Prólogo

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Olho para a sala a minha frente e fico satisfeita com o meu trabalho. Juntei todas as cadeiras da mesa de jantar e os bancos da cozinha bem no centro do cômodo, tudo arrumado em duas fileiras. Na parede em frente, pendurei o quadro negro que ganhei de Natal. Encostei a mesinha de centro para o lado e apoiei meus livros e a caixinha de giz coloridos, com todo o cuidado para não se quebrarem.

Minhas alunas já estão prontíssimas para a aula, cada uma ocupando uma cadeira/banco. Só falta um aluno. Ele está sempre atrasado. Pego um giz cor de rosa na caixinha e escrevo a data no canto superior esquerdo do quadro. Depois, limpo a mão no vestido e cruzo os braços, olhando para o relógio redondo em cima da porta da sala. O ponteiro grande está no número dez e o pequeno, no cinco. Então, acho que são dez horas. Ou cinco. Dou de ombros e saio em direção ao quarto.

- Fred! A aula já vai começar.

- Eu não posso ir hoje, professora. Estou doente. – Ele diz e fica rindo.

- Você não está, nada. Deixa de ser preguiçoso, Fred. Levanta logo daí!

- Só se você jogar uma partida de Mário comigo.

- Não gosto desse jogo idiota.

- Também não gosto de brincar de boneca, e brinco.

- Tá boooom.

Me jogo na cama dele e Fred pula para ligar o Super Nintendo. Ele me dá um controle e pergunta se eu quero jogar com o Mário ou com o Luigi. Eu escolho o Luigi, só porque não quero começar. Ele joga toda a primeira fase e eu fico só olhando, batendo com os pés do lado da cama. Depois que a fase dele termina, a minha começa. Eu nem sei o que fazer, fico só apertando uns botões e Fred faz caretas pra mim. Não demorou muito e eu "morri".

- Ah, eu não acredito!

- O que!?

- Você fez de propósito! – Ele soltou um grito, batendo no colchão.

- Claro que não.

- Fez sim, você morreu só pro jogo acabar logo e eu brincar do que você quer!

- Mentira! Eu não sei jogar!

- Então aprende, Malu!

- Posso saber o que está acontecendo aqui? – Mamãe pergunta, entrando no quarto e limpando as mãos enfarinhadas no avental.

- O Fred não quer brincar comigo de escolinha.

- E a Malu não quer brincar comigo de vídeo game.

- Porque eu não sei jogar!

- Então eu também não sei estudar na sua escolinha!

- Mas... mas... você é muito chato. – Eu cruzo os braços e faço bico. Fred faz o mesmo.

- Você também é chata.

- Hey, hey, hey! Vamos parando agora com essa briga boba. – Mamãe se abaixa na nossa frente e pega nossas mãos. – Vocês são irmãos, não podem brigar por qualquer bobagem! Vocês dois tem a sorte de ter um ao outro, de saberem que nunca estarão sozinhos. Mas, pra isso, vocês não podem brigar. Escutem bem, vocês tem que ser sempre unidos, sempre cuidando um do outro. Vocês não se amam?

- Sim. – Nós falamos ao mesmo tempo e acabamos rindo.

- Estão vendo. Eu quero que sempre se lembrem disso, que o amor que sentem um pelo outro está acima de qualquer coisa. – Nós dois assentimos. – Malu, você me promete que sempre vai cuidar do seu irmão? – Ela pergunta olhando nos meus olhos.

- Sim, eu prometo, mamãe.

- Fred, você me promete que sempre vai cuidar da sua irmã?

- Sim, eu prometo, mamãe. Eu vou proteger a Malu de todos os caras malvados.

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