Hugo estava lá. Parado na moldura da porta de Tessa, esperando que Albert os deixassem sozinhos, nem que fosse por alguns minutos. Ele apenas queria que o visconde saísse.
Foi o que ele fez. Albert passou e tocou no ombro do homem antes de Hugo entrar no quarto e fechar a porta delicadamente. Sua noiva era de fato linda, o vermelho ficava mais aceso na pele dela do que qualquer outra cor.
—Podia ter esperado eu descer. Ia fazer isso mesmo.— Tessa tentou estampar seu melhor sorriso.
—Claro. Eu sei que você iria, por isso eu estou aqui.— Essa foi a vez dele de puxar a cadeira da penteadeira para Tessa retornar a sentar. Ele simplesmente se abaixou na frente dela e tomou suas mãos. —Você não quer se casar, não é? Não comigo.—
—Não seja idiota. É claro que quero me casar com você.— Ela falou quase em desespero.
—É mesmo?- Ela assentiu rapidamente. -Diga que me ama. Olhando no fundo de meus olhos eu quero que diga que me ama, que precisa de mim como marido e não como segunda opção.-
Tessa relaxou os ombros e virou o rosto, não queria encara-lo por não poder dizer a ele que ela o amava. Mas não amava. Possivelmente nem como seu melhor amigo, assim como ela considerava Eloise. Nenhum sentimento pelo rapaz era suficiente para ela bater em seu próprio peito e dizer que o amava ou que podia o amar em um futuro próximo.
—Não vou reprimi-la. Tessa.- Ele falou calmo. Parecia até tranquilo demais para um homem -noivo- que acabou de ser recusado. —Vou te dar uma ultima escolha. Se seguir em frente comigo, eu juro ama-la como nunca amei mulher nenhuma. Mas se disser que não quer.— Hugo clareou as palavras. —Que você não quer, não que não pode. Se disser que não quer casar-se comigo, eu vou apoia-la.—
Aquilo tirou todas as palavras da boca de Tessa, que chegou a abrir a boca, mas só saiu ruídos atropelados e engasgados, como se o choque fosse tão grande que nem ela acreditava.
—E no fundo, eu sei que o duque Hawkins a ama e você também o ama.- Hugo indagou com um sorriso encantador.
—Mas...— Ele a atrapalhou.
—Posso cuidas das pessoas lá embaixo e de sua mãe também. Se é o que você realmente quer. Faça agora ou não faça mais. É só isso que te peço.—
Tessa riu e quase pode sentir um bolor se formar em sua garganta, apenas tomou o rosto do noivo e depositou um beijo delicado ta testa do homem.
—Ah, Hugo.- Ela mexeu em seus cabelos lisinhos. —Eu espero que você encontre uma mulher que possa faze-lo mais feliz para o resto de sua vida, do que você foi capaz de me fazer em semanas.— Tessa voltou a atenção para as mãos e puxou a aliança posta perfeitamente em sua luva e entregou ao rapaz. —Eu espero um dia poder retribuir isso.—
—E pode. Vá.— Ele jogou a aliança no bolso. —Soube que seu duque pretende ir embora para se casar, acho que se for agora, você consegue faze-lo mudar de ideia.—
Tessa se levantou da cadeira e mordeu o lábio inferior antes de quase correr até sua porta e sair do quarto. Se ela fosse realmente esperta, usaria a escada dos criados, para sair sem levantar suspeitas.
Hugo voltou a ficar de pé e tocou a aliança em seu bolso antes de se virar para a porta e ver uma figura muito parecida com Tessa. Mas não era ela, era Amelia. As duas eram tão parecidas que se escondessem os cachos louros da do meio, ela ficaria mais parecida com a irmã do que com Albert.
—Como eu posso falar isso para sua mãe sem receber no minimo uns gritos?- Ele brincou para a moça parada na porta.
