O burburinho e as vozes exaltadas junto a passos apressados ecoavam pela a velha fortaleza, apesar de ser dia, o céu estava escuro como noite e ouvia-se trovões ao longe. Lara pôs-se de joelhos na cama afim de olhar pela janela para entender o que de fato estava acontecendo, foi então que ela viu os membros da tropa retornando da expedição.
– Mas a expedição era para durar sete dias, só se passaram três! – Falava enquanto corria para ao encontro dos demais. Ao chegar do lado de fora e avistar todos, seus olhos chegaram no pai, foi aí que seu sangue gelou lhe esfriando o peito. Levi estava com a cabeça enfaixada e as roupas ensopadas de sangue, era perceptível o esforço que ele estava a fazer para ficar equilibrado em cima do cavalo. Os olhos de Lara rapidamente analisaram Erwin, Mike e Hanji. "Eles estão abatidos, mas aparentemente bem" – Pensou consigo. Seus olhos então se arregalaram ao ver a carroça que trazia os corpos. Estava cheia. Metade dos novos cadetes morreram na expedição.
Levi desceu do cavalo lentamente, tentando ao máximo manter a cara impassível. Lara correu de encontro ao pai passando o braço dele por cima de seus ombros e sussurrou:
– Vou tirar você daqui tá? – em resposta Levi apenas fez um leve aceno com a cabeça em concordância. A menina arrastou ele dali o mais rápido que pode em direção ao quarto, chegando lá colocou ele na cadeira.
– Vou pegar a maleta médica, volto já.
– Não...me ajude a tirar isso primeiro. Preciso de um banho estou asqueroso - falou com um cara que não dava direito para decifrar se era dor ou nojo. Lara o ajudou a tirar as roupas parcialmente e lhe levou em direção ao banheiro.
– Vou estar aqui fora qualquer coisa grita.
Levi abriu o chuveiro e deixou-se sentar no chão do banheiro permitindo que a água gelada levasse todo aquele sangue e acalmasse seus ferimentos. Com a esponja em mãos, lavou-se com toda a força que era permitida naquele momento e ao fim levantou-se devagar enxugando-se, vestiu suas calças de moletom e saiu do banheiro.
Lara estava sentada na cama com a maleta médica em mãos, Hanji havia lhe ensinado primeiros socorros e o básico de cuidados ambulatoriais, era uma de suas tarefas cuidar dos feridos recém-chegados.
Ao ver Levi saindo do banheiro, Lara pode perceber o grande hematoma no torso dele, se aproximou tocando-o devagar.
– Acha que quebrou alguma costela? - indagou se posicionando nas costas do pai abraçando-o por trás afim de fazer a manobra para reposicionar as costelas.
– Ah! - respondeu ao fim do "abraço de urso que levou". – Provavelmente não.
– Ok. Então vou lhe enfaixar o tronco, fica... paradinho.
Terminado a primeira parte, agora era hora de dar os pontos nos ferimentos da cabeça que ainda sangrava levemente. Quando já aproximava a agulha do ferimento o tremor em suas mãos era perceptível, não conseguia mais esconder quão abalada estava por pela a primeira vez, ver o pai naquele estado.
– Lara? O que foi? – Estranhou Levi, já que a filha já estava acostumada a suturar vários soldados tendo inclusive auxiliado na amputação da perna de um pobre coitado. – Ei, tô falando com você. – falou segurando a mão da menina, seus olhos viu estes marejados.
– Hum? Não, não, nada. Desculpa é que... nunca tinha visto o senhor nesse estado... – Esboçou um sorriso e piscou rapidamente na tentativa de afastar as lágrimas que se formavam.
Parou por um minuto raciocinando sobre o que poderia falar, até porque para ser sincero, ele também estava bem surpreso e abalado com aquilo tudo. "O soldado mais forte da humanidade", com a maior contagem de abatimento de titãs que alguém já tinha visto. "São apenas títulos de merda!" Sempre resmungou contra si mesmo. Mas acontece que, no fundo ele também acreditou e se acomodou esquecendo que era um simples e vulnerável humano. E talvez o pior, tenha sido a sensação de pânico que lhe invadiu quando pensou que nunca mais pudesse ver o rosto daquela que estava em pé a sua frente, e que ele até agora, não conseguia entender ou mensurar a significância dela em sua vida, de Erwin que o tirou daquele inferno dando-lhe uma nova vida, Mike aquele cachorro farejador maluco que salvou a sua vida e Hanji a primeira pessoa dentro da tropa que o viu e aceitou-o como era, com todo mau humor diabólico mania e defeitos. Aquilo tudo era deveras assustador.
– Droga de laços! – murmurou. – Olha, senta e me escuta. – Ordenou e a menina prontamente obedeceu – Você precisa se acostumar e estar pronta para qualquer situação, nesse inferno de mundo que vivemos as coisas só tendem a piorar e nunca melhorar.
– Sim, eu sei... – Pensando que talvez aqueles anos em paz ali no castelo tenha lhe cegado para a realidade do mundo. O que trouxe à tona a lembrança de uma decisão que ela havia tomado sobre algo que fez quando fugiu para o vilarejo no dia anterior.
– Levi, escuta, preciso te contar uma coisa. – falou enquanto levantava da cadeira, pegou um papel na gaveta de cabeceira e entregou ao seu pai. O papel era nada mais nada menos que a confirmação da sua aceitação de alistamento no exército, foi aceita como cadete e a convocação oficial seria em cinco dias. Levi leu trincando a mandíbula processando ao máximo as informações, no fundo sabia que era a melhor coisa para Lara e entendeu o motivo por trás da decisão da filha – por mais que estivesse puto por ela ter feito tudo sem ele saber.
– Quem mais sabe disso?
– Só você.
– Ok, nem tente contar ao Erwin hoje. Agora vem e termine de costurar a droga da minha cabeça e a próxima vez que você fizer algo pelas minhas costas eu não respondo por mim.
Lara saiu em direção a cozinha com objetivo de pegar chá preto e torradas com geleia para Levi comer.
– Tia Hanji!
– Oi Lindinha! – as duas trocaram um abraço bem apertado. – Como seu pai está?
– Devidamente enfaixado e costurado. Aparentemente nada grave. – Falava enquanto preparava tudo na bandeja. Parou tirando um frasco com comprimidos do bolso, triturando-os misturou junto com a geleia e passou nas torradas.
– Pretende drogar o Levizinho? – Falou Hanji gargalhando.
– Não estou drogando, são analgésicos. Ele está sentindo dor e precisa dormir.
Lara parou por um momento encarando o chão.
– Tia Hanji...
– Sim meu amor...
– Você acha que... acha que reencarnação realmente existe? Digo, nós voltarmos em outro tempo sem tudo isso, sem tanta morte?
– Como uma mulher da ciência eu não deveria, mas gosto de cultivar essa esperança.
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Laços - Ereri | Riren | Eruri
FanfictionDiferente do que dizem, o passado nunca fica para trás. É como águas passadas que refletem o futuro, é um ciclo vicioso onde os laços nunca se quebram. É o fio do tempo pregando peças e juntando o impossível novamente.