Capítulo 1 sem título

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Conhecer alguém na noite é legal, bacana, excitante. Mas em tudo há riscos. Nesse caso o risco não significava apenas uma decepção amorosa; a vida do meu melhor amigo Olavo poderia estar em risco.

Pela primeira vez, torci para que a relação do meu amigo com Roberta - sua nova namorada - desse errado. Ciúmes? Com certeza não. Não sou vidente, mas nunca gostei quando alguém desvia, a todo momento, seu olhar. Parece até paranoia, mas vê-la olhando para os lados e sempre aquela desculpa para sair mais cedo, com ou sem seu affair, era muito estranho.

No dia anterior, ao chegar em casa, eu a avistei saindo, – Por acaso, moro no mesmo bairro de Roberta - toda de preto, maquiada, se dirigindo até a parada de táxi. Naquele momento, notei que meu amigo não estava ao seu lado. Tudo isso era tão esquisito. Na sexta eles teriam saído, segundo Olavo, mas e ontem? Onde ela iria tão arrumada?

Certo dia, pensei em chamar Olavo para ver o jogo do Grêmio. Conheci uma garota em um site de relacionamento e queria apresentar aos amigos. Resolvi então, pegar o telefone e ligar direto para ele:

- E aí cara, tudo bem com vocês? - Seria mais uma tentativa. E minha paquera iria ajudar nessa análise. Acabei contando a ela sobre eles.Com uma voz, que me pareceu um tanto embargada, Olavo respondeu: - Sim, estamos bem Rafa. Apenas a avó da Robi que está doente de novo, estou rezando muito por ela amigo. - Puxa, que pena cara. Iria apresentar uma pessoa a vocês. Mas ok, espero que não seja nada grave.

Às vezes, tentamos nos enganar acreditando e muitas vezes torcendo para que não estejamos errados. Aquele momento que ficamos totalmente cegos a tudo e a todos.

Mas, conhecendo meu amigo, nunca desisti e sempre que pude convidei o para fazer programas em casais ou um clube do "bolinha" com outros amigos. Infelizmente nunca dava certo. A Roberta, ou não estava bem ou queria fazer outras coisas. Muitas vezes sozinha.

Nossos amigos, também tentavam abrir os olhos de Olavo, sem sucesso. E infelizmente, além de não acreditar nos amigos, Olavo passou a se afastar. Nesse caso, se isolar do mundo, pois nem a sua paquera estava ao seu lado.

Para ele era difícil entender qual a motivação para alguém querer fazê-lo de bobo. Nunca traíra ninguém e pelo que eu observava, sempre a tratou como uma princesa.

Eu sempre pensei que há limites para tudo, somos bobos por um tempo, mas uma hora acordamos. Mesmo que demore um pouco para isso acontecer. A relação tinha apenas três meses e mesmo sem ter ocorrido uma briga – pelo que eu saiba - Olavo começara a ficar triste, muito triste.

Um dia - nos noticiários - novo homicídio no bairro Cavalhada. Por acaso, bairro onde moramos, Roberta e eu.

Em uma conversa, no nosso grupo de WhatsApp, Marcelo – um amigo - disse que,testemunhas indicavam uma mulher como possível suspeita. E ainda indagou:- Não é o bairro da namorada de Olavo? Todos confirmaram.

Conforme o tempo ia passando fiquei sabendo, certa vez – por uma amiga em comum - que o encontro entre os dois ficara cada vez mais raros. Ainda assim, a cada encontro se renovava a esperança de engatar o namoro, que apenas ele acreditara.

Certa vez resolvi, stalkear Roberta em sua conta no Facebook. Ela não estava em um relacionamento sério, com ninguém e ainda tirara praticamente todas suas fotos. A foto do seu perfil virou a personagem do filme Kill Bill, Gogo Yubari, uma assassina.

Certo dia, após chegar do trabalho, cansado e já deitado em minha cama, recebi uma mensagem dele. Teria ele engolido o orgulho e admitiria o possível fracasso em sua relação?

- Cara, afim de uma cerveja hoje?" Não respondi de imediato, mas horas depois, acabei confirmando o encontro. Marcamos para próxima sexta-feira, após nossos expedientes.

Em um encontro regado a cerveja e lembranças do passado, comecei a notar o quão impaciente ele estava. Lembranças essas que eram puxadas por mim e muitas vezes, a resposta era um sim seguido de um sorriso falso ou simplesmente o silêncio. Um silencio constrangedor. Tantos anos de amizade e mesmo o encontro ter partido dele, chegou uma hora que o assunto acabou.

Em vários momentos, eu notava o quanto ele olhava seu celular. A espera de alguma mensagem, que nunca chegou. Olavo não estava feliz e quando pensei que iriamos chamar o garçom para fechar a conta, Olavo me pede mais cinco minutos.

E ele finalmente deu o braço a torcer, admitindo que não estava bem com Roberta. Falou oque todos já sabiam. E desconfiava que havia segredos nela. Quando a via, sua cara parecia esconder algo terrível.

Confesso que fiquei feliz em saber que Olavo acordou. Conversamos mais um pouco, e ficou acertado que seria dado um fim nessa relação. Mas o final seria olhando em seus olhos, foi o que ele me disse.

Tentei impedir esse encontro. Sugeri que ele mandasse apenas uma mensagem, terminando algo que para mim, nunca começou.

Teimoso, não deu bola para os meus conselhos e assim partiu para seu último encontro com a misteriosa Roberta.

Hoje, apenas espero que a justiça seja feita; pois a noite anterior, fora a última que tive com meu amigo Olavo.

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