Recomeços

Capitulo 1 - Chloe

Atrasada, excessivamente atrasada.

Hoje é meu primeiro dia de emprego na OBS, a empresa de advocacia mais famosa que existe nesses tempos. E eu estou ATRASADA !!!

Me levanto da cama e puxo os saltos que estão do lado da minha cama, abro o guarda roupa e lá de dentro retiro a calça preta e blusa social branca com pérolas. Tenho 8 min para se arrumar e tomar café da manhã. Pego cada peça, e as visto, calço os sapatos e vou correndo para o banheiro. Olho para eu mesma e vejo a bagunça que eu me tornei, tão abatida pelo motivo que eu não sei, tenho dó de mim mesma, as olheiras cobrem abaixo dos meus olhos e procuro sob a baderna que está o armarinho do banheiro.

- Achei – pego a base liquida da M.A.C espremo sob minhas mãos e rapidamente passo nas olheiras apenas para dar uma diminuída, dou uma arrumadinha no meu cabelo que está horrível. Escovo os meus dentes e tão rápido quanto flash eu faço um belo de um coque.

Assim que estou pronta, saio correndo para não perder tempo nenhum. Abro a porta de casa para sair e dou uma última olhada apenas para ver se não deixei nada ligado, aliás nem um ferro de passar na roupa eu acabei passando.

Tranco e corro para meu Geely branco.

A OBS é supergrande, não sei nem que setor entrar. Não me falaram nem em que escritório ficar. É horrível se sentir inexperiente. 

A empresa parece que é feita por vidro, a porta de entrada é de vidro e as mesas cada uma delas é de vidro. Assim que eu entrei eu fiquei parada, olhando tudo ao redor, todos que trabalham aqui são grã-finos, homens engravatados, mulheres de salto alto e saia social, eu me senti uma formiguinha toda bagunçada.

Olho para a minha frente e penso que seja a recepção,pois, não há nada que indique que seja, vou andando até a moça de cabelos pretos e cor de porcelana.

-Bom dia, sou Chloe Evans e hoje é meu primeiro dia, trabalhando aqui, e bom... - eu travo, não sai nada da minha boca porque sinceramente eu não sei nem o que falar.

Ela está olhando para mim com uma cara tão de desgosto que a minha vontade é de ir embora.

- Bom, eu vou ser secretaria de um senhor chamado Taylor Scott, teria como me ajudar a achar-se seu respectivo lugar em que trabalha?

Não sei se foi o nome que acabei de falar, mas antes que eu terminasse a palavra Scott a postura desta mulher mudou. Seus olhos se arregalaram, suas mãos que estavam no colo se opuseram a digitar rápido algo no computador.

-Senhorita Evans, pelo visto está atrasada há 15 minutos. O senhor Taylor, está a sua espera no prédio 12, na porta 6. Tenha um bom dia.

Ela me entrega uma chave e um crachá, dou um tchauzinho e falo um obrigado e vou direto para o elevador que está do meu lado. Quando adentro está lotado, aperto no botão O12, que no caso seria o prédio que devo ir.

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Se lá embaixo é lindo, tenha certeza que aqui em cima é mais deslumbrante ainda.

 Assim que saio do elevador avisto a linda passarela que da passagem a vários outros setores tem um tapete da cor nude, a parede está pintada de uma cor marrom bem clarinho, e tem tantas luzes no teto e acima de cada porta.

Em cada porta de madeira está um número estampado na parte de cima, vejo 4, 5 e na porta que eu penso que seja 6, não tem nada. Nem um número, ou identificação. Só a uma descrição escrita "Se não bater antes de entrar, será despedida". Bato umas 5 vezes seguidas, até que uma grossa voz grita:

-ENTRA LOGO E PARE DE BATER !!

Tenho certeza que esse grito pode ser ouvido no 1° andar.

Abrindo a porta e entrando no escritório tipo realeza, tenho que admitir que dessa vez eu não tenho observado as paredes, o chão, a lamparina, os detalhes e nem nada e sim o homem lindo à minha frente. Seu cabelo preto está em perfeito penteado, seu smoking azul claro cai bem em seu corpo musculoso, e seus olhos? Aaah são de um azul tão vivo, sua boca rosada e sua pele bronzeada, eu claramente ficaria horas e horas olhando. Sem cansar. Apenas babando.

