Mel de Lavanda [Em Andamento♡]

Preâmbulo Emotivo

Mel de Lavanda

Aline Negosseki Teixeira

Preâmbulo Emotivo

O azul do céu...
Os seus suspiros,
perfumoso aroma em mel
nossos beijos ocultos

até o espanto de fel.
O medo, a espera, a dor,

saudades do meu amor!

Chorando por ti,

ahavati.
O reencontro abençoado e feliz
e o amar sem sustos!

Pleno, completo, realizado

em suas três instâncias.

- Eu sei que disse tudo isso, Flora... Mas... - ele andava pelo jardim, sob o ouro esfuziante daquele fim de tarde inesquecível. - Você não entende? Você... eu. Tem coisas que simplesmente não são para ser... Por mais que pareça injusto, por mais que... fira!

Era como se o coração dela estivesse trincando. Era difícil demais acreditar que aquele momento era real.

- Não faz isso, Renzo! Não fala o que estou achando desde ontem que ia dizer...

- É isso mesmo - ele olhou-a fixamente, os olhos cortantes como navalhas. - É isso que você entendeu. Você... você é tão jovem e... eu... Não podemos fazer loucura.

- Não! - ela gritou. - Não, Renzo! - ela precipitou-se até ele, agarrando-se à malha de sua camiseta, não guardando sequer um resquício que fosse de amor próprio. - Você disse, repetiu tantas vezes que isso não era importante. Como mudou de ideia tão depressa? Que foi que aconteceu?

Apertando os olhos, Renzo desvencilhou-se dela e, afastando-se sem coragem de fitá-la daquele modo, de joelhos, o rosto entre as mãos, soluçando desesperada, ele se apressou pela aleia de sempre-vivas, a deixar a propriedade dos Talavassos. Ainda na calçada, parou por um momento, infinitamente arrependido. Mas, pensava, era a coisa certa a se fazer!

"Minha doce Flora... io... io ti amo! E é por isso que estou te deixando, deixando... livre para seguir seu curso! Livre para não te fazer sofrer! Para não te deixar desperdiçar a vida."

Ele a ouviu gritar seu nome, guturalmente. Era quase ininteligível.

- Renzoooooo!Mi amore!

Passando lentamente pela calçada, o corpo todo queimando de vontade de voltar para abraçá-la, para pedir perdão de joelhos e erguê-la para um abraço caloroso e sem fim, ele a viu, por entre as frestas da hera que tomava as grades.

Tomando ímpeto pela corrida, Renzo mordia os lábios até que sangrou.

Haviam se passado doze anos desde que Anna Flora Talavasso deixara a Toscana, às pressas, após aquela inesquecível eúltima temporada na pacata e cativante vila Castel di Saluzza.

As cenas de lembranças dos amigos que teve lá, das músicas que a cativaram naqueles dias, do dourado dos campos de girassóis, da ciranda de beleza, vida e arte, do profundo do lilás a resplandecer ao sol dos verões, ficaram marcadas como feitas pelas cerdas do pincel de um pintor "imortal".

E também não saiu de si nem por um momento as consequências emocionais daquele amor juvenil que, por mais que tentasse, nunca conseguiu arrancar dos jardins cultivados de seu coração.

Ela agora está de volta à Itália. O estágio e as determinações de seu pai, que cordata ela aceita sem protestar, nada mais são que, no íntimo de seu ser, desculpas para um acerto de contas com o passado que foi tão feliz e aterrador em mesmo tempo, por seu fim intempestivo.

Seus tios vão recebê-la, como sempre, com todo o afeto.

Mas e Renzo? O que terá para lhe dizer, tantos anos depois? Além de tudo, um homem misterioso tem tudo para colocá-la numa maravilhosa confusão de sentimentos que vai culminar num desfecho surpreendente para alguém que, apesar da juventude transbordante, já não tinha mais esperanças de amar.

Isso não é tudo. Pode o amor de um homem, ou de uma mulher nos completar? Quando um relacionamento termina, seja por imaturidade de uma das partes, ou por uma força maior, algo duro como a morte, podemos nos recuperar?

Anna Flora

Renzo

A Quente Toscana

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