Three.

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Toni bateu a porta do carro, encostando-se contra a mesma. Era sexta-feira, pouco mais que meio dia, e por mais que ele quisesse fugir do encontro com Marius e Thomas, não parecia haver escapatória. Faziam quatro dias desde que vira Marco pela última vez, e tudo o que ele viera fazendo nesse meio tempo, era pensar no ruivo.

Sempre fora o tipo de cara que pensava com a cabeça e não com o coração, mas Reus parecia desviar-se e atingi-lo diretamente no peito. Ele era doce e estava tão machucado pela vida, quanto Toni. Kroos queria cuidar dele, tornar sua vida mais fácil — mesmo que isso nunca fosse acontecer de verdade. Por que, mesmo se desistisse de tudo, de todo o plano, que procurasse uma forma de acabar com o trato sem envolver Marco, ele sabia que os comparsas não deixariam barato e, no mínimo, quando percebessem o quanto Reus significava para Toni, contariam tudo para o ruivo e estaria tudo acabado entre eles. O loiro não conseguia achar nenhuma saída, mesmo depois de passar tantas noites em claro, tudo levava à finais horrorosos.

Toni suspirou, acendendo um cigarro. Ele odiava fumar, mas vinha fazendo aquilo com uma frequência absurda. Era uma maneira de acalmar seus pensamentos, de manter suas mãos ocupadas, o que não era um trabalho exatamente fácil.

— Está adiantado, garoto. — ouviu a voz de Marius, antes mesmo que o visse. — Andou aprendendo algumas regras de etiqueta com seu namorado?

Toni respirou fundo, dando um último trago no cigarro antes de descarta-lo. O sol ardia sobre sua cabeça e estava ficando calor demais, mas ele sabia que seria melhor fazer aquilo ali, à vista de todos.

— Ele não é meu namorado e eu nunca me atraso. — retrucou, desencostando-se do carro. Só então teve uma visão completa do rosto dos dois homens, e eles pareciam estranhamente felizes. — Meu tempo ainda não acabou.

— Tem razão. — Sérgio respondeu, parando bem na sua frente. Toni era pouco mais baixo, mas o homem parecia muito maior naquela situação. — Mas achamos que, talvez, você precise ser lembrado de algumas coisas.

Kroos sabia ao que eles se referiam e sabia que tinham razão. Não totalmente, porque ele não conseguia se esquecer do plano, mesmo quando era tudo que queria. Não tinha sido uma escolha fácil entrar para aquele mundo, mas no auge de seus dezessete anos, aqueles mesmos dois homens, eram tudo que o loiro tinha. E ele já havia tentado pular fora antes, mas nunca tivera força de vontade o bastante. Porém, no seu aniversário de vinte e nove anos, Kroos fizera uma promessa à si mesmo e era por isso que se encontrava naquela situação atual.

— Entendemos seu lado, Toni. — Marius assegurou, tocando o ombro de Kroos com uma de suas mãos. Ele era mais velho e centenas de vezes mais inteligente; fora ele, quem incumbira à Kroos aquele roubo e era a palavra dele que tinha sido dada de que, depois de feito, Toni estaria livre. — Ele é bonito, um tipo de beleza que sempre atraiu sua atenção, não é? — um leve afago na bochecha, seguido por dois tapinhas. Kroos apertou o maxilar com força, porque, por mais que as palavras de Marius fossem repletas de conforto, ele sabia que existiam coisas horríveis por trás. — Mas precisa ver as coisas como elas são, garoto. Ele não vai te amar, depois que você tiver terminado.

Toni assentiu, engolindo em seco. Aquelas palavras já existiam em sua cabeça, ele já tinha-as repetido à si mesmo diversas vezes, mas elas nunca tinham tomado forma e agora, com Marius dizendo-as, elas criaram vida própria e assombrariam Toni.

— A família Reus vai dar um jantar essa noite. — Kroos murmurou, desviando seu rosto do afago forjado do homem. — Marco ainda não falou sobre, mas vou dar meu jeito.

— Marco? — Sérgio debochou, sendo ignorado por Marius.

Existia uma diferença vital entre os dois: Marius era o cabeça de tudo e tudo tinha um objetivo para ele. Sérgio apenas seguia a mesma linha de raciocínio e se gabava com o que alcançava, mesmo que fosse pouco. Aquela pequena diferença, era vital e era por isso, que Marius sempre o metera tanto medo.

