[cap. 2] Segundos de liberdade

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Depois que devoramos boa parte do bolo que Sam havia trazido, fomos assistir alguns filmes como sempre fazemos.
Apesar de ser uma data aparentemente comemorativa em nossa amizade, estamos em completo estado de vadiagem, preguiçosos e em uma vibe bem inativa.

Dividindo o sofá enorme, porém juntos e abraçados, como quais estivessem fingindo que não há mais espaço, discutindo sobre opiniões contrárias sobre o filme e brincando com a pipoca como se fôssemos crianças.
Esses com certeza são os melhores momentos do dia.

...

O tempo passa como vento e o filme toma um rumo mais sério, assim como nós. De repente, Sam pausa o filme, se afasta um pouco e desvia a atenção em minha direção.

- Sabe como eu amo esses momentos de descontração? - ele me observa nos olhos com um grande sorriso e após desvia o olhar para a tv, parecendo estar refletindo sobre algo. Sua faceta vai ficando cada vez mais fechada. - É tanta coisa que passo por causa do final do curso na faculdade, meus avós que estão doentes e tenho que cuidar deles, trabalho na ONG que fundei...

Um momento breve de silêncio e respiração profunda.
Alguns segundos depois ele retorna a olhar para mim com uma perspectiva mais calma.

- Sou muito grato por ter você aqui comigo, sempre. - ele finaliza com um tom mais leve e um sorriso suave no rosto.

- E eu por ter esse exemplo de homem na minha vida. - tento dar uma descontraída, o que incrivelmente funciona, consigo tirar algumas poucas risadas. - Também sou imensamente agradecida por tê-lo como amigo.

A palavra amigo parece pesar mais que tudo em minha cabeça, como se um tom deprimido e reprimido tivesse tomado conta dela na frase.

E assim surge um momento constrangedor de silêncio. Pode ser que a situação seja desconfortável apenas para mim, ou talvez para ambos. Mas o modo como estamos fixamente vidrados no olhar um do outro me deixa desamparada, minhas bochechas estão queimando cada vez mais e mais. E sem perceber, meu olhar é direcionado para sua boca. Toda aquela situação era incrivelmente atraente.

Quero tocá-lo. Desejo beijá-lo.

Porém não posso, não devo.

Todos esses pensamentos reprimidos me fazem tomar um ar de desânimo. Parece ruim, pode ser terrível, mas é um dos métodos que uso para poder me policiar, assim não cometendo algum ato que possa me arrepender minutos depois.

Guio meus olhos para minhas mãos, que se encontram juntas e fechadas sobre meu colo.
Sam então percebe meu incômodo com a situação, assim colocando suas mãos abertas sobre as minhas, fazendo minha visão se direcionar instantaneamente para ele.

- Me desculpe Ali... - por um momento achei que aquelas palavras se referiam a meus sentimentos bloqueados, mas estava enganada. - ...Esqueci de avisar, mas Samantha chegará de viagem hoje.

Surge um aperto no coração. É como se estivesse tomando um tiro pelas costas. A dor de ter que voltar a realidade me atormenta.

Continuo em silêncio e ele então hesita, mas após segundos volta a fala.

- Ela vai ficar lá em casa alguns dias, disse que tinha coisas importantes para discutirmos, então não vou conseguir te ver muito essa semana. - seu tom era suave mas ao mesmo tempo abatido. - Espero que você entenda Ali. Não quero que fique sozinha, então pedi para Sophia vir te visitar as vezes e almoçar com você.

- Parece até que vai sumir da minha vida por completo. - eu brinco com sarcasmo. - Eu sei me virar sozinha, to tranquila.

- Confio em você, eu só me preocupo. - ele retruca.

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