Capítulo 02 - A Corrida de Cem Mil Dólares

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Cleveland, Texas, 2006

Uma semana... Em outras palavras, eu não tinha mais um mês. Agora tinha exatos 21 dias pra conseguir cem mil dólares!

Sete dias foi o tempo que eu perdi em busca de um emprego até me convencer de que isso era um caso perdido. Em primeiro lugar porque nenhum emprego razoável pagaria uma quantia tão alta ainda mais a uma pessoa recém-formada e em segundo, mesmo que eu conseguisse um trabalho teria que esperar até o fim do mês para receber e eu não dispunha de tempo para isso.

Descartada a ideia do emprego, passei a buscar por empréstimos, mas como esperar que um banco aceitasse fazer negócio com uma jovem de 24 anos desempregada e sem residência fixa? Era sonhar muito alto... extremamente alto!

Voltei pra casa sentindo mais uma vez o peso do fracasso. Era horrível a sensação de decepção que me acometia a cada pôr do sol. Isso significava que a ampulheta da vida de vovó perdia mais um pouco de areia e consequentemente a afastava ainda mais de mim... Não... eu não podia deixar isso acontecer! Só restamos nós duas e antes que vovô morresse eu jurei pra ele que tomaria conta dela e era isso que eu faria!

Decidida, marchei em direção ao escritório de vovô. Como eu não pensei nisso antes? É claro que eu não encontraria cem mil dólares lá, mas talvez algumas coisas que pudesse vender. Se vovó estivesse bem jamais permitiria que eu fizesse uma coisa dessas, mas é como dizem, situações desesperadas exigem medidas desesperadas.

- Vamos lá vovô me ajude!

Desde que meu avô morreu, há quase dois anos, vovó evitava a todo o custo aquele lugar. Era como se assim pudesse manter a memória dele intocada. Ela gostava de pensar que se as coisas permanecessem intocadas ela se sentiria mais próxima ao vovô, como se ele apenas tivesse passado o dia fora de casa. Era triste, mas não deixava de ser algo bonito. Quem sabe algum dia eu tivesse a mesma sorte em encontrar um amor pra vida toda.

- Vai Olivia, não se desconcentra, tem que ter alguma coisa!

E realmente tinha. Um relógio de bolso, uma caderneta de telefones, uma coleção de chaveiros e uma caneta do meu bisavô. Realmente eles tinham valor, mas nesse caso, era muito mais um valor sentimental do que monetário. Talvez um colecionador até pagasse algo a mais pela caneta, mas perto do que eu precisava, isso não era nada.

Fechei os olhos me sentindo extremamente cansada. Fazia uma semana que não dormia direito, sempre em busca de dinheiro e mais dinheiro. Eu não podia fraquejar, mas até o momento, era exatamente isso que estava acontecendo.

"A sabedoria é o maior dos tesouros Liv. Nunca duvide disso."

Essa era a frase favorita dele. Me lembro do dia em que a ouvi pela primeira vez, quando tinha seis anos e costumava passar muitas horas sentada no seu colo ali naquele mesmo escritório. Eu sempre olhava encantada pra aquela imensidão de livros na estante e jurava que um dia leria todos quando soubesse ler. Vovô sempre ria e acabávamos por ficar a tarde inteira ali com ele lendo alguma história pra mim.

Me aproximei da estante e toquei com a ponta dos dedos aqueles livros que fizeram parte da minha infância. Estar ali agora, era como estar mais próxima do meu avô.

Puxei um livro da terceira prateleira com a capa cinza e o título em dourado escritas em relevo. Era estranho, mas não me lembro desse livro e isso que meu avô não mudava a ordem de nada. No mínimo ele havia comprado um pouco antes de falecer.

Abri na primeira página e um papel caiu no chão. Era uma carta do meu bisavô para o filho! Me sentei na poltrona preferida de vovô embaixo da janela, um lugar especial pra ler um verdadeiro tesouro.

Splendora, Texas – Maio de 1942

Querido John,

Pensei que voltaria no fim do mês. Infelizmente as coisas estão demorando mais do que eu imaginava.

