IN MY HEAD

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Acordei com o barulho do despertador tocando ferozmente ao lado da minha cama. Aquele barulho infernal de todas as manhãs. Não sei bem o motivo de eu acordar tão cedo, ainda mais em um final de semana.

Parada em frente ao espelho você me veio à mente e fez questão de trazer minhas lágrimas junto. Doeu; dói muito pensar que eu pintei um cenário. Eu pensei que te conhecia e agora, por conta disso, estou presa no momento, enroscada em seus lençóis. E sabe o pior? É que quando você partiu meu coração, eu disse que você só queria metade de mim.

Dei um risinho leve, minha imaginação é muito criativa. Enquanto todos eles veem um demônio, eu vejo você com um anjo, um anjo sem auréola ou asas, mas um anjo.

Olha só pra mim, estou caindo, caindo, caindo cada vez mais e nunca chego em lugar algum. Eu nunca pensei que você me deixaria assim, caindo sem parar. Eu precisava de algo para acreditar e por um bom tempo pensei que você fosse real, fosse o certo para mim; mas estava tudo na minha cabeça, tudo foi feito pela minha mente e eu achei que fosse real, mas era mesmo algo apenas da minha cabeça.

Olhei para o espelho e pude ver seu rosto, era como se ele estivesse ali, e então eu disse:
- Sim, olhe só para você, garoto, eu te inventei, eu te criei. Fiz seus tênis Gucci, fugindo dos problemas. Você fazendo exercícios aeróbicos, pois são bons para o coração. - parei por um segundo e suspirei por um minuto - Eu acho que podemos resolver isso.

Me vesti, muito abalada ainda, e sai atrás dele. Eu sabia onde ele estaria neste momento e fui o seu encontro. Meu coração quase saiu pela boca quando o vi sentado com seu café e o jornal.
- A gente precisa conversar. - disse simples parando ao lado dele e sua expressão não foi boa.
- Eu já te disse que não temos mais o quê conversar. Acabou tudo, entenda isso, por favor.

Ignorei totalmente suas palavras e então comecei a falar:
- Eu criei um cenário, pensei que tinha te desenhado bem. Eu tive uma visão de algo que não estava lá e agora estou presa no momento, enroscada nos seus lençóis.
- Anne, você pode, por favor pa... - o cortei.
- Quando você partiu meu coração, lembro-me que disse que queria apenas metade de mim. - ri novamente de tudo e prossegui enquanto ele me olhava sério - Eles veem Caim, mas eu te vejo como Abel, sim, Abel. Eu sei que você pode, que é capaz, pois tem vontade e é capaz sim! Eu estou caindo, tá bom? Caindo! Eu me iludi pensando que precisaria de mim; mas você me deixou caindo, sabendo que eu precisava de algo para acreditar.
- Pelo amor de Deus, vamos embora daqui e a gente conversa!
- Não! - tirei sua mão de meu ombro, já não continha mais as lágrimas - Isso foi tudo da minha cabeça. Tudo veio da minha mente! - limpei as lágrimas, mas não adiantou - Olha pra você, eu o inventei. Seus tênis Gucci, fugindo dos problemas; seus exercícios aeróbicos. Eu pensei que poderíamos resolver isso.
- Do que você está falando, Anne?
- Shhh! Eu queria que você crescesse, mas você nunca cooperou. Tudo o que você é fez de você o que você não é. Vi seu potencial sem credenciais. Provavelmente esse seja o problema.
- O quê?
- Disse que talvez esse seja o problema. - pensei por um momento - Eu não posso usar essa merda contra você. Sim, eu fiz isso a mim mesma, sim.
- Anne..?
- Eu pensei que você fosse outra pessoa. Você... eu pensei que fosse outra pessoa.

Me virei e corri na direção oposta em que ele se encontrava. Minhas lágrimas caiam mais que antes. Meu coração apertado era cada vez mais esmagado.

Ignorei tudo isso e voltei para minha casa. Após tomar três comprimidos do calmante, me deitei torcendo para nunca mais acordar.

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