Depois de uma noite em claro a pensar no que ia fazer a seguir quanto aos ataques das Bruxas da Noite, acabei por decidir tentar avisar os espíritos dos mortos no Gerês. De facto, não sabia onde encontrar mais ninguém que estivesse na mira delas.
Eu sabia que os mortos só se juntavam na sua cidade depois da meia-noite, ainda assim, queria chegar lá cedo. Não queria que o meu aviso fosse novamente tardio. Como tal, embora tivesse muito trabalho, tirei a tarde de férias sem dizer à minha mulher e dirigi-me ao Gerês.
Deixei o carro num espaço de terra junto à estrada, acima da mesma aldeia em ruínas que na minha visita anterior. Desci até aldeia e, de lá, encaminhei-me para a única entrada que conhecia da cidade dos mortos. Apesar da promessa do fantasma a que os dois guardas que me deixaram entrar da última vez chamaram de presidente, ainda estava no mesmo sítio.
Antes de entrar, porém, telefonei à minha mulher para lhe dizer que ia trabalhar até tarde. Não queria ter outra discussão com ela.
Finalmente, desci pelo buraco no chão até ao túnel que levava à cidade propriamente dita. Ainda faltava muito para a meia noite, pelo que, como esperava, não havia nenhum guarda.
Com a ajuda da pequena lanterna que andava sempre comigo, naveguei pelas passagens até chegar ao largo e ao profundo poço onde a cidade se erguia. Que ainda não se encontrasse lá nenhum espírito, não me surpreendeu, mas confesso que foi com algum espanto que me apercebi que os etéreos edifícios que tinha visto na minha última visita também não se estavam lá.
Sentei-me num rochedo, encostado à parede, e esperei.
O meu relógio devia estar atrasado, pois, uns três minutos antes da meia noite, os edifícios começaram a surgir nas saliências ao longo da parede do túnel. De casas circulares castrejas a torres de apartamentos com vários andares, estavam ali casas de todos os tipos e épocas.
Então, levantei-me. Tomei aquilo como um sinal de que os espíritos dos mortos estavam a deixar as suas tumbas e a formar as procissões que todas as noites se dirigiam para ali.
Os primeiros fantasmas chegaram uns dez minutos depois. Como da outra vez, a minha presença não passou desapercebida. Todos que passavam olhavam fixamente para mim. Contudo, nenhum me dirigiu a palavra, apenas continuaram em frente, flutuando para as suas moradas etéreas.
Então, surgiu um que eu conhecia, aquele chamado de presidente. Assim que me viu, aproximou-se e disse:
- Eu não te disse para não voltares cá?
Expliquei-lhe, então, porque ali estava e contei-lhe sobre os anteriores ataques das Bruxas da Noite. Ele não pareceu muito surpreendido.
- O ataque delas já está aqui - respondeu. - Alguns dos nossos viram o seu exército ao vir para aqui. Só viemos buscar armas.
Olhei de novo para o poço e vi que vários fantasmas já regressavam das casas empunhando armas brancas etéreas. Como os edifícios, estas vinham de todas as eras históricas da humanidade. Vi espadas, martelos de guerra e maças; clavas de madeira e machados com cabeça de pedra; facas de mato e até soqueiras.
O presidente deixou-me e foi ele próprio buscar as suas armas, enquanto eu segui a coluna dos fantasmas já armados para o exterior. Tive alguma dificuldade a subir pela entrada, mas acabei por conseguir chegar ao vale acima.
A noite já havia caído, no entanto, o céu estava limpo, e a Lua e as estrelas irradiavam luz suficiente para eu poder ver o que me rodeava. Os fantasmas alinhavam não muito longe da entrada, formando blocos semelhantes aos usados pelos exércitos da Antiguidade e da Idade Média.
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Bruxas da Noite
FantasyPoucos o sabem, mas, debaixo das nossas cidades, no meio das florestas e montanhas e até sob as águas do oceano, existe um outro mundo, um mundo cheio de magia, lugares fantásticos e criaturas mitológicas e imaginárias. Por casualidade, tomei conhec...