O dia amanhece nublado e frio, um vento gélido bate no corpo pálido do rapaz que ainda dormia no banco do ponto de ônibus, ele se encolhe trêmulo e acaba acordando com o toque do celular na mochila.
Lírio pisca os olhos cor de ébano algumas vezes tentando se acostumar com a claridade repentina da manhã, se assustando ao perceber que estava em Deliciae, o bairro mais luxuoso do reino, pois é lá que reside a família real. Deliciae era a 3 horas de caminhada da casa do jovem... ele realmente estava sem rumo naquela noite sem lua, e lágrimas já começam a brotar no rosto do jovem, ele coloca os pés no chão e solta em gemido dolorido, sua voz estava rouca e suas roupas ainda estavam húmidas, seu pé doía como o inferno, assim como seu estômago.
O celular toca novamente e Lírio atende no impulso
- alô? Joh joh, me ajuda... eu sei que não atendi... é... eu estou Deliciae em um ponto de ônibus... é... e o que você queria que eu fizesse?... como Joseph? - o rapaz olha para o próprio pé que ainda estava enfaixado, ele fulgava e soluçava, sua voz era chorosa e quase inaudível - um pouco joh joh... não... só me leva para o hospital depois... não... calma... só não demora por favor... eu também... também amo você.
O menino desliga encarando a mochila a prova d'água, um nó se formou em sua garganta e no seu íntimo ele queria que tudo aquilo não passasse de um pesadelo, ele sentia tanta culpa, tanto remorso, ele tinha nojo de si mesmo.
Lírio apoia o rosto nas mãos e chora alto e abafado, Pôr que caralhos tinha que ser assim? Nao podia ter nascido normal? É tão errado assim amar alguém do mesmo sexo? É tão errado assim pintar as unhas e usar maquiagem? Afinal... é tão errado assim ser quem ele era?.
O garoto sente dois tapinhas no ombro e olha assustado para cima, ele vê o idoso da noite passa com um sorriso no rosto, um olhar de dó e dois copinhos de café
- é bom ver que você não morreu de pneumonia guri - Edgar diz se sentando e entregando a bebida quente para o rapaz, que se quer lembrava do idoso tão simpático que lhe fez companhia a noite
- achei que você não tinha dinheiro - Lírio diz limpando o nariz no ante braço e observa a cara de nojo do senhor ao seu lado, ele pega o copinho de café e bebe um bom gole, quase queimando a língua com o ato, mas ele realmente precisava daquele café, que aqueceu na mesma hora seu corpo
- 1 moeda 2 cafés, é a minha forma de agradecer a bolacha de ontem - o idoso também bebe o líquido e suspira cansado - então guri, o que vai fazer hoje?
Lírio já tinha se acalmado um pouco mas ainda era possível ver o choro recente
- já liguei para o meu amigo, ele já vem me buscar
- se você tinha um bom amigo e um celular, por quê não ligou ontem?
- eu falei que ele estava no sul, ele chegou agora, e o senhor, não vai procurar sua neta?
- sim, mas acho que essa pessoa esta mais perto do que ia tinha esperanças
- que bom vovô, se o senhor não achar ela, ou precisar de algo, eu não estou com condições de ajudar muito, mas posso ajudar um pouco - o menino tira uma caneta da mochila e anota o telefone em um panfleto de faculdade que estava próximo ao objeto
- obrigada guri, é difícil achar pessoas como você por ai
- para um vovô você é bem legal
- bem, em todo caso, sei onde te achar, é bem irônico seu nome ser Lírio e você trabalhar em uma floricultura
- o nome da floricultura foi escolhido a dedo, é pequena e mal da lucro, mas pelo menos é minha, esse meio lote foi a única coisa que minha avó deixou pra mim, tenho ela a 2 anos
- o jardim real é um belo lugar, boa escolha de nome lírio, quem sabe um dia eu não te plante la
- é o que? - o jovem ouve um som de uma buzina e vê Joseph saindo do carro com presa, o coração de lírio bateu tão forte naquela hora, amava aquele japonês como sua vida, foram três anos de namoro, um ano morando junto, desde os 14 anos que o asiático tirava suspiros apaixonados do mais novo. Lírio vê seu ex chegando perto de forma rápida, e não deixou de admirar o homem de 20 anos, o corpo alto e levemente musculoso, a pele branquinha como neve, e os olhos tão puxados e escuros, o cabelo liso ate os ombros, "um samurai no século 21".
- Lírio, mas que droga aconteceu? Vem eu vou te levar no hospital - o japonês olha para lírio desesperado e percebe o velho ao seu lado - vamos lírio
- bom dia para você também moço - Edgar diz fingindo tirar o chapéu
- oi - o rapaz diz serio se aproximando de lírio - você machucou o pé não é, vem... - o mais novo concorda com a cabeça e não deixa de se sentir uma princesa quando o amado o pegou no colo
- espera joh joh, Hey.. muito obrigada Edgar, por tudo, espero que ache quem procura, e você sabe onde me achar- lírio diz sorrindo e Joseph olha desconfiado para o idoso
- não se preocupe guri, ainda vamos nos ver, e você ainda vai me ajudar a...