— Faça com que ele o convide. — o homem respondeu, sorrindo. Não era um pedido. — Nos vemos em breve, garoto.

Toni concordou, vendo-os caminhar para longe. Ele ainda tinha tempo e tempo era tudo para uma pessoa, mas esse mesmo tempo, só o faria se aproximar ainda mais de Marco — sentimentalmente — e isso ele não poderia permitir que acontecesse. Não mais. Precisava erguer um muro em volta de si e torcia para que não fosse tarde demais.

****

— Está muito quieto. — Marco murmurou, enroscando seu corpo esguio entre os braços de Toni. — Qual o problema?

Estavam ali, no quarto que Kroos tinha alugado em um motel barato na cidade, haviam quase duas horas, mas o tempo parecia se arrastar com tranquilidade enquanto a mente de Toni se afogava em pensamentos.

Fora ele quem ligara para Marco, porque, depois de se encontrar com Marius, tudo no qual o loiro conseguia pensar era em Marco Reus. E foram seus pensamentos que o fizeram telefonar para o ruivo e foder com ele naquele quarto, como se toda sua vida dependesse daquilo. E agora, esses mesmos pensamentos que ele não conseguia organizar, se tornavam turvos e confusos, conforme Toni estudava o rosto de Marco. Seria um prazer, ser amado por ele, mas aquele era um dos poucos prazeres dos quais Toni nunca usufruiria.

— Encontrei alguns antigos amigos fora da cidade. — Kroos murmurou, medindo suas palavras. Não precisava mentir, apenas omitir alguns fatos. Não que houvesse necessidade de desabafar com Marco — até porque, ele sabia que não era uma ideia totalmente racional — mas ele não conseguia manter sua boca fechada quando Reus olhava para ele com tanta... expectativa. — Não foi muito amigável.

— São amigos da sua cidade? — Reus ronronou, escondendo o rosto na curva de seu pescoço. — Você não fala muito da sua vida antes de Dortmund.

— Minha vida antes de Dortmund, não é algo do qual valha a pena ouvir sobre. — Toni riu, afagando as costas do ruivo. Quanto menos Marco soubesse, menor seria a intimidade que tinham, menos doloroso seria para ele. Toni raspou a garganta, preparando-se para entrar no assunto que realmente importava. — Quais seus planos para essa noite?

Marco soltou um suspiro audível, remexendo-se na cama.

— Meu pai ofereceu um jantar para seu sócio. — respondeu, rindo sarcasticamente. Aquilo sempre acontecia quando Toni tocava no assunto de sua família: ou ele se desviava ou ria de algo que apenas ele sabia. — Algo entediante, com toda certeza.

Marco não estava mordendo a isca. Talvez Toni devesse ser mais direto: se oferecer discretamente; jogar verde.

— Parece chato. — soprou contra os cabelos do ruivo. — Podemos nos ver depois?

Marco demorou para responder, tirando seu rosto do pescoço de Toni e se apoiando em um dos braços, olhando diretamente para o rosto do loiro. Um sorriso estava entre os lábios do ruivo e ele parecia pensar em algo que não deveria ser cogitado.

— Ou — respondeu, curvando-se para beijar Toni, rapidamente, apenas um selinho. Manteve seu rosto próximo, enquanto prosseguia com suas palavras. — Você poderia vir comigo e tornar a noite mais tolerável.

Marco acreditava que tinha chegado naquela conclusão sozinho e, talvez, ele não precisasse de um empurrão de Toni, mas era exatamente o que tinha acontecido. Seu plano, não era dele e Toni se odiou por aquilo.

— Marco...

— Eu sei, você não gosta dessas coisas. — o ruivo murmurou, roçando seus lábios. Toni não acreditava que pudesse negar algo à ele — não apenas naquele momento, onde tudo tinha partido dele, mas em todos os outros. Marco era mais perigoso do que Kroos supunha. — Mas seria importante para mim e ter você lá, tornaria as coisas mais divertidas.

Agora, Toni riu, sua risada se misturando à de Reus. Ele precisava entrar na casa de Marco, precisava conhecer pessoalmente o que já vira nas plantas, precisava se infiltrar e passar despercebido e precisava de Marco para aquilo.

Se esforçou para manter o sorriso e  ignorou tudo o que começava a se agitar dentro dele. Estava perto, mas nunca estivera tão longe.

— O que devo usar?

O Grande GolpeOnde histórias criam vida. Descubra agora