o que você fez comigo

cinco

queria ter sido o suficiente para você, mas eu sabia que estávamos condenados quando você me negava um beijo mesmo depois de dizer que me amava
a tragédia estava acontecendo diante dos meus olhos e eu me recusava a acreditar que terminaríamos nisso. neguei o máximo que podia.
e tentei.

usei todos os recursos que tinha pra nos manter vivos, mas não foi suficiente. mantive meu desejo escancarado assim como minhas pernas para que você pudesse se acomodar entre elas. fiz a minha boca o local mais quente para você pousar a sua língua e fiz dela um santuário que a noite rezava teu nome.
e as vezes também gritava.
ensaiei discursos de frente pro espelho. enumerei quantas coisas passaram a crescer dentro de mim por causa de você. me escrevi sobre todas as linhas  e recitei os mais diversos poemas. mesmo assim eu não fui suficiente.

eu estava remando contra a maré. eu sabia disso. mesmo que eu poupasse todo meu fôlego pra continuar navegando no mar que éramos nós ainda assim continuávamos afundando.
tentei nos salvar de um naufrágio, mas só quando morri tentando respirar por nós dois me dei conta de que você se quer tentou respirar por você.
eu havia usado meu corpo, minhas palavras e minhas forças.
e mesmo que as vezes você duvidasse eu te dei todo o meu amor também. mas não te bastava nem todo meu amor, nem toda minha devoção e nem todo meu discurso eu ainda não era o suficiente.

eu sabia que a tragédia estava acontecendo diante dos meus olhos. eu vi nosso amor morrendo de forma diferente de quando floresceu. foi rápido e bruto.
mas foi a minha morte que me estremeceu. porque se um dia eu tinha sido plantada e florescido por causa de você hoje eu estava morrendo também pelas suas mãos.
e isso era triste. porque eu não havia nem ao menos virado botão quando você me cortou pela raiz.

foi rápido e bruto.
assim como todas as palavras que você atirou em cima de mim quando finalmente confessou que o meu amor não era mais interessante. nem minha boca, nem minha a língua, nem as minhas palavras. tuas palavras eram a munição da arma que você puxaria o gatilho.
e você continuou fazendo. você continuou carregando com sua indiferença e sua bondade mascarada.
e então você puxou o gatilho.


e matou nós dois.


- posso não ter sido a melhor poesia que você leu, mas com certeza eu vou ser a única você não vai esquecer.