Não fazia muito tempo que Giovanni havia entrado pelas portas do salão de festa da propriedade dos Talavassos, acompanhado por seus amigos. Benito à direita e Andreas à esquerda. Seu olhar amendoado vasculhava o lugar em busca de sua amada. "Onde está você, Laura?" Murmurou para eles:- Com tanta gente interessante... claro que ela não me dará atenção! Ainda não sei como conseguiram me convencer a vir aqui! Se o meu pai souber disso, rá! O velho Beliccino terá mais um motivo para suas ameaças de me deserdar e, dessa vez, nem eu ouso recriminá-lo. Mereço! Afinal quem ficaria contente? Com uma afronta dessas, minha gente? Um filho seu fazendo visitas gatunas à casa de seus maiores inimigos.Benito respondeu-lhe:- Meu amigo, Giovanni, tenha em mente que não veio aqui para que Laura lhe dê atenções. Se lembra? Olha essas jovens! Olha essas belas moças! Então não consegue enxergar que toda essa dedicação infrutífera tem sido tolice? Você vai conhecer alguém nessa festa, eu tenho certeza, eu até sonhei essa noite que haveria um lindo cisne para consolar o teu coração, tão sincero, que tem sido desprezado por todos esses anos por essa leviana pata choca da Laura!Giovanni quase gargalhou.- Perca as esperanças, meu amigo! Diferente de nossa geração do descartável, diferente de tudo que temos visto na mídia, nas redes sociais, sou um homem constante. Quando amo, é para sempre! Oh, vejam, lá está ela... meu adorável cisne. Laura, meu amor...Benito procurou, desgostoso.- Vá até lá! Veja, lá está ela... Não está vendo? Ali, a Laura. O doce néctar de sua aparência radiosa meus olhos estão bebendo! Não está vendo, seu tonto? Deixe que te conto! Aquela de máscara nácar e vestido azul com arranjo no cabelo de ouro. Vá, vá falar com Laura! Diga-lhe que estou aqui, a esperar, que estou aguardando-a para dançar.Intimidado pela exuberância da moça, Benito, franzino e bisonho se retraiu:- E por que não vai você mesmo?Sentindo-se um pouco tímido, Giovanni respondeu:- Eu não gostaria de constranger minha amada! Se ainda uma vez mais ela quer me recusar, que tenha toda liberdade...Benito afastou-se para fazer um favor ao amigo. Andreas há muito já tinha "perdido se" no meio dos convidados que apinhavam o salão, envolvido com a festa que estava no auge da efusão.Ali parado, Giovanni acompanhou com o olhar o percurso que o amigo fazia até chegar ao alvo. Viu quando ele começou a conversar com Laura que o fitava sorrindo. Que linda! Parecia uma princesa que pulara dos contos de fadas!Nesse momento, seu olhar foi desviado por um casal que passou flanando e girando. E então aí estava ela! Flora Talavasso! A noiva e mesma jovem que ajudara em momento de desconcerto, de apuro, quase um mês atrás. Não era ela mesma com a máscara? Não era? Difícil não reconhecer Flora Talavasso. Ela tinha um modo de se mover... Tinha os cachos de cabelos pendendo pelos ombros, movendo-se hipnoticamente, e o nome fazia imenso jus à pessoa neste momento, pois não é que ela parecia mesmo uma flor que dançava? Ele não conseguia tirar os olhos dela, contemplando-a descaradamente, os lábio abrindo-se. Via-a e ia pensando nos poucos momentos que conviveram, as suas fotos que vira na internet salpicando em seus pensamentos como flashes. Provocando de um estranho modo todo seu corpo, sentiu que chegava a concretização algo que até este momento não havia conseguido discernir: estava apaixonado por ela! De fato, não havia retorno, sabia que estava apaixonadíssimo por Flora Talavasso, pois sentia um terrível ciúme do homem que a conduzia. Certamente aquele devia ser o seu noivo, pois não ouvira falar ou não havia qualquer coisa que o fizesse suspeitar que ela tivesse um irmão. Mas, quem sabe? Poderia estar enganado. Sentiu vontade de ir até ela, de ser o homem que dançava com ela, de ser um homem que se tornava o noivo dela, que tamanha ventura! Se tornar o marido daquela existência doce e gentil que havia conhecido, e que só agora nesse momento poético com essa música que parecia beijar os tímpanos do espírito é que se dava conta de que Benito estava certo. Diante de Flora, Laura não passava de uma pata choca e não era sobre atributos físicos que essa comparação se sustentava. Giovanni fecha os punhos com força, aflito quando nota as mãos masculinas do outro homem enlaçando Flora pela cintura, a outra no ombro desnudo. Aquela pele de seda! Flora... Ele murmura de levinho seu nome enquanto vai compondo dentro da mente um poema em prosa sobre o que a moça lhe parece, era a respeito de uma graciosidade rara que brotava de dentro para fora, era a respeito de uma sinergia indescritível construída de espontaneidade, uma troca de simpatia, de afeto, de gentileza, de vulnerabilidade e confiança. Quando deu por si, num ímpeto irreprimível, ele já estava a passos largos atravessando o espaço que os separavam. Ele parou diante do casal e segurando a mão de Flora, interpelou-a para dançar consigo. Depois de relancear o olhar de um belíssimo tom de topázio ele tornou-se para o outro homem que, conjecturava Gianni Beliccino, jamais poderia mensurar o tesouro que conduzia na pista de dança. Diante do olhar abismado do noivo, Giovanni disse-lhe:- Eu não vou roubá-la. É apenas uma dança. Não vai honrar o seu convidado?Com expressão de poucos amigos, Renzo Marcatte estendeu o braço, dando-lhe licença.Um tanto irritado, afastou-se, dizendo a si mesmo que só concordara com aquilo, pois as insistentes vibrações no celular que estava no seu bolso alertavam que havia urgência em algum assunto.
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Mel de Lavanda [Em Andamento♡]
RomanceO cenário é Trevento, Toscana, Itália. Ele é um Beliccino. Ela é uma Talavasso. E o amor deles é proibido e profundo como o do devotado Romeo e sua doce Julieta. Anna Flora está de volta a Toscana depois de muitos anos. Depois da afronta e da mágoa...