Capítulo I

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° Reino Sekai.

A guerra se arrastava há meses. Conforme os dias iam passando, o exército do jovem rei diminuía consideravelmente.

Além de serem guerreiros excepcionais, os Sekai conheciam suas terras como ninguém, e isso lhes concedia grande vantagem na árdua batalha contra os invasores. Com a benção do Deus Jabari, príncipe Obasi Oloyade comandava seus homens com extrema sabedoria.

ㅡ Com todo respeito, meu Rei, ㅡ Iniciou general Thierry, comandante do exército de Wostrad. ㅡ Creio que Melvin esteja com a razão. Penso que voltar para Wostrad, com o pouco que conseguimos até agora, e alguns homens vivos, seja a nossa melhor opção. Estamos em menor número, sem alimento e sem água há dias. Dois mil homens fracos não nos levarão à vitória.

Dentro de uma das tendas improvisadas, no meio do deserto de Davu, estavam o Rei, Melvin, seu conselheiro e Elliot Thierry, comandante do exército real. Os três homens discutiam os próximos passos a serem tomados, a respeito da batalha contra os Sekai.

Com a morte do Rei Timothy Styles III, o reino de Wostrad se viu sobre o domínio do jovem príncipe Harry. Apesar da pouca idade, Harry governou o reino de Wostrad com tremenda maestria, elevando-o à um dos mais importantes e poderosos reinos do mundo. Seu exército, famoso pela sua crueldade e pelas inúmeras batalhas vencidas, era temido em todos os quatro cantos do globo.

Aos vinte e um anos, o Rei Harry casou-se com Grace Styix, do reino de Atrein, única filha viva do Rei Gregory Styix. Meses após o matrimônio, Gregory veio a falecer de causas até hoje desconhecidas, fazendo assim com que o jovem Rei de Wostrad se tornasse também o Rei de Atrein. Mas ter os dois maiores reinos em seu domínio não era o suficiente para Styles. Ele queria mais, muito mais. Com o desejo de expansão, ordenou que seu exército dominasse diversos territórios além mar.

Mas as conquistas só trouxeram mais sede de conquista.

Enquanto a harmonia e a prosperidade reinavam nos reinos de Wostrad e Atrein, os soldados obrigados a fazer parte do exército do Rei, perdiam suas vidas nos campos de batalha. Isso fez com que Harry, aos trinta anos, enfrentasse uma queda de popularidade que colocara em risco a sua coroa. Juntar-se ao exército na batalha pela conquista do reino Sekai, fora a solução que seus conselheiros encontraram para trazer de volta o amor imensurável que os povos de Wostrad e Atrein sentiam pelo Rei.
O povo festejou por dias a decisão do Rei em se juntar a seus filhos, primos, sobrinhos e irmãos, no campo de batalha. Para a população, isso mostrava que o Rei era alguém que tinha compaixão pelas vidas dos membros das famílias não pertencentes a nobreza.

O reino Sekai era um lugar muito belo, com um deserto extenso, florestas densas, solos férteis e mares que todas as vezes abençoavam os pescadores. Mas não era por causa do clima agradável, ou da paisagem magnífica que o Rei queria o reino Sekai para si, e sim por causa dos tesouros que o templo de pedra da Deusa Ashanti guardava.

Segundo alguns explorados enviados pela coroa, há muitos anos atrás, quando Harry ainda nem era nascido, o templo da Deusa Ashanti possuía uma vastíssima quantidade de objetos de ouro, dentre eles: joias, moedas, cálices, pratos, etc.

Os guerreiros Sekai usavam parte do ouro para construir suas armas e escudos. Os soldados do Rei de Wostrad e Atrein, após tirarem a vida dos oponentes, eram instruídos a recolher tais objetos de ouro.

Os dois homens se puseram apreensivos com o silêncio do Rei. De repente, este último colocou-se de pé, fazendo com que seu conselheiro desse um passo considerável para trás. Melvin, melhor do que ninguém, sabia das repentinas explosões de ira do jovem Rei.

ㅡ Então, ㅡ Em um gole só, finalizou todo vinho da taça que tinha em uma das mãos. ㅡ deixa eu ver se entendi corretamente: Vocês querem que eu volte para Wostrad sem vencer esta guerra, é isso?

Agora, eram os dois homens dos fios grisalhos que se mantinham calados. Melvin deu mais um passo para trás, depois de receber o olhar de fúria do Rei.

