ser melhor. Nunca ninguém o tinha feito se sentir assim antes.

Era o começo do outono, as ruas do litoral não pareciam mais tão abarrotadas de pessoas e a atmosfera em geral era mais pacífica. Aquele era o tipo de clima que combinava com Minseok e o rapaz se sentia mais à vontade para apreciar mais de Incheon, com seus becos estreitos e a brisa gelada do mar a lhe balançar os cabelos suavemente enquanto fazia o caminho de volta até seu carro.

Dessa vez, havia estacionado deliberadamente em frente ao Kokobop Bar. Não era muito bom em se localizar em cidades com pouca sinalização, pois estava acostumado com o exagero de placas em Seul, e se recordava pouco do local desde sua última visita. Portanto, preferiu escolher um ponto de referência que, de forma irônica, se tornou um velho conhecido seu. Reparou que os portões velhos e sujos do bar estavam fechados com correntes e cadeados e a fachada parecia ainda mais decadente do que antes. Havia uma placa anunciando a venda do imóvel, mas o letreiro brega em neon continuava no mesmo lugar, o que era suficiente para lhe ajudar na localização.

Caminhou por entre as vias quase familiares, observando com calma os detalhes do bairro que tinha ignorado por muito tempo enquanto o frequentava. Era uma bela vizinhança, com casinhas pequenas e coloridas como a de Jongdae, e ele jamais havia reparado. Por quanto tempo esteve virado para dentro de si mesmo e de costas para o mundo? Em que momento antes disso ele havia se perdido, ao ponto de um término de um namoro horrível com uma pessoa pior ter lhe deixado sem forças? Tentou encontrar as respostas por um instante, mas depressa empurrou-as para um canto de sua mente. Aquilo não era mais importante. Procurar respostas o tempo todo era viver no passado e ele agora sabia disso. Precisava sentir mais, respirar, ver. Precisava eternizar o hoje.

Finalmente chegou na rua onde estava seu carro, sentindo-se partir de mãos vazias. Tinha quase certeza de ter perdido sua chance com Jongdae e, involuntariamente, procurou o maço de cigarros no bolso dos seus jeans, esquecendo-se momentaneamente que havia parado de fumar. Olhou para os céus, como se esperando que dali viesse alguma inspiração divina, e bufou, bagunçando os cabelos com ansiedade antes de retomar seu caminho.

Foi naquele momento que reparou a existência de uma lojinha cujo letreiro dizia em letras góticas quase ilegíveis "ReVel Tattoo". Sem entender muito bem o porquê, quis entrar. Sempre quis fazer uma tatuagem, mas nunca se permitia essa loucura em específico, talvez porque nada na sua vida fosse constante o suficiente para valer a pena ser mantido em sua pele para sempre. Mas aquela era uma nova fase de sua vida, e ele pensou que valeria a pena deixar registrado para não se esquecer mais. Seria também uma ótima maneira de não perder a viagem até ali. Empolgado, Minseok empurrou a porta estreita de vidro, fazendo soar sobre ela um pequeno sino que anunciava a chegada de mais um cliente. Não havia ninguém na sala principal do estúdio, mas logo ouviu uma gritaria vinda dos fundos da loja.

— SOOYOUNG, TEMOS CLIENTE!

— NÃO POSSO ATENDER, VAI VOCÊ! — gritou de volta uma voz feminina.

Dizzy HeartWhere stories live. Discover now