- Senhorita Evans, se você não sabe aqui todos seguem uma regra.

Recebida sem um bom dia o seu rosto vira uma carranca para mim e  lentamente me encolho, sentindo um frio na barriga tão grande que chego a ver meu rosto envermelhar-se. 

Não foi ele quem me entrevistou quando vim aqui.

-Que regra senhor... Senhor - o negócio estava tão feio que ate esqueci o nome do meu bendito chefe.

-Senhor Scott, a regra é NÃO CHEGAR ATRASADA, ainda mais com essa roupa... inadequada.

O que tem haver a minha roupa? A minha blusa é social branca e a calça é preta slim fit feminina, estou apenas com uma base e meu cabelo está um coque, o que isso implica em inadequação?.

- Se você não está vendo, estou totalmente adequada para trabalhar em um escritório, e além do mais eu vim para cumprir as minhas obrigações que é ser sua secretária – eu aponto meu dedo na cara dele e continuo falando - não vou vim que nem modelo só porque você quer.

Como eu tirei coragem para falar daquele tom raivoso?

-Senhorita – sua mandíbula trinca e fico com receio se ele vai me despedir, nunca vi uma pessoa com cara tão brava nesses 25 anos.- se você não sabe você foi contratado pelo dono dessa merda de empresa, e tenha mais respeito comigo ou vai ser DESPEDIDA HOJE !!!. Imagina que feio, mal começou a trabalhar e já vai pegar seus documentos para demissão por que se exaltou demais com o DONO DA OBS?

Ele me fita com seus olhos cor do céu e a mandíbula trincada. Seu rosto está numa carranca tão feia, que chego a me sentir uma raiz de abobora, encolhendo até o fundo da terra.

Desde que me conheço por gente, nunca foi de levar desaforo para casa, sempre respeitei os mais velhos quanto os mais novos, mas sempre que alguém vinha com uma falta de educação e nariz empinado eu já ficava muito brava e não percebia minhas palavras saindo da boca. Quando ia percebendo o que eu disse, eu já tinha magoada a pessoa, feito ela chorar.

-Desculpa Senhor Scott. – É difícil engolir o orgulho, a minha vontade de dar na cara dele é grande. – Onde é minha mesa por gentileza.

Ele aponta para a mesa de madeira brilhante do lado da sua. Já não bastava as palavras que não deviam ser ditas quando entrei, agora ser sua vizinha? Lado a lado? Nada separando a não ser uma passagem em demasia pequena no meio. Já entendi porque essa vaga era tão fácil de ser conquistada e o motivo da recepcionista tremer na base. Coloco minha bolsa embaixo da mesa e ligo o computador.

A mesa é tão limpa que consigo ver um resquício do meu reflexo. Preciso pegar meus  adesivos para decorar essa escrivaninha, mesmo que seja limpa e tudo mais para mim ela parece sem vida, e então vamos dar vida a ela.

No momento em que digito minha senha que me deram quando fui contratada, pego os documentos que me deram assim que me contrataram e coloco na mesa, o senhor carrancudo vira para mim. Mesmo que tenha passado alguns minutos da nossa pequena briga ele ainda continua com o rosto endiabrado.

- Eu preciso que você ligue para Diwosvi, ele é delegado presencial daqui. Diga que consegui a resposta que ele aguardava e passe para ele esse código, 203856.

Consinto em resposta e me lembro que não tenho o número deste delegado.

- É senhor, eu não tenho o número desse delegado.

Seus olhos miram na prateleira.

-À sua direita a uma pasta com todos os números de quem trabalha aqui, dos confidenciais e dos meus colegas. – Ele fixa seus olhos nos meus e por um instante eu percebo uma máscara que ele coloca para se fazer de "Homem Sem Coração". -  E tudo o que precisa saber sobre mim, as contas, e-mail, agendas e contatos.

Concordo e vou pesquisar o nome desse delegado, pego a pasta acima da prateleira e vejo que tem 650 folhas.

Vai ser um longo dia.