A escritura do terreno parece ter sumido do mapa. O infeliz do Trevine foi esperto o suficiente para não deixar rastros! Tomou nossas terras, colocou a casa abaixo e por último expulsou os colonos. Tudo isso para que não conseguíssemos reaver o que é nosso por direito.

Mas não se preocupe, as coisas estão prestes a mudar. Conheci uma pessoa que pode ajudar. Pela nossa segurança não posso dar nomes, mas é alguém de confiança daquele miserável do Trevine. Temos certeza que em algum lugar daquela casa ele deve manter a escritura original.

Espero voltar para casa no próximo mês. Diga a Margareth que está tudo bem e que acredito que voltarei em breve. Não deixe sua mãe fazer esforço demais. Diga que eu a amo e levarei um lindo presente para ela.

Com amor,

Seu pai,

Joseph

Mas ele nunca chegou em casa. Meu bisavô havia falecido em um acidente na estrada quando voltava para Cleveland. Vovô me contou que uma charrete desgovernada havia jogado o pai dele para o abismo.

Por alguns instantes pensei se aquele acidente tinha algo haver com o que estava escrito naquela carta. Talvez meu bisavô houvesse descoberto algo importante e...não, não, não! Melhor nem pensar nisso, com certeza havia sido uma coincidência.

Em todo caso ali poderia estar a saída dos meus problemas. Se de fato houvesse um terreno em nome dos Millians, eu poderia usá-lo para pagar as despesas de vovó... Não, apesar de ser uma ótima ideia, eu tinha menos de um mês pra conseguir vendê-lo, pra isso era pouco tempo.

Mas quem sabe... O tempo pra ligar o computador pareceu uma eternidade. Minha cabeça fervilhava. Eu não fazia ideia de onde eram as terras que falava naquela carta. O envelope não estava junto, portanto era só tinha o nome da cidade e...

Digitei o mais rápido que os meus dedos permitiram: SPLENDORA TREVINE.

Não precisei nem ao menos trocar de página. O primeiro link era de uma empresa chamada TREVINE CORPORATIONS dona de inúmeros negócios como vinhedos, hotéis, revistas e alguns outros menores, todos ligados ao turismo, cuja a sede ficava aqui mesmo em Cleveland, porém possuía uma filial em Splendora e o presidente se chamava Leo Trevine.

Estranhamente não havia fotos dele no site da empresa, mas eu precisava descobrir quem ele era, afinal ele era um Trevine não? Interessada naquele sobrenome fiz uma nova pesquisa com o nome do presidente e então perdi o ar...

Leonard William Trevine tinha 34 anos, era neto de Wilson Reynard Trevine e atual presidente da Trevine Corporations. Mas isso eu já sabia. O que me deixou impressionada ao ponto de perder o ar foi a aparência dele. Moreno, olhos verdes e lábios desenhados. Parecia um deus grego, mas o que realmente mexeu comigo foi o seu olhar, ele parecia enxergar a minha alma! E aquele sorriso misterioso... me instigava saber quem ele realmente era.

Durante a próxima hora, me dediquei inteiramente a saber mais sobre os Trevine. Era um nome poderoso, respeitado no mundo dos negócios. Descobri então que embora Leo Trevine fosse o presidente da empresa, permanecia a maior parte do tempo em Splendora cuidando dos vinhedos e dos negócios locais. Seu meio irmão William Simmons Trevine era o seu braço direito e responsável por coordenar a sede. Ele também era muito bonito, mas diferente do irmão era loiro de olhos azuis. Não sei porque, mas não me causou o mesmo impacto que o Trevine mais velho.

A medida que descobria mais coisas, me dei conta de que não havia muita opção. De um jeito ou de outro precisava me aproximar deles. Se existia alguma possibilidade de conseguir cem mil dólares em menos de um mês, seria através dos Trevine. Eu ainda não tinha claro como as coisas aconteceriam, mais tinha uma certeza: o tempo continuava correndo, a vida da minha avó dependia disso e eu não voltaria pra casa sem os cem mil dólares.

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Será que ela volta pra casa com cem mil dólares ou com um marido?!

Mentiras de CristalWhere stories live. Discover now