Algumas pessoas disseram que o mundo acabaria em fogo, outras em gelo. Algumas pessoas ainda disseram com zumbis, mas ninguém poderia saber que ele acabaria assim. O mundo estava simplesmente desaparecendo. Pouco a pouco.
O Arco do Triunfo? Se foi. A Floresta Amazônica? Apenas uma grande área de grama. Pessoas desapareciam aleatoriamente sem deixar nenhum traço também. À primeira vista parecia que não havia nenhum padrão, porém com pesquisa incessante, cientistas finalmente descobriram a ordem.
Era alfabética. O mundo desaparecia em uma porra de ordem alfabética.
Meu nome é Rose Sinclair e eu vou descobrir o que está acontecendo antes de desaparecer.
Minha motivação aumentou quando o meu noivo, Eddie, se foi. Quando o apocalipse começou, foi ele que demonstrou a maior curiosidade. O cada vez mais próximo fim de tudo que conhecemos não parecia o assustar, mas sim o motivar a coletar muitos dados. Se não fosse por ele, talvez não pudéssemos descobrir a ordem alfabética desse desastre.
Foram duas semanas desde o seu desaparecimento e eu não tenho feito nenhum progresso. Obviamente, meu ritmo diminuiu sem meus dois colegas: Dae Kyung-joon e Alexia Gardner. Pelo menos o apocalipse respeitava diferenças culturais. Quando eles desapareceram eu pensei que fosse apenas uma brincadeira, mas agora eu me sinto mal por não ter ficado de luto por eles direito.
Eu não tenho tempo para o luto, eu preciso tirar vantagem do meu nome e por um fim a esta loucura antes que seja tarde demais. Talvez até reverter os seus efeitos. Eu amaria ter meu noivo e meus amigos de volta. Eu quase não penso em Eddie ou fico triste por ele já que a minha mente está se afundando em dados e lógica. Eu trabalho até a exaustão todos os dias, esperando encontrar alguma pista. Que força poderia causar tudo isso? Por que caralhos ela faria isso alfabeticamente? É algum tipo de entidade superpoderosa que é profundamente sarcástica e metódica?
Após semanas procurando, não havia nenhum traço da força por trás do fim do mundo. As pessoas estão assustadas demais para procurar agora, não há praticamente nenhum cientista procurando por respostas. Então nós nos reunimos antes que não pudéssemos viajar mais. O pânico é generalizado e a maior parte das pessoas decidiu tirar vantagem dos pequenos prazeres que sobraram. De todos os cientistas do mundo, apenas 50 queriam trabalhar. Desses 50, apenas 30 se reuniram por causa de seu próprio desaparecimento ou por problemas de transporte. Nós não temos mais aviões ou carros.
Nós vivemos com medo do desaparecimento gradual em progresso. Eu sinto falta de muita coisa na minha vida, porém eu ainda preciso entender como abacaxi não existe, mas nós conseguimos respirar. Minha colega, Sarah Montmorency, está perto de descobrir algo, mas não quer compartilhar. Ela é bem agradável de se trabalhar junto, se não contarmos com esse sigilo antes de confirmar seus pensamentos. Sua risada é parecida demais com a de Eddie, então eu evito passar tempo com ela. Ela notou isso, mas eu espero que ela não guarde rancor. Eu tenho muito com o que me preocupar agora para pensar em relações profissionais.
Sarah saiu, mas não antes de dar sua brilhante contribuição: eles estão seguindo o alfabeto romano. É por isso que oxigênio ainda existe, mas carvão e abacaxi não. Isso não parece se aplicar a tudo, nós ainda estamos tentando entender essas regras já que o carbono ainda existe. A ordem de desaparecimento foi quase completamente descoberta, mas nós não temos nenhum meio de retornar as coisas desaparecidas ou alguma pista de como isso acontece. As coisas não deixam nenhum traço após o desaparecimento, talvez porque nós já passamos a letra I (de indicium) há muito tempo. Eu tento imaginar como os detetives estão trabalhando.
