Eu sempre fui bem magrinha, sempre fui motivo de piada, a magricela da turma, a que ninguém olhava, ou a que todos olhavam para zombar.
Eu sempre fui a gente boa do bonde, mas pra ser amiga, afinal "homem gosta de carne". A invisível, a que sempre passa despercebida nos lugares, ou percebida para ser zombada, ou a que olharavam com pena seguido de um "coitada tão magrinha".
A cada piadinha sobre mim eu ria, mas no fundo aquilo sempre me destruiu, e a minha vida toda foi assim. Graças ao meu corpo eu sou insegura, sempre acho que existe alguém mais bonita que eu, melhor que eu, sempre acho que ninguém vai me amar de fato, sempre acho que só estão rindo de mim. Graças ao meu corpo eu tenho a autoestima baixa mas finjo ter uma autoestima altíssima, para que outras pessoas não se sintam como eu, quando no fundo eu me acho horrível, porém ninguém precisa saber.
Quantas vezes eu mudei minha rota para não ser motivo de zoação por grupinhos, quantas vezes eu ouvi coisas na rua e fingi não ligar, dei um sorriso, mas quando cheguei em casa, trancada no banheiro eu chorei, chorei baixinho para que ninguém ouvisse, coloquei músicas no volume máximo,e sentada no chão chorei, chorei por me achar horrível, chorei por viver numa sociedade que só me destroi mais e mais a cada dia. Chorei por sempre ser zombada, trocada, chorei quando eu caminhei na rua e vi olhares de pena para mim como se eu fosse doente. Chorei quando ao caminhar na rua eu ouvi "eu acho que ela não come não", "coma muito viu fia?", "vc é muito magra", "vc ta doente? Tem que comer mais".
Cheguei a entrar na academia para engordar, para acreditar que o problema era eu, para que a sociedade me veja como uma pessoa e não como a magricela, a palito de fósforo, a que não engorda.
A cada dia que passa eu odeio mais o meu corpo, odeio mais essa sociedade que mata as pessoas e nem sente, mata as pessoas sem perceber, com apenas palavras, elas não têm noção do quanto essas palavras destroem, não tem noção de quanto dói.
Eu só queria ser vista como uma pessoa normal um dia. Eu só queria conseguir sair e não ter olhares de pena pra mim. Eu só queria poder viver em paz, com o corpo que eu tiver. E que pessoas que como eu,sofrem com olhares, com julgamentos, possam viver em paz.
Queria que a sociedade fosse menos doentia, menos padrãozinho. Foda-se os padrões que só adoecem pessoas. Eu só queria poder me amar, coisa que eu nunca consegui, graças ao meu corpo tão julgado por essa merda de sociedade doente.