- [0] ; Prólogo

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Um, dois, três, sete riscos a mais feitos na folha (antes lisa) do caderno de Liam Payne. Feitos não porquê faziam parte de algo relacionado a matéria sendo passada, mas sim pelo tédio esmagador que tomava conta do corpo do garoto naquele momento.

Amélia, sua professora de artes, escrevia no quadro algo sobre a Arte Contemporânea, o que na visão de Liam, era um completo lixo.

Enquanto nas eras antigas a Arte Renascentista era vista como gloriosa em todas as suas áreas, com sua arquitetura estética e bem trabalhada, suas esculturas perfeitas e suas pinturas que se utilizavam da mais profunda perspectiva, a Arte Moderna se resumia e riscos de cores monótonas de tinta sendo feitos em telas brancas, e só.

Pessoas pagam milhões para possuírem quadros vazios e sem sentimentos, apenas porque algum pintor atualmente famoso mergulhou seu pincel em uma lata de tinta vermelha e o esfregou no máximo dez vezes sobre a tela, criando riscos ralos, mal direcionados e sem precisão.

Nada é pior que a Arte Moderna. 

Depois de mais treze riscos coloridos e um par de olhos nas anotações de Liam, Amélia começou a falar.

"Enfim turma, espero que vocês já saibam da nossa visita ao Museu Internacional da Arte na semana que vem." E Liam levantou seus olhos entediados para a mulher baixa de meia idade, alarmado. "Faz parte do conteúdo didático e conta como ao menos metade da nota bimestral. Iremos ver as maravilhas da Arte e depois vocês me entregarão relatórios sobre seu tipo favorito de arte e sua época."

As palavras "museu", "relatórios" e "nota bimestral" faziam a cabeça de Liam quase explodir em tédio, arte nunca foi sua matéria favorita de qualquer forma.

Se amaldiçoou mentalmente por ter se esquecido dessa maldita viagem da escola, todos pareciam extremamente animados, falando disso como se fosse o grande evento do ano, falavam sobre o entediante Museu Internacional da Arte desde que o colégio anunciou uma visita, no começo do ano letivo.

"As autorizações já foram enviadas ao seus responsáveis legais, algumas já foram até entregues." Amélie continuou. "Mas peço para que quem ainda não entregou, até amanhã, a ficha deverá estar na mesa do diretor, assinada."

E Liam queria morrer. Já não bastava ter que ficar naquela sala relativamente pequena, preso com outros trinta jovens, entediado ouvindo sobre como quadros ridiculamente mal feitos da Era Moderna eram vendidos por mais dinheiro que ele teria em toda a sua vida, com seus únicos dois amigos que agora já não o davam tanta atenção assim (desde que se assumiram como um casal grudento que não conseguiam manter as mãos longe um do outro), agora também teria que visitar um lugar chato, cheio dos quadros que ele odiava, ainda preso aos trinta jovens desinteressantes e que igual a ele, não davam a mínima para arte. Ótimo.

Conhecendo sua mãe como ele conhecia, Karen já devia ter sido a primeira mãe a entregar sua autorização, animada demais para os possíveis conhecimentos artísticos que seu pequeno Liam poderia adquirir. Revirou os olhos.

"Já podem me entregar o relatório dessa aula e estão dispensados."

Assim que a voz da professora ecoou pela sala, um ruído de jovens arrastando suas cadeiras se misturou com os outros, puxando as folhas de seus cadernos rapidamente, no desespero para saírem logo daquela sala que irradiava sono e um tédio esmagador.

Liam foi um deles, se levantando -vagarosamente- e puxando sua folha rabiscada, a deixando em cima da mesa de Amélie.

"Liam Payne." Ouviu, assim que um de seus pés tocou o lado de fora da sala. Se virou, olhando sua professora,  propositalmente com todo o tédio que sentia vazando sob cada ponto de sua expressão. "O que significa isso?" Ela ergue sua folha completamente sem sentido, onde os riscos coloridos em azul preto e vermelho tomavam conta da folha, e acima deles, um par de olhos mal feito e simples.

Liam sorriu com deboche.

"Arte Contemporânea."

the night is reborn - [ZM]Onde histórias criam vida. Descubra agora