7 - Caroço

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Ele olhou pro espelho e achou estranha a coloração da própria pele. Ele parecia relativamente amarelado sob a luz fluorescente do seu quarto. A palidez habitual havia dado lugar a uma cor esquisita. Passou a mão no peitoral, especialmente abaixo do pescoço. Sentiu uma protuberância e não resistiu a passar o indicador para sentir a firmeza do caroço. Cutucou com a unha e sentiu que ele se movia embaixo da pele. Apertou, como faria com uma espinha, mas não aconteceu nada além de deixar a pele muito avermelhada. Desistiu e foi dormir, pensando naquilo. Vários dias se passaram e durante todo este tempo, continuou examinando superficialmente o nódulo. Tudo mudou quando aquilo começou a coçar e crescer em largura.

Sua curiosidade crescia à medida que sua pele amarelava. Com um isqueiro esquentou a ponta de uma faca afiada até que essa ficasse extremamente quente e cheia de fuligem. Limpou a fuligem com um pano grosso e se preparou para o choque. Enfiou a ponta lentamente no caroço e fez uma incisão verticalmente. Pus e sangue escorreram e ele fechou os olhos, sentindo a cabeça girar. Algo estava saindo de dentro dele. Dezenas de perninhas agitadas saiam de dentro daquele buraco, nervosas, ansiosas para fugir da ponta de faca incandescente. Aranhas. Filhotes de aranhas. Ele olhou aterrorizado para os próprios olhos no espelho e percebeu as criaturinhas correndo por todo o seu corpo, algumas entrando pelos seus ouvidos e nariz. Querendo voltar para o calor. Seus olhos viraram dentro das próprias órbitas e ele perdeu os sentidos. Ouviu apenas o baque da própria cabeça com o chão duro antes de desacordar completamente.

Historinhas #4Onde histórias criam vida. Descubra agora