Motivos

Capítulo 7 - Motivos

David vai até o quarto de Lola e bate na porta, a voz dela soa baixinha e abafada.

– Lola!?

– O que é?

– Por que a porta tá trancada?

– Porque eu quero.

– Abre, preciso perguntar umas coisas.

– Pergunta daí.

– Lola abre logo, mãe me colocou de castigo e não posso ficar aqui fora muito tempo.

Lola então faz um breve silencio e abre a porta em seguida.

– Você ficou de castigo por causa de ontem. Eu disse para não ir.

– Porra Lola custava ficar por perto?

– David foi isso que você veio saber? Vai caçar o que fazer. Lola então tenta fechar a porta mas David a segura com o pé.

– Garoto você tá me irritando.

– Você sabe que aconteceu com o vovô Lola? David estava com medo de receber a noticia de que seu Joseph havia falecido.

Ele então entra no quarto de Lola que está mais bagunçado que nunca. Resto de comida em cima das comodas, roupa jogada no tapete e a porta do guarda roupa estranhamente semi aberta. Ele passa e se senta na cama da irmã, que fica em pé de braços cruzados.

– Não. Não sei o que aconteceu, e também tô preocupada. Mais cedo ligaram dizendo que ele não estava mais respondendo aos medicamentos e pediram pra alguém ir lá.

– E aí?

– O pai foi e a mãe ficou em casa esperando noticia. Quando o telefone tocou de novo foi a mãe da sua amiga avisando que você estava lá e pedindo pra alguém ir te buscar.

David franze a sobrancelha.

– Sim Lola... e daí?

– Daí que ela bateu o telefone com tanta raiva que quebrou e agora só eles dois sabem o que aconteceu. Como ainda não falei com eles hoje tô por fora.

Lola então se vira pro guarda roupas e diz:

– Tá bom Rafa, pode sair.

David então viu um rapaz apenas de bermuda, com traços orientais saindo de dentro do guarda roupas da sua irmã. Lola admirava a Ásia e tudo que vem de lá muito antes disso tornar-se febre. David não compreendendo a aleatoriedade da situação, então, olha novamente pra Lola e diz:

– Garota!? Quem é ele? COMO ASSIM?

– David não surta. Trouxe ele quando não tinha ninguém mais cedo lá em baixo.

– Fala guri. Disse Rafa a David, colocando os sapatos novamente no pé.

– Se a mãe souber que você troux...

Lola interrompe David, enchendo um copo até a metade com refrigerante e o pergunta:

– David, como está esse copo?

– Meio vazio. o que isso tem a ver com a situação?

– Pois é. Pra mim ele está meio cheio. Essa é a nossa diferença. Você é um poço de drama igual a nossa mãe.

– Tá Lola, tá bom, esqueça. Eu te contei tudo que o vovô me disse aquela noite?

– Sobre o Cristian? Eu imaginei. Sei mais ou menos da história. Mas nunca me interessei em saber tudo.

David se levanta com um ar de incompreensão. Colocando a mão na cabeça, ele pergunta a Lola enquanto Rafa se arruma perto do guarda roupas olhando pra eles e tomando o copo de refrigerante.

– Como assim não se interessou? E quem lhe contou?

– A mamãe, ué.

– PERA, ela sabe disso? David se exalta.

– Olha, creio que sim.

– E por que ninguém nunca me contou nada? Cometeram um crime com o Cristian, e isso ficou impune?

– Ah David, eu não sei. Pergunte a mãe ou ao pai.

David então olha rapidamente pra Rafa e pra irmã e sai do quarto batendo a porta. Ele fora a sala procurar o pai que não estava mais brigando com a mãe. Ao chegar lá, antes de se aproximar do pai e fazer seus questionamentos, David prometeu para si mesmo não perguntar naquele momento sobre o avô. Ele ainda não sentia-se com a coragem suficiente. David então encostou a mão no braço do pai que se virou pra ele:

– O que foi, David?

– Pai, cade a mamãe?

– Ela saiu.

– E pra onde ela foi?

– Ela foi na casa de uma conhecida antiga do seu avô.

David sem se preocupar com isso, sentou-se no sofá branco, ao lado do pai que largou a revista que estava lendo pra dar atenção ao filho. David não sabia bem por onde começar.

– Então, pai. O vovô, teve muitos relacionamentos, né?

– Como todo jovem tem David.

David olha pros lados ainda meio indeciso de por onde começar.

– Mas... e a Rebecca pai, o que aconteceu com ela?

– Então ele lhe contou.

– Sim, mas pela metade. Por esse motivo a mamãe detesta tanto ele, por ele ser gay?

– Err, não David. Na verdade sua mãe acha meu pai um covarde.

– Ué. – David então fica surpreso pois todas suas teorias foram por água a baixo.

Os motivos pelos quais dona Anne detesta o sogro vão muito além de sua sexualidade. David imaginou que a mãe fosse contra isso.

– E em que parte ele parou?

– No estupro do Cristian.

– Ah, sim, sim. Eu cheguei a conhecê-lo. A velha conhecida dele que sua mãe foi visitar agora é a filha do Cristian.

– Pera, então a mãe tem conhecimento de por onde anda a família dele? O que ela foi fazer lá? David surpreso.

– Sim, ela tem... E eu não faço ideia do que ela foi fazer lá, eu nem sei onde é.

Segundo seu George, Rebecca ficou devastada quando soube da noticia, mas não necessariamente por compaixão a Cristian. Muito pelo contrário, ela declarou guerra a ele.

A partir de agora a história está no passado.