Capítulo 01

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Pouco menos de trinta minutos é o tempo que me resta. Tento encontrar as respostas no fundo de minha mente, porém nada encontro. Eu preciso de mais tempo! – Murmuro mentalmente. Elas sumiram misteriosamente.

É agoniante sentir o suor escorrendo pelo rosto, gritando o meu nervosismo. Ou o ranger dos dentes, quando mordem a ponta do lápis com muita força. Eu estaria menos aflita se não fosse uma coisa, ou melhor, uma pessoa: professora Suzana. Só de encará-la, eu já sinto o peso dos seus olhos Hispano V, que me metralham obstinadamente desde o início da prova, como se quisessem enxergar dentro de mim.

Ela está sentada em sua mesa, à frente da sala, balançando as pernas cruzadas impacientemente. O que essa mulher quer comigo? — Penso eu, enquanto mordo o lápis freneticamente. Talvez ela esteja se deleitando com minha aflição — Concluo.

Ouço um barulho de cadeira se movendo, e quando percebo, mais um aluno se levanta. Calma Ane, você não está sozinha... ainda — Uma voz interior tenta me acalmar. Agora são apenas três.

As respostas em branco diante de mim só me fazem querer chorar. Além de não lembrar de nada, — apenas algumas informações soltas — quanto mais me esforço, mais minha cabeça dói.

O tempo passa e faltando apenas dez minutos, o último rapaz entrega sua prova. Isso me desespera completamente. Eu bato repetidas vezes com o lápis na mesa, na tentativa de aliviar o meu stress.

Levanto a cabeça, e lá está ela, invicta, não me tira os olhos, nem por um segundo. Rapidamente desvio o olhar e resigno-me com a situação. É minha última chance. Vejo que não há mais nada que possa ser feito. Agora só me resta esperar.

O sinal toca, e meus olhos põem-se a inundar de lágrimas. A professora Suzana levanta-se calmamente, e caminha por entre as cadeiras e mesas vazias da imensa sala até mim. Seu andar é pesado, e a cada passo dos seus inseparáveis saltos quatorze, o som reverbera através do silêncio frio da sala. Para mim, barulho, para ela, música. Ela se posiciona exatamente em minha frente, esboçando um sorriso de orelha a orelha.

— O tempo acabou Alencastro, você poderia me entregar sua avaliação?

Eu a encaro com as pálpebras inchadas e rosto provavelmente avermelhado, e sem piedade, sou respondida com um olhar de pedra cinzento.

Após entregar minha derrota, ela se vira sem perder a postura e volta à sua mesa. No mesmo instante, meu mundo se esvai, e muitos pensamentos destrutivos vem à tona. Porém mantenho a calma, — ou pelo menos finjo — e ando lentamente em direção à porta, de cabeça baixa, contando meus passos meio tristes.

— Alencastro, quero a senhorita amanhã na minha sala — De repente, o fim da picada!

...

O alarme do celular dispara. Desperto com o som sazonal de Capital Inicial, e deparo-me comigo mesma abraçando o travesseiro. A porta se abrindo bruscamente anuncia a entrada de Beth no quarto.

Hahaha, vamos acordar dorminhoca! — Diz ela, animada, fazendo festa logo cedo, fantasiada de avental amarelo e com uma espátula na mão.

Levanto, ainda com sono, e pelo estalar das costas, eu percebo que a madrugada não foi uma das melhores. Eu me arrasto por entre o corredor e as paredes, que me levam à cozinha. Beth está de costas, em frente ao fogão — parece fritar ovo — penso eu. Puxo uma cadeira para sentar à mesa de centro, e ela, notando a minha presença, se vira.

— Bom dia! — Diz a jovem garota, loura dos olhos claros. Seu sorriso chega a ser assustador.

— Posso saber o motivo da euforia? — Sinto-me deslocada, porém, arrisco uma pergunta perigosa.

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