Acidente...

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  Seu corpo simplesmente desaba no chão. A potência do chute era colossal.
  - Levanta Carlos!! - Seu mestre lhe incentivava.
  De pouco a pouco ele foi se recobrando do golpe, sua visão estava levemente turva mas ainda sim, ele se levantou para mais. Se pôs de pé, firmou a guarda e fixou o olhar em seu alvo. Ele visava um chute no peito de seu mestre, um homem de quase 2 metros. Um silêncio se fez presente, ele se preparou e disparou. O golpe saiu perfeito e atingiria o ponto exato mas um balançar do braço de seu mestre o levou ao chão mais uma vez, mas agora ele se levanta rapidamente. Alguns golpes são trocados, nenhum muito sério, afinal era apenas um treino. O rapaz dá algum espaço, a fadiga era evidente. Seu mestre percebe.
  - Acho melhor terminarmos por hoje.
  - Não. - Ele ainda queria continuar. Mesmo não aguentando, ele queria aproveitar o treino contra um oponente real. Sendo que até agora foram apenas golpes em bonecos inanimados e treinos de repetição.
  - Tem certeza? - Ele o olha de cima.
  - Pode vir com tudo! - Ele levantou a guarda. - Não se contenha! - Sua voz era determinada.
  Seu mestre se colocou em posição, os dois se encararam. Carlos chutou visando a cocha de seu oponente. Não pareceu fazer nem cócegas. O homem a sua frente se preparou para um golpe. Instintivamente Carlos notou ser uma joelhada e foi assim, seu mestre jogou o joelho para frente mas no caminho, essa joelhada se transformou em um chute alto. Estava indo em direção a sua cabeça, mesmo com a guarda armada não pode com aquela potência. Foi levado sem consciência ao chão.
  Acordou com todos seus companheiros o olhando de cima. Ele voltava lentamente, se sentou no chão e apoiou a testa na mão.
  - Você está bem? - Perguntou um de seus colegas.
  - Tô... - Ainda não conseguia manter os olhos abertos por muito tempo, então piscava constantemente.
  Seus colegas começaram a rir da situação, ele entrou nessa e sorriu de leve.
  - Ok, podem parar. - Seu mestre falava a todos. - É hora de irem para casa. - Voltou para Carlos. - Desculpe, acho que me empolguei. Consegue ir sozinho para casa?
  Ele balançou a cabeça de leve e se levantou. Seguiu para o chuveiro junto com os outros e tomou um banho. Se vestiu, pegou sua mochila, colocou o óculos e se dirigiu para casa. Foi alcançado por seu colega Jean.
  - Eai Carlos. Que pancada ein? - Ele ria. Jean tinha mais ou menos 1,80, cabelos negros liso, olhos verdes, pele levemente morena, vestia uma camisa regata branca e uma bermuda cinza.
  - É. O treino foi duro hoje, ainda mais se eu tô cansado. - Ele passava a mão no pescoço.
  - Você que escolheu o Muay Thay. - Ele batia no ombro de seu amigo.
  - É, mas não achei que a rotina seria tão pesada. - Ele suspirava. - Escola, trabalho, treino...
  - Mas daqui a pouco você já termina a escola. Então fica mais leve, pode dormir mais. - Eles riram.
  Chegaram ao ponto onde Carlos pegaria o ônibus e Jean decidiu esperar junto de seu amigo.
  - E você? - Perguntou Carlos. - Como vai a vida
  - Perdi o emprego... - Ele sorria junto de um olhar vazio.
  - E como fica a mensalidade da academia?
  - A desse mês já está paga. Falei hoje com o mestre... - Ele recostou na coluna. - Ele me disse que caso eu não consiga outro emprego, ele me deixa frequentar mais umas duas aulas sem precisar pagar.
  - Se precisar eu empresto algum. - Jean acenou com a cabeça. - Mas pelo menos você tem um lugar pra ficar.
  - Brigou novamente? - Perguntou com um sorriso sarcástico.
  - Expulso de casa. - Jean arqueou as sobrancelhas.
  - Por que não me falou "cara"? Se quiser pode passar um tempo lá em casa.
  - Já tá pensando em cobrar aluguel né? - Ambos riram. - Mas não precisa, tô alugando um lugar. Por hora eu estou bem.
  - É você quem sabe.
