EP04

434 47 64
                                    

EPISÓDIO 04

the way it goes


Sehun Lawford tem dezessete anos e uma cicatriz no joelho.

Ele olha para as coisas com desinteresse e não fala sobre seus sonhos para ninguém.

Baekhyun Hawley tem dezenove anos e uma cicatriz no queixo. Ele costuma andar de cabeça baixa, porque aprendeu que é melhor evitar as pessoas certas, já que ele sempre é — e sempre vai ser — o único errado de todas as histórias.

Eles ainda se veem quase todos os dias. É o último ano de Sehun no colégio e ele continua sendo um membro da equipe de corrida; leva os tênis na mão para ir para a escola e volta sozinho no ônibus, espremido contra a janela perto dos bancos no fundo, porque ele não gosta da barulheira que os outros garotos fazem.

Sehun não gosta de ninguém, só gosta de Baekhyun e, apesar de topar com ele na maior parte dos dias, ainda é um tempo muito curto. Quarenta segundos, para ser mais exato. O tempo que leva da esquina onde o ônibus para até sua casa, o tempo que leva para ele passar por um Baekhyun que sempre segue a rua nesse horário, indo para lugar nenhum.

Ainda assim, mesmo esse curto espaço de tempo, onde eles não fazem mais do que cruzar olhares, já é infinitamente melhor que estar na companhia de colegas barulhentos. Sehun pensa isso agora e ele não acha que vai pensar diferente um dia.

Baekhyun ainda é seu herói, seu exemplo.

Antigamente, ao passar pela rua, o garoto Hawley guiava uma bicicleta com as mãos e vestia uma camiseta verde-escura, uma camiseta laranja, uma camiseta azul; cores diferentes para cada dia da semana — e também para cada um de seus humores. O mesmo ciclo se reiniciava toda segunda, e nesta época ele não usava coturnos pesados ou tinha maços de cigarro marcando o jeans no bolso das calças.

Agora, todas as vezes que desce do ônibus escolar, a primeira coisa que Sehun enxerga é o vermelho da jaqueta de Baekhyun. Se não fosse o vermelho, ele seria todo neutro; vestido de preto da cabeça aos pés, às vezes em tons de cinza. Agora ele fuma — embora não na frente dos vizinhos fofoqueiros e certamente não na frente de seus pais —, e, em vez de guiar uma bicicleta vermelha, ele guia a moto de alguém, empurrando-a até a esquina para montar nela e dar partida, pronto para sumir nas ruas cinzentas de Bradley e fazer as pessoas pensarem que ele nunca mais vai voltar.

Só que ele sempre volta.

Baekhyun fugiu na noite de sua formatura. Cinco dias depois, Sehun o viu no quintal dos fundos da casa do sr. Adley, deitado de costas na grama molhada e com uma paleta de amarelos, roxo-escuros e marrons colorindo o canto da sua boca e a curva acentuada da maçã do rosto.

Semanas depois, ele fugiu de novo. Sumiu no horizonte, desaparecendo no fim de uma tarde vermelha como o Inferno deve ser, e dez dias depois Sehun o viu sair pela porta de casa outra vez, com marcas arroxeadas escapando da gola do casaco e o vermelho escuro manchando o canto da boca, do nariz e até a esclera de um dos olhos.

Onde havia Baekhyun Hawley, inevitavelmente havia vermelho, como se ele exercesse magnetismo sobre aquela cor. E ninguém podia definir se isso era bom ou ruim, mas todo mundo podia concordar que não havia beleza naquilo.

Não há beleza quando as cores vêm da violência.

As pessoas haviam se acostumado com as fugas do menino Hawley, passando a encará-las como pura birra adolescente, como se ele nunca tivesse crescido de verdade, como se ele nunca fosse crescer. Enxergavam suas fugas como um apelo por atenção, como se ele fosse uma criança que chora no mercado porque os pais não compraram doce para ela.

james deanOnde histórias criam vida. Descubra agora