- lírio, é melhor a gente ir, toma aqui senhor, um dinheiro para você comer... eu espero que o senhor realmente use pra comer - Joseph tira de forma rápida a carteira do bolso da calça, o lado bom era que Lírio era bem magro e baixo, então o segurar com um braço era fácil
- poupe o seu dinheiro, não te pedi nada e você não é quem eu procuro, lírio falou tão bem de você rapaz, pobre flor inocente e iludida em um Jardim cheio de espinhos, lírio meu filho, eu sei bem onde te achar, te vejo em alguns dias- o idoso sai andando de forma calma deixando para trás lírio rubro de vergonha e Joseph embasbacado.
O asiático leva lírio até o carro, o colocando no banco da frente, Joseph da a volta e se senta no banco do motorista
- vamos para o hospital, ta com fome? - o mais velho pergunta e o jovem ferido apenas acena positivamente com a cabeça baixa - tem barrinha de cereal no porta luvas, pega ai
Lírio pega uma barrinha aleatória e come sem presa, estava com alguém de confiança, com alguém que amava, mas i daí? Iria para onde agora? Ele não tinha mais casa, não tinha muito dinheiro, se fizesse muito drama poderia ficar internado no hospital, mas por quanto tempo? Lírio estava tão perdido quanto na noite passada, mas agora que a realidade lhe batia com força no rosto, nem a família o quis, quem o iria querer?
- LÍRIO, estou falando com você - Joseph grita ao perceber que o ex namorado não ouvia uma palavra só dita
- que?
- agora me explica com calma, o que houve
Lírio respira fundo, e olha a estrada como se visse nela a resposta, como se tirasse coragem do ar para relembrar a maldita ocasião
- lembra quando a gente foi para aquele parque aquático?
- sim, mas o que tem haver?
- lembra da cabine de fotos?
- claro que lembro, foi um dia bem bacana
- sim, a gente tirou fotos aquele dia, e eu aguardei elas
Joseph olha surpreso para o jovem baixo encolhido no banco ao seu lado
- quando a gente terminou você disse que tinha jogado fora
- eu menti joh, é claro que eu menti, eu... ainda amava você
- não ama mais? - o asiático encara o rapaz mais baixo, e ele realmente queria saber a resposta.
Lírio fica em silêncio observando a rua a sua frente, os carros indo e vindo, alguns sons de buzinas e no fundo, o rádio do próprio carro
*Segundo a Polícia real, os ataques foram leves e de surpresa, 12 terroristas de Lazuli foram presos na fronteira, a corte em nota disse que não a o que temer, pois a região de Opala pertence unicamente a Ônix*
- meus pais... eles viram as fotos, ai ficaram loucos, eu cheguei da escola e eles estavam la, meu pai puto com as fotos nas mãos, minha mãe estava chorando e meus irmãos só observando
Lírio chora baixinho lembrando da cenas que viveu - la também estavam as minhas fotos montado, meu pai... ele deu na minha cara Joseph, falou que não criou filho viado nem filho travesti, ai... ai ele me mandou sair, minha mãe... só falava de como ia explicar isso aos vizinhos Joseph, como os irmãos da igreja iam reagir ao saber do filho... do filho boiola... ai... ai eu sai..., e fui, agora... agora não tenho para onde ir
O garoto chorava alto e soluçava a cada frase dita, seu peito descia e subia de forma rápida enquanto o mesmo socava a própria coxa grossa com força. Joseph vê o desespero do garoto que tremia ao seu lado, ela tira uma mão do volante e segura na mão do garoto que ainda se machucava
- hey, calma, calma, você fica la em casa
- não
- vivemos la um ano, la também é sua casa
- não é não, você tem sua vida, eu vou pensar em algo
- não tem "algo" lírio, fica la até achar um jeito, eu... eu gosto muito de vc ainda pequeno
Lírio olha para Joseph com os olhos negros quase fechados pelo choro, e no impulso abraça o ex namorado.
Depois de algumas horas no hospital, lírio é atendido, por sorte, foi apenas um corte, o possibilitando de andar por uma semana. Eles almoçam em uma lanchonete próxima e decidem muito a contra gosto do mais novo pegar o básico na nova casa antiga de lírio,o que chegando la, lhe foi negado pelo velho pai furioso, dizendo que tudo que tinha na casa pertencia a ele, e que o filho viadinho e seu namorado de merda que fossem para o inferno, lírio não ousou sair do carro, ficou no carro ouvindo as ofensas em silêncio enquanto seu ex amante e atual Salvador virava as cotas para o velho, eles chegam no apartamento, um local bonito e arrumado, não era muito grande, mas era o suficiente, Joseph ajuda lírio a entrar, visto que seu pé cheio de curativos não podia tocar no chão, um silêncio frio tomou o apartamento ao mesmo momento que uma sensação nostálgica invadiu o peito do mais baixo. De forma muda de ambas as partes, ambos tomaram banho, o oriental ajudou o mais novo, que nem se incomodou em ter o ex o ajudando naquela hora tão íntima, após isso. uma pizza foi pedida em comida em silêncio, nada intimidador ou sem jeito, e ao dividirem a mesma cama como faziam a uns meses atrás, lírio une seu dedo mindinho ao do ex amado, em um pedido mudo de agradecimento, e o mais velho apenas suspira alto, também segurando o mindinho do menor, em uma resposta muda de estarem juntos novamente.
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o Jardim real
عاطفيةVivemos todos em um grande e cruel Jardim, ao nosso lado, flores tão perfumadas exalam um perfume mortal, e ao cair da noite, até a mais bela rosa mostra seus espinhos. Mas, e se você fosse uma erva daninha entre as mais belas flores? Um jovem ao se...