A origem de um grande gato escondido... Com um grande rabo de fora!

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Há muito tempo, num país distante, país de cerejeiras, gueixas, samurais e muito mais, nasceu e cresceu um gato. O que tinha de especial esse gato? Nada: era só um gato normal como tantos outros. Isto é, nada nos seus primeiros oito anos de vida! Mas passados esses oitos anos, altura em que os gatos por norma começam a envelhecer, esse gato, em vez disso, sem ninguém prever e saber como, começou a apresentar sinais de que, afinal, não era um gato qualquer: cresceu até ficar com basicamente o dobro do tamanho de um gato adulto médio; o seu rabo, ou melhor, a sua cauda ficou tão comprida como o resto do corpo e passou a ser preênsil; a sua força, a sua velocidade e a sua agilidade aumentaram bastante; as suas garras e os seus dentes tornaram-se mais aguçados; mas o mais surpreendente (ou o mais chocante) de tudo é que adquiriu sapiência humana ao ponto de tornar-se mais malicioso e de, pasme-se, começar a falar – e que bem que fala! O nome deste gatarrão? Akihagato. Em suma, um gato fora do normal, até mesmo no nome!

Mas esses atributos fantásticos pouco ou nada lhe valiam, uma vez que nunca teve coragem para atacar quem já sabia da sua presença – aliás, tais atributos chamavam a atenção para ele, o que não desejava! Então teve a ideia, muito original, diga-se, de cobrir-se com um arbusto, que incrivelmente parece nunca secar, para caçar em zonas com vegetação arbustiva, onde as suas presas não o detetariam até o «arbusto» lhes saltar em cima. No fundo, seria uma ideia genial... Se a cauda dele não fosse tão comprida ao ponto de ser impossível cobri-la com o arbusto ou outra coisa qualquer! E assim, com a cauda exposta e bem visível, a ideia de passar despercebido foi, desde o início, por água abaixo (e água é coisa que ele não gosta)!

Infelizmente, pelo menos para ele, as pessoas do seu país natal costumam desconfiar do que sai da normalidade, e o Akihagato não foi exceção: um gato grande e rabudo que fala e demonstra outras capacidades cognitivas tipicamente humanas? E que anda dentro de um arbusto?! Para aquela gente, coisa boa não devia ser de certeza!! E assim passaram a hostilizá-lo: enxotavam-no, atiravam-lhe coisas (entre elas água, algo que, como já dissemos, ele não gosta!)... Está bem que nunca foi santo nenhum, pois sempre teve um comportamento matreiro e oportunista; mas muitas vezes nem fazia mal a ninguém e já o tratavam com quatro pedras na mão assim que o viam – a começar pela cauda! E esta foi durante muito tempo a sua sina, sina de solidão triste para si e de desconfiança da parte dos homens vivos... E também de fome, pois mal se alimentava com o que ia encontrando no lixo!

Então a sua vida mudou um dia. Estava quase a deixar de ser meio-dia quando, de repente, a terra começou a estremecer e um rugido tornou-se cada vez mais audível numa dada zona do tal país das cerejeiras, gueixas, etc. Era um tremor de terra, algo bastante comum naquele país? Não, era apenas uma enorme turba de pessoas enfurecidas, empunhado catanas, paus e variados outros objetos, a perseguir o Akigahato – este bem tentou aproximar-se de onde estavam a assar uma grande quantidade de carne para tentar obter (leia-se surrupiar!) um naco,nem que fosse um naco pequenino, mas as pessoas desataram a correr atrás dele mal o viram, tal era o medo reativo que lhe tinham! Por causa do que já foi apontado, era impossível o Akihagato ocultar-se dos seus perseguidores. Estava o pobre gatarrão descrente em escapar a uma enorme sova coletiva dessa vez quando avistou um grande buraco no chão. Perdido por cem, perdido por mil, pensou ele;e, à falta de melhor sítio onde se enfiar, meteu-se lá dentro sem pensar duas vezes! Logo viu que o buraco era um túnel; resolveu então percorrê-lo rapidamente. Depressa chegou ao fim do túnel. E aí ficou fascinado com o que viu: um mundo novo, diferente daquele de onde vinha, e que lhe pareceu mais acolhedor e menos hostil. A sua vontade de o explorar era enorme, mas uma questão o atormentava: estaria ainda a ser perseguido? Olhou atenta e demoradamente para o seu lado posterior até ver que aqueles que o perseguiam ficaram para trás; soube mais tarde que esta e outras passagens desse mundo para aquele de onde veio só estão abertas em determinadas alturas, e que foi no último segundo que atravessou a passagem aberta durante o meio-dia. Já mais descansado, começou a explorar o mundo para onde foi parar.

Enquanto o explorava, encontrou outras criaturas como ele: criaturas que interagem com os homens vivos para se alimentarem e que, por isso, lhes causam receio. Descobriu então que era uma dessas criaturas – um Medo. E aquele era – e ainda é – o mundo onde habitam: o Mundo dos Medos.

Muito agradado com esse mundo e bastante feliz com a descoberta sobre si mesmo, o Akihagato estabeleceu residência lá tal como os outros Medos, e nunca mais pôs as patas no seu país natal. Isto porque entretanto descobriu no nosso mundo, após aparecer em algumas partes dele, uma grande cidade do nosso país de que gostou muito: uma cidade com um vasto património histórico-cultural, uma universidade de renome, uma maior tolerância à presença daquele felino anómalo e muitos espaços verdes. Foram principalmente estes dois últimos fatores que fizeram com que escolhesse aquela cidade, mais concretamente os seus espaços verdes, como área para aparecer neste mundo (só não aparece por volta do meio-dia, pois escolheu essa altura para descansar, homenageando dessa maneira a altura do dia em que descobriu o Mundo dos Medos!), geralmente para se alimentar afinal espaços verdes com arbustos são os sítios ideais para camuflar-se e assim atacar as presas de surpresa. Quer dizer, ele bem tentava fazer isso, mas a cauda sempre à mostra não o deixava!

O Grande Rabo do AkihagatoOnde histórias criam vida. Descubra agora