2 -A MENINA DE CABELO AZUL

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Era um vez uma menina de cabelo azul. Seu nome era Viviana.

Morava numa casa grande, cercada de árvores, no meio de uma chácara. Na casa eram só ela, a mãe, o pai, a avó e a babá.

O pai tinha cabelo louro. A babá, cabelo preto. O coque da avó era branco. E a mãe cada dia tinha o cabelo de uma cor. Pintava de preto, depois de louro claríssimo, daí de amarelo dourado, depois ruivo bem vernelho. No meio de tanta cor, Viviana achava normal ter cabelo azul.

Todas as tardes, Babá lavava e penteava aquele lindo cabelo, que descia cacheado até a cintura. E, enquanto passava o pente do alto da cabeça até as pontas molhadas, gostava de contar a história do dia em que Viviana tinha nascido.

Foi um dia muito estranho.

Desde cedo, fazia um ar de tempestade. As nuvens, cada vez mais escuras, ficaram rondando a chácara. Iam até as montanhas, chamavam outras e voltavam zangadas, resmungando. O vento passava uivando pelas janelas. As árvores, nervosas, protestavam, sacudindo os ramos. As folhas do chão corriam de um lado para outro, atê se amontoar em volta da casa.

Quando chegou de noite, ninguém conseguiu dormir, com a barulhada lá fora. No meio da ventania, ruídos esquisitos, passinhos e vozes cochichadas. Os grilos assobiavam altíssimo e a saparia gritava excitada. Babá, com medo, ouvia os cochichos e os passos em volta da casa, e ia espiar pela vidraça. Não via nada. Era só virar as costas, e escutava risadinhas, sentia uma porção de olhos reparando nela.

Bem tarde, o pai teve de sair para buscar a parteira. Mal chegaram, entraram no quarto. Daí a pouco, um choro forte veio lá de dentro. Babá bateu na porta. Abriram. Lá estava ela: na mão da parteira, um bebezinho com a cabeça coberta de penugem azul. A mulher e o pai olhavam, divertidos e maravilhados, aquele bebê tão diferente e tão lindo. A avó ajeitava a cama, onde a mãe, deitada, sorrindo, o cabelo vermelho espalhado na fronha branca, parecia sonhar, de tanta felicidade.

Mas Babá foi depressa fechar a janela. Bem naquele instante, uma trovoada estourou. As nuvens gordas se abriram, despejando água no mundo. O vento batia nas vidraças. Um relâmpago enorme iluminou a chácara. Olhando lá em baixo, Babá viu, no meio das moitas e das folhas secas, milhares de olhinhos espiando a casa.

A Menina de Cabelo AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora