Quebre Este Espelho

Presságio

  O cheiro forte de fumaça estava impregnado no ar. Era difícil respirar, mesmo com a ajuda de um pano cobrindo o nariz.

  Alexa não sabia o que fazer. De início, ela imaginara que estava vivendo um de seus inúmeros pesadelos, contudo, quando ela percebeu sinais de que aquilo era real, ela entrou em choque.

  O fogo continuava destruindo tudo o que encontrava pela frente e Alexa se viu encurralada.  A única saída era a janela de seu quarto que tinha mais de cinco metros até o chão. Seria uma queda feia e, com sorte, só quebraria alguns ossos. " Melhor do que morrer carbonizada", ela pensou.

  Alexa tomou sua decisão. Aproximou-se da janela, olhou para o chão e mesmo sendo uma pessoa incrédula, ela orou. "Não me deixe morrer. Não hoje. Não antes de eu encontrar minha irmã."

  Ela fechou os olhos e colocou uma das pernas para fora. Suas mãos estavam trêmulas e o coração palpitando a toda velocidade. "É agora." sussurrou para si mesma, mas antes que completasse seu movimento de se jogar da janela, alguém gritou por socorro.

  Alexa congelou no lugar, mais uma vez não sabia o que fazer, era difícil pensar quando se estava sendo intoxicada pela fumaça.

  "Socorro!" o pedido veio mais uma vez, seguido de um estrondo que indicava que alguma coisa havia desmoronado no térreo.

  Em desespero, Alexa retornou ao quarto e caminhou até a porta com passos apressados. Ela temia não dar tempo de sair do local antes das chamas se alastrar para os cômodos de cima. Abriu uma fresta e espiou o corredor, o qual estava encoberto de fumaça.

  O fogo crepitava no andar debaixo e o som das labaredas caindo elevava o desespero a níveis extremos.

   "Quem está ai?" Alexa gritou fazendo com que a fumaça invadisse sua garganta provocando uma série de tosses. Ela sentia a garganta fechando gradativamente.

  "Aqui!" Uma voz enfraquecida respondeu e ela tomou consciência de onde a pessoa estava. Caminhou até o último quarto do corredor e hesitou ao levar a mão à maçaneta. "E se for um deles?" A ideia deixou-a apavorada e estática. Ela não queria vê-los novamente. Não queria passar pela dor nauseante de novo.

"Por favor..." - Ouviu a súplica sendo sussurrada atrás da porta. Olhou para trás e a imagem que viu a tirou de seu transe. O fogo havia se alastrado para o corredor e se aproximava de maneira rápida. Ela teria que arriscar.

  Num impulso, adentrou o quarto e fechou a porta. Seu peito subia e descia de forma desesperada. Abriu os olhos, mas era como se não o tivesse feito.

O quarto estava imerso na escuridão.

"Quem está ai?" Alexa indagou num sussurro. Ela podia sentir a presença de alguém, mas não sabia se aquilo era bom. "Responda. Temos que sair daqui agora."

   Ela se locomoveu tateando as paredes, com o objetivo de chegar até a janela que estava coberta pelas cortinas padrão do lugar.

  Mais um estrondo, o que indicava que a estrutura poderia desabar a qualquer momento. Apressou o passo, contudo, antes de chegar na janela, alguém agarrou seu tornozelo arrancando um grito de sua garganta.

"Sou eu..." A voz sussurrou fracamente. Alexa conhecia aquela voz. Ela sabia exatamente quem era aquela pessoa.

"Temos que sair daqui." Ela disse tentando arrastá-lo para perto da janela, mas ele tinha inalado muita fumaça e estava com o pulso fraco.

"N-Não temos mais tempo, Alexa. Nunca tivemos."

" O que quer dizer com isso?" perguntou alarmada.

" Estou dizendo que estamos condenados. Que não há nada que eu ou você ou ninguém possa fazer para mudar nosso destino. "

" Você não está lúcido o suficiente para saber o que está falando. Você precisa me ajudar, temos que chegar até a janela."  Alexa tentou novamente arrastá-lo, mas suas forças estavam se esvaindo. A fumaça se intensificou e as chamas ficaram visíveis debaixo da porta.

Diante aquela visão, Alexa deixou-se cair de joelhos e se entregou ao choro compulsivo.

"Eu não quero morrer assim." Sussurrou. Ela sentiu sua mão ser entrelaçada e um beijo ser depositado no dorso.

" É assim que acontece. Nós estamos destinados a dizer adeus. "

"Eu não quero morrer assim!" Ela exclamou mais alto. "Eu não quero morrer assim!" gritou a plenos pulmões e no mesmo segundo as chamas invadiram o cômodo iluminando os dois corpos no chão.

Com as mãos ainda entrelaçadas, seus corpos foram tomados pelo fogo, e queimaram juntos, até tudo desmoronar.