[cap. 3] Lembranças dolorosas

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Desperto do que parece ter sido um terrível pesadelo.

Minha cabeça dói e lateja, parece que estou com uma enxaqueca horrível. Olho para os lados e me espanto ao ponto de gelar dos pés à cabeça, eu estava exatamente na mesma posição e com o mesmo cobertor à qual havia acordado anteriormente. Como poderia que tudo o que aconteceu ser apenas um pesadelo?
Olho diretamente para a mesa, quase que automaticamente, e percebo que ali está o mesmo papel que havia lido em meu suposto sono. Me aproximo mais para lê-lo e confirmar que eu não estava a beira da loucura, mas o que vejo quase me faz cair no chão.

Mesma letra, mesma mensagem e mesmo remetente. Eu realmente estou ficando pirada. Como tudo aquilo parecia tão real? Até a sensação de sentir o jeans desvencilhando de minhas pernas enquanto corria pra não perder a aula...
Logo que esse pensamento me vem a cabeça, involuntariamente toco em minha cintura para ter certeza que tudo estava ali. Graças a Deus estava tudo certo. Fisicamente, por que mentalmente nunca estive pior.

Calma Alisha, está tudo bem. Você apenas teve um sonho muito real, bizarramente real.

Procuro por meu celular para saber as horas e o dia a qual eu me encontrava.

Devo estar enlouquecendo.

Foi a primeira coisa que me passa a cabeça.

Estou de férias, como eu supostamente estaria desesperada por causa de minha aula?

Tenho total desconfiança que alguém mexeu com meu psicológico, me fez algum tipo de hipnose, estou incrédula. Pareceu tudo muito real...

Enquanto delirava sozinha, escuto alguém bater na porta.
Percebo estar em choque quando simplesmente me desabo a chorar quando minha amiga Sophia aparece em minha frente. Ela esboçava um sorriso enorme, mas ao perceber que estava em prantos e perdida, ela muda para uma expressão totalmente preocupada.

- Meu Deus Ali, o que houve?? - seu instinto foi logo me socorrer e me levar para relaxar no sofá.

- Eu estou muito confusa, acho que estou enlouquecendo. - tento articular algumas palavras enquanto acalmo minhas lágrimas.

Sophia volta da cozinha com um copo cheio d'água e senta de pernas cruzadas, sobre o móvel, logo ao meu lado e de frente para minha pessoa.
Sua faceta parecia séria.

- Tome essa água e vamos conversar calmamente. - ela espera até que eu termine o copo. - Por acaso Samuel te machucou? Se ele tiver tocado um dedo em você, eu juro que vou matá-lo e enterrá-lo no meu quint...

-... Não é nada disso Soph. - eu a interrompo. - Talvez seja eu que queira desesperadamente que ele me toque. Claro que no bom sentido.

Sophia cobre sua boca com a mão, abalada e surpresa ao mesmo tempo.

- Minha amiga ta apaixonada platonicamente. - o som de suas palavras soavam meio abafadas. - Nunca achei que um dia teríamos conversas sobre garotos entre nós. Parece até mentira.

Eu faço cara de tédio para Sophia, que solta um sorrisinho controlado.

- Acabei de acordar com um pesadelo super real, a qual eu estava sendo tocada intensamente por um suposto homem desconhecido. - meu corpo arrepia. - Todos aqueles beijos em meu pescoço, os toques de suas mãos geladas pelo meu corpo... Me senti de uma forma que jamais pensaria que pudesse me sentir. Acho que estou ficando louca.

- Isso é tesão amiga. Você tá afim de transar com alguém. É óbvio. - ela denotava certo tom de malícia. - E provavelmente isso está ligado com sua atração secreta por Sam.

Algumas engrenagens começavam a funcionar em minha cabeça. Talvez aquilo que Soph estivesse falando pudesse ter algum sentido.

- Você deve estar curiosa para saber como é transar com alguém que não seja seu primeiro namorado, ao qual eu estritamente odiava. - ela parece relembrar do passado por um momento. - Acho que como um pássaro livre, você deve aproveitar que agora está livre daquele cafajeste e viver sua vida de solteira, indo nas melhores baladas da cidade junto com sua melhor amiga.

Ela parecia empolgada com a ideia. O que me deixou feliz. Mas eu nunca fui uma pessoa que gostasse de sair em festas. Sempre fui mais caseira e reservada.

- Kyler e eu éramos muito felizes... - suas lembranças ainda doíam meu coração.

- ... até ele simplesmente trair você. - Sophia falou em tom sério, cruzando seus braços e dando um suspiro de desgosto. - Como você pode perdoá-lo depois disso... Nunca conseguiria olhar mais na cara desse ridículo.

Kyler e eu éramos muito apaixonados um pelo outro. Ele era colega meu e de Soph no curso. Nos víamos todos os dias e não enjoávamos nem um pouco de ficar grudados. Até que ele descobriu gostar de outra coisa, mudou o curso na época e se sentiu realizado. Assim passamos a nos ver menos, mas ainda íamos um na casa do outro. Depois de certo tempo toda essa paixão parecia estar estranha... Kyler parecia dar desculpas esfarrapadas, dizendo que não poderia me vez naquele dia... O que passou a se repetir cada vez mais. Três meses depois descubro estar sendo traída atravéz de um novo perfil que ele havia criado em suas redes sociais, onde postava fotos com uma suposta nova namorada. Foi assim que meu mundo caiu e nunca fiz questão de falar ou ver ele mais, lhe evitando de todo o jeito possível.
Até que um dia eu esbarro com ele na faculdade, esse estava acabado, parecia não dormir a anos, estava magro e aparentemente todo arrependido. "Me desculpa", "Fui idiota", eram as frases que ele mais falava. Assim simplesmente relevei tudo que aconteceu e dei uma suposta "paz" a tudo que havia acontecido. Eu o perdoei e falei para que ele não se preocupasse. Mas deixei claro também que não queria nada mais, nem uma amizade, com ele.
E foi assim que passei a perder o interesse por ter relações mais complexas com homens.

Me lembrar de toda a história que havia acontecido em meu primeiro namoro e escutar as teorias (que até faziam sentido) de Soph, me fez querer, de certa forma, mudar meus pensamentos em relação ao assunto "homens".

- Talvez eu devesse me envolver com alguém mesmo... - eu parecia estar me rendendo a ideia.

- Mas é óbvio que sim! E isso vai acontecer hoje a noite. - a certeza de suas palavras me davam certo medo. - Tenho duas entradas vips pro camarote da minha balada favorita que fui chamada. Sabe como é ser importante em eventos...

Ambas debochamos da situação.

Por ter sido muito famosa no meio da moda, ela ainda era bem conhecida na cidade e as vezes a chamavam para eventos ou festas, para atrair mais pessoas e venderem mais ingressos. Claro que ela aceitaria, já que adorava festas e tinha motivos pra se manter ligada nas suas redes sociais (que certamente bombavam muito).

- Hoje a tarde a gente vai sair comprar um vestido babado pra você. Quero ter orgulho de te ver feliz e arrasando corações. - ela irradiava um sorriso enorme.

- Ok... Mas sabe que não gosto de exageros. - meu sentimento era de alegria e ressentimento ao mesmo tempo.

Algo lá dentro, bem escondido, me lembrava Samuel... O qual eu iria me forçar a deixar pra lá e seguir pra outro...

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⏰ Última atualização: Jan 29, 2020 ⏰

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