  Esperaram mais ou menos uma hora até o ônibus passar. Jean se despediu e seguiu seu caminho. Carlos entrou no ônibus, colocou o fone e se sentou no primeiro banco, ao lado da janela. Não haviam quase ninguém nesse dia, exceto um senhor de alta idade no fundo, um casal nas poltronas do centro e o motorista obviamente. Ele apoiou a cabeça no vidro e olhou seu reflexo.
  Carlos tinha 17 anos, cabelo castanho jogado para o lado, dando a impressão de um topete na ponta, pele morena, uma pinta no queixo do lado direito. Corpo médio, vestia uma blusa cinza e uma calça preta. Mantia os braços cruzados, com o telefone em uma das mãos e a mochila entre os tornozelos.
  Logo no próximo ponto uma moça entrou seguida de um homem. Ela se sentou ao lado de Carlos, já o homem permaneceu em pé ao lado da moça. Ela puxou o telefone e começou a mexer nele. O homem se mantida em pé. Carlos olhou de relance para o lado e viu o rosto da mulher. Ela parecia incomodada com algo. Observou por um tempo e percebeu que o homem, a cada simples solavanco do ônibus, aproximava o corpo ao rosto da mulher. Ele percebendo isso se prontificou a falar com ele.
  - Amigo! - O homem olhou para ele. - Pode sentar fazendo um favor? - Ele o encarou.
  - Tô incomodando você? - Ele perguntou com arrogância.
  - Tá incomodando minha amiga. - A mulher o olhou com gratidão.
  - Então deixa ela falar isso pra mim. Quero ouvir da boquinha dela... - Ele novamente aproximou o corpo, dessa vez encostando no rosto dela.
  Carlos levantou imediatamente e o empurrou para trás, chamando a atenção dos outros passageiros.
  - Tá folgando! - Ele se colocava imponente.
  O homem cai em um dos bancos mas se levanta novamente preparado para um soco, porém, Carlos age rapidamente e lhe acerta uma cotovelada em seu rosto. O sujeito cai novamente entre os bancos.
  - Melhor não levantar! - Carlos diz com a guarda já armada.
  Seu oponente limpava o sangue que escorria de seu nariz.
  - Seu pivete! - Ele leva a mão para trás e puxa uma arma.
  Carlos paralisa com a cena, não da arma mas sim, do caminhão vindo na direção do ônibus. O choque é imenso e tudo fica escuro para ele.
...
  Ele abre os olhos, tudo parece brilhar. Quando sua visão começa a focar ele distingue as chamas. O caminhão com a frente arregaçada e o ônibus capotado estão a sua frente, alguns pedaços em chamas e corpos espalhados. Ele tenta levantar mas sente uma dor imensa em sua perna. Quando a olha, vê um pedaço de metal a atravessando. Ele pega o celular perto dele e entra nos contatos, se lembra de que Jean mora perto e liga para ele. Sua perna ardia com a ferida, ele firmava o maxilar para tentar suportar a dor.
  - Jean... - Sua voz estava abafada. - Eu tava no ônibus... um caminhão bateu na gente... preciso de ajuda... rápido, por favor... estamos a poucas ruas a frente do ponto que nos separamos... rápido... por... fav... - Ele perde a consciência ouvindo Jean gritar seu nome do outro lado.
...
  Gritos são ouvidos. Abrindo os olhos ele vê muitas pessoas ao seu redor, elas estão sem camisas, sujas e aglomeradas. As sombras não o deixavam distingui-los. Gritavam varias coisas ao mesmo tempo. Ele tenta se levantar mas sua perna arde, quando a olha, vê um buraco com muito sangue saindo. Ele grita com a dor. Um rapaz se aproxima dele.
  - Se acalma! Vou te ajudar. - Ele rasga um pedaço do pano que deveria ser sua camisa e enrola na perna de Carlos, dando um nó. - Chamem os guardas! Ele precisa de atendimento aqui!
  Após ele gritar, se abre uma fila entre as pessoas e três homens entram. O rapaz que o ajudava se afasta. Carlos tenta distinguir os homens mas sua visão se encontrava turva. O primeiro se aproxima e balbucia algo aos outros, um deles sai e volta instantes depois trazendo um quarto homem. Este se abaixa e segura a perna machucada. Carlos sente uma dor imensa e grita com todas as suas forças. Após alguns segundos ela simplesmente some. Ele abre os olhos e sua visão estava normal novamente.