—Ela vai entender. Vamos dizer que ela também não estava tão contente com essa situação.— Amelia comentou. —Dona Nínive Dolabella é uma defensora do amor incondicionalmente proibido. -Ela exagerou. —Foi muito heroico em fazer isso por ela.— O homem deu de ombros. -Não conte o que fez a Ofélia ou ela te chamará de algum herói dos livros dela. ——Um elogio, então. Juro que estou precisando. -Ele brincou e tocou no ombro da moça ao passar. —Vou acabar uma festa e me esquivar de um possível golpe de broches vindo de sua mãe. —
Tessa havia conseguido fugir da casa usando a rápida e segura passagem dos empregados -que magicamente estava vazia, possivelmente fosse por causa da mãe que consumia todos os pobres criados em deixar a festa que não aconteceria, sair perfeita-.
Ela havia erguido o vestido para conseguir correr, mas antes que pudesse sair correndo, sentiu uma mão em seu braço a puxando novamente para a porta da despensa que dava acesso ao jardim dos fundos.
—Eu ia perguntar onde a senhorita estava indo a esse horário. —Era Albert, por sorte ou não. -Mas eu já sei, então, vou apenas te dar um conselho.-
Tessa suspirou e arrumou sua postura para ouvir o irmão.
—Só volte amanhã.— Ele falou e como reação, Tessa franziu a testa. —Se for realmente como eu imagino, a senhorita vai estar muito ocupada para voltar antes disso. — O visconde virou a irmã de costas e puxou um dos botões do vestido com força o suficiente para arrebentar a linha. —Vá. Sem os cavalos ou chamará atenção demais.—
—Ah, Bert. Eu te amo.— Ela pegou o botão e beijou o rosto do irmão -claro que para isso, ela tenha precisado ficar de pontas de pé-.
—Eu sei. —Ele se gabou. —Vai embora, antes que alguém dê por sua falta.— O visconde deu um leve empurrão na irmã a fazendo correr novamente.
Durante sua corrida, ela se imaginava como o próprio príncipe encantado dos livros que Ofélia passava o dia lendo. Agora Simon era a sua princesa presa na torre e ela o príncipe no cavalo branco.
Ela riu enquanto passava pelas arvores da pequena floresta que tinha entre uma casa e a outra antes de chegar ao jardim principal da casa que um dia foi de Healy Lewis.
Tessa parou ali na porta. Respirou fundo, como se isso aumentasse suas forças para seguir. Bateu abafado com a luva e como o som não a convenceu, ela puxou o tecido de suas mãos e bateu com mais força na porta, que logo foi aberta por uma empregada.
—Simon, onde está Simon?— Ela questionou tentando manter a voz estável.
—No banho, milady. Quer que...— Tessa empurrou a moça e correu para dentro da casa.
A garota subiu correndo as escadas, pulando os degraus de dois em dois, sendo que quase caiu algumas vezes durante seu percurso aventureiro de alcançar o banheiro.Ah meu Deus. Ela entraria no banheiro de um homem. E sem contar, ela podia vê-lo em tantas situações constrangedoras. Theresa parou um instante no corredor antes de livrar sua mente desses pensamentos e invadir o quarto do homem.
Como ela rezou para Penélope não estar dentro daquele quarto, na cama dele. Por Deus, como isso a arrepiou. Podia até imaginar em alguns golpes de surra que daria na garota se tentasse atrapalhar seus planos com o duque. Talvez o seu duque.
Ele não estava no quarto, sinal de que ainda não havia saído do banheiro. Tessa respirou fundo novamente e abriu adelicadante a porta do banheiro.
Ele estava tão tranquilo, pensativo, talvez nem a tenha visto chegar.
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Quando Eu Voltar
Historical Fiction[COMPLETA] 1º Lugar no concurso Gênio da Lampada. Theresa Dolabella teve uma infância normal, sem muitos dramas, filha mais velha de um visconde, nasceu em meio a alta sociedade londrina. Desde que se conhecia por gente, contava com a amizade de seu...