Não que isso seja muito necessário agora, já que o crime se foi também. Agora chegamos à letra L. Eu vou sentir falta das livrarias e do linho que não são nada além de uma saudosa memória. Quanto tempo até nós não conseguirmos manter mais a vida?
Algumas vezes eu choro durante o trabalho. Muitos de nós o fazemos. Yamamoto sempre me conforta. A esperança desapareceu há muito tempo atrás. O que não faria sentido porque começa com S em latim. Yamamoto é uma boa pessoa, eu tenho medo do mundo que ela vai ver.
As coisas com M estão desaparecendo. Todos nós tememos o que aconteceria quando atingíssemos as letras H e O. Nós sobrevivemos de certa forma à letra H, mas não queríamos descobrir o que aconteceria em O. Nossos esforços estavam com concentração máxima mesmo que não chegássemos a lugar nenhum. Nós passávamos a maior parte dos nossos dias freneticamente revendo as evidências que já tínhamos coletado. Como se elas fossem magicamente nos dar a informação do que fazer. Eu não consegui ver os eventos que se desenrolaram porque fui atingida por uma motocicleta voltando do meu almoço. Yamamoto estava comigo. Ela segurou minha mão até minha vida se esvair. O horror estava estampado em seu rosto, mas ela não conseguia chorar. Infelizmente, morrer começa com M em latim e ainda não havia desaparecido. Eu nunca consegui chamá-la pelo primeiro nome. Ela nunca chegou a dizer que eu deveria levá-la a sério.
Eu morri mesmo assim.
Eu abri os meus olhos. Eles doíam um pouco, o pós-morte era claro demais. Eu olhei em volta e um humano alado tinha as costas viradas para mim, claramente usando um computador. Eu me levantei rapidamente, computadores haviam desaparecido há muito tempo atrás. Eu estava sonhando? Não. Eu havia morrido e minhas memórias estavam corretas. Eu decidi correr, ver o pós-morte com meus próprios olhos. Eu era uma cientista afinal, a curiosidade era uma parte integral minha, eles deviam saber disso.
Até a hora que a figura, supostamente de um anjo, percebeu minha ausência, eu estava bem na frente. Abrindo todas as portas e observando tudo, tirando a vantagem máxima do meu adianto. Eu registrei informações demais de uma vez, mas parecia que eu tinha uma solução tão próxima de mim. Porém não havia tempo de processá-las. Eu podia sentir as respostas para as minhas perguntas sussurrando, me chamando. Eu parei em uma sala particularmente interessante.
Ela era completamente branca com a exceção de um supercomputador e uma figura que permanecia mudando de forma que estava de pé próximoa a ele. Eu pude pressentir a figura como Deus, algum instinto primitivo o disse para mim. Eu tinha muitas perguntas, mas decidi espiar o que Ele fazia. Sua figura começou a se assimilar àquela de Morgan Freeman. Eu sempre gostei de imaginá-Lo dessa forma. Eu vi por cima de Seu ombro que Ele tinha uma lista em uma mão e um CD em outra, enquanto o computador deletava alguns arquivos.
- Não é certo espiar, minha criança. – Sua voz grave me fez dar dois passos para trás, envergonhada.
- O que você está fazendo? – Eu não consegui segurar a minha pergunta. Ele me deu um sorriso gentil.
- Estou apenas deletando alguns arquivos que tinham erros de instalação.
Foi nesse momento que as coisas se encaixaram, o título do arquivo era Orbis. Ou mundo em latim. O anjo de antes me encontrou e me fez desmaiar antes que eu pudesse dizer outra palavra. Eu não acho que conseguiria de qualquer forma, ele já estava 99% completo.
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O Fim do Mundo
Ficción GeneralEsse é um conto que eu escrevi baseado em um prompt do Tumblr e traduzido por mim: "Algumas pessoas disseram que o mundo acabaria em fogo, outras em gelo. Algumas pessoas ainda disseram com zumbis, mas ninguém poderia saber que ele acabaria assim. "