18. Borboletas

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ANA CAROLINA

— Ana, se você encarar mais um pouco o menino, eu tenho quase certeza que ele vai explodir — Nico avisou parando ao lado da mulher.

Era sexta-feira e os dois estavam na cozinha fingindo que não estavam espionando Lívia e Tito no sofá. Benito estava sentado na poltrona e encarava o casal com uma cara fechada que daria medo, enquanto Helena sorria e mostrava aleatoriedades da internet para Tito.

— Acho que o Benito já vai fazer o Antônio explodir só com o poder da mente — Ana comentou observando a interação de todos na sala.

— Deixa eles lá, Benito já está fazendo o papel de chato. Você poderia sorrir mais para o Tito e também parar de chamá-lo de Antônio — Nicolas falou cruzando os braços e entrando na frente da mulher para tampar a visão dela.

— Antônio é o nome dele — Ana contestou ficando na ponta dos pés para enxergar por cima da cabeça do amigo.

— Ana, sério, está patético — Nicolas riu e puxou a mulher pela cintura para que ela ficasse de costas para a sala. — Vou falar uma coisa importante e espero que você mude um pouco a sua visão sobre o Tito.

A mulher cruzou os braços e bufou impaciente. Sabia que estava sendo exagerada, mas Lívia era sua responsabilidade. Precisava ter certeza que Tito não era um "garoto problema".

Sinceramente, esse tipo de bad boy só era interessante nos livros, na vida real eles dão muita dor de cabeça e não são especialistas em relacionamentos saudáveis.

— Você lembra que no começo do ano letivo houve um caso de bullying na escola? — Nicolas perguntou sério. — Era um caso de não somente bullying, mas de homofobia.

— Eu sei, o garoto novo que chegou no segundo ano — Ana lembrava-se do caso. O menino era novato, o que já dificultava sua adaptação, mas ele também era gay. Foi absurda a forma como os colegas de sala recepcionaram o garoto, inclusive havendo ameaças. Todos só sabiam que havia sido feita uma denúncia anônima. Dois garotos foram suspensos do colégio pela incitação à violência e depois todos receberam aulas extras sobre diversidade e respeito às diferenças.

— Então, o menino tinha medo de denunciar e não queria citar nomes. Achava que iria conseguir segurar a barra sozinho, mas um dia eu estava na coordenação e Tito entrou na minha sala. Ele havia gravado as ameaças dos meninos e me mostrou o vídeo. Tito fez a denúncia anônima, e não só fez a denúncia, como ele também ajudou o menino a se adaptar, tanto é que o garoto entrou no time do vôlei da cidade e anda junto com todos os amigos do Tito.

Ana deixou a boca aberta. Tito parecia ser exatamente o oposto de tudo aquilo. Poderia apostar que o garoto era alguém que teria as atitudes homofóbicas e não alguém que as denunciaria.

— Eu disse pra você, Tito não é um gênio na escola, mas é um bom garoto. Acredito que Lívia está em um relacionamento saudável.

Ana sorriu e sentou-se sobre a bancada de mármore da cozinha.

— Meus bebês estão crescendo — ela falou fazendo um bico e Nicolas riu baixo ficando de frente com ela.

— Eles não são bebês há algum tempo...

— Você entendeu!

— Ok, agora que Lívia está namorando oficialmente e você percebeu que o tempo passou muito rápido, quando vai começar a sair com os homens não perfeitos desse mundo? — Nico perguntou sentando-se na bancada ao lado dela.

— Teoricamente, eu já saí — Ana disse baixo e sentindo o rosto ficar vermelho.

— Isso é sério? — Nicolas perguntou surpreso encarando a amiga. — Quando foi isso?

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