ㅡ O que essa atitude fará de mim, meus caros? ㅡ Se aproximou mais dos dois, ainda segurando a taça vazia. ㅡ Por que estão tão quietos? Sintam-se livres para responder, afinal é para isso que estamos aqui, não é?

O silêncio continuou marcando presença.

ㅡ UM PERDEDOR! ㅡ Elevou o tom de voz, jogando a taça na direção dos dois homens. Felizmente, ambos conseguiram desviar do objeto. ㅡ É isso que essa solução de merda me fará parecer! ㅡ Em mais um ataque repentino, derrubou tudo o que estava na mesa à sua frente. ㅡ Serei conhecido como o Rei Perdedor, cujo o exército não conseguiu derrotar um povo atrasado!

ㅡ Majestade.... ㅡ Começou Melvin, com certo receio.

ㅡ Não se atreva a abrir a boca para falar mais sandices! ㅡ Alertou, apontando o dedo para o conselheiro. Depois voltou os olhos para o general, e exigiu, com uma voz ameaçadora, que o mesmo prestasse bastante atenção em suas próximas palavras. ㅡ Ordeno que tragam a vitória para mim amanhã. Quero todos os soldados prontos para a batalha, mesmo que estejam gravemente feridos, está me ouvindo?!

ㅡ Sim, meu Rei. ㅡ Respondeu, antes de Styles se ausentar da tenda.

[...]

Em uma tenda maior que as restantes, dormia o Rei Styles. Seu sono pesado o impediu de notar que dois de seus homens faziam uso de uma tocha para atear fogo em tudo que estava dentro do local onde se encontrava.

Pouco tempo depois, o fogo comia a maioria dos objetos dentro da tenda, provocando um calor tremendo, que fez o Rei se revirar na cama. Styles abriu os olhos por um instante, notando as altas chamas.

ㅡ Majestade!

Ouviu a voz de Melvin, vindo do lado de fora. Tentou se levantar, mas perdeu o equilíbrio por um momento. Estava tonto, e com dificuldade para respirar.

ㅡ Majestade! ㅡ Ouviu novamente, mas o dono da voz agora parecia estar bem mais próximo de si. Sentiu alguém o segurar, e colocar um tecido sobre o seu corpo. ㅡ Precisa fugir, ir para bem longe daqui, antes que o resto deles acorde e resolva terminar o que esses dois começaram!

Com certa dificuldade, Melvin ajudou o Rei a montar em um cavalo. Deu um tapa no traseiro do bicho, e o viu partir com o Rei, pelo deserto.

[...]

Durante as noites quentes e estreladas como a de hoje, Sade Oloyade gostava de se refrescar no rio Zola.

Segurou o longo vestido, e pulou a janela do quarto com muito cuidado. Estava longe do palácio, passando a noite na casa de Neema, sua melhor amiga, mas não podia correr o risco de ser descoberta, pois sabia que os pais da amiga relatariam tudo para o seu pai, o Rei Talib Oloyade.

Mesmo com seus vinte anos, Sade ainda era tratada com uma menininha. Esse era o lado negativo de ser a filha mais nova.

O Rei Talib e a Rainha Nala eram pais de dois meninos - Obasi e Jaheem - sendo que o primeiro era o mais velho, e de três meninas - Nkechi e Nkuri, que eram gêmeas, e a caçula - Sade. Apesar da união com mais de uma pessoa ser permitida, Talib preferiu se manter fiel à Nala, seu primeiro e único amor.

Sade andou pelo quintal com cautela, tomando imenso cuidado para não assustar nenhum animal, abriu o portão, e saiu correndo em direção ao rio. Não tardou para chegar ao seu destino, uma vez que a casa de Neema não ficava muito longe do belo rio.

Antes que pudesse tirar a roupa, avistou o cavalo que bebia água. Inclinou a cabeça, confusa. Os animais não chegavam perto daquele rio, que era utilizado para lavar roupa durante a tarde.

Atravessou a ponte, com o objeto de chegar até o animal. Sade, agora do outro lado do rio, percebeu que havia um homem desacordado no chão, perto do cavalo.

Mzungu.ㅡ Proferiu baixinho, ao notar que o homem ali presente, possuía o mesmo tom de pele que um de seus professores.

The King. // hsOnde histórias criam vida. Descubra agora