  Ele olha para o homem que segura sua perna e inconscientemente ele se afasta. O homem tinha o rosto e as mãos peludas, um focinho e orelhas semelhantes a um rato. Os três em pé eram semelhantes, o da frente que parecia imponente vestia um terno e luvas brancas, era visível a gola de uma camisa preta e uma gravata branca, era barrigudo, uma tromba e orelhas deveras grande, pele acinzentada e alguns poucos fios de cabelo no topo da cabeça. Os dois atrás dele vestiam uniformes azuis, ombreiras pratas, os dois tinham orelhas de lobo e um focinho do mesmo.
  Carlos se levantou não acreditando no que via, mas ao seu redor haviam muitas outras "pessoas" bizarras. Desde pessoas que pareciam humanas ou que tinham traços humanos, até seres de rocha pura.
  - Monstro! Monstro! - Ele gritava enquanto procurava uma saída em meio aos seres que o cercavam.
  Analisava rapidamente o local. Era um quarto enorme, não haviam janelas em nenhuma das paredes, estas eram sujas e contendo rachaduras em alguns pontos. Uma única porta era vista, por onde os homens entraram, feita aparentemente de ferro. No teto uma luz saia de uma bola encontrada alí. A sala era imensa, aproximadamente cem seres estavam aglomerados ao seu redor.
  - Melhor se acalmar garoto! - O homem de terno branco lhe falava. - Fingir estar louco não irá te tirar daqui.
  Ele parecia prestar atenção nas palavras do homem mas na verdade, olhava era a saída. Ele encarou os três obstáculos. Os Lobos de uniforme notando suas intenções, partiram para o ataque. Retiraram do cinto uma espécie de cano que brilhou em um tom vermelho. O primeiro visou a cabeça dele. Levantou o bastão com a mão direita e aplicou um golpe na diagonal mas Carlos antecipou, deu um passo para a esquerda e com toda sua força, aplicou um soco no maxilar de seu oponente. Em condições normais ele teria acabado a luta nesse ponto mas por seu oponente, não possuir um queixo totalmente humano, ele apenas cambaleou para trás. Aproveitando a oportunidade, chutou sua perna o fazendo cair de joelhos. Pelo canto do olho ele vê o segundo atacando, só tendo tempo para colocar o antebraço contra o bastão. A dor era forte mas nada que ele não agüentasse no momento. Ele se recompõe o bastante para levar o pé nesse oponente e afastá-lo. Com o embalo volta uma joelhada na cabeça do que estava caido de joelhos. Ele caí sem consciência.
  Agora faltava apenas um e este continuou o ataque. Vinha em alta velocidade, ergueu o braço e aplicou toda sua força neste golpe. Carlos firmou a base e contra atacou com um chute alto. Por um instante sentiu sua perna queimar, o chute bem colocado se chocou em cheio contra a arma. O bastão brilhante se partiu em dois. Ele santa para trás e tentava ganhar distância mas Carlos o alcançou e acertou uma cotovelada em seu queixo e de essa vez  fazendo o oponente perder a consciência. Ele seguiu agora para o homem de terno branco. Este apenas deu alguns passos para o lado, bateu palmas e se manteve distante.
  - Meus parabéns! Pode ir. - Carlos o encarou enquando ele dava passagem.
  - Onde estou? - Ele se encontrava ofegante.
  - No mercado Central, em minha casa pra ser mais exato. Mas saia, você merece. - Ele sorria arrogantemente.
  - Vão me trazer de volta. - Ele presumia com a atitude do homem.
  - Não se preocupe, ninguém ira lhe trazer de volta para cá. Na verdade iremos colocar você lá fora. - Ele arrumava a luva branca nos dedos.
  Carlos olhou para os outros e todos pareciam clamar para ele não ir mas ignorando isso, ele partiu. Passou pelo homem com rosto de elefante e cruzou a porta. Mantia a cautela mas parou, olhou para o que o esperava e bufou de raiva. Haviam no mínimo 20 guardas o esperando com aqueles mesmos bastões em mãos. Ele ouviu a risada do homem, vinda de dentro da sala enquanto todos avançavam sobre ele, o batendo com toda a força, todos ao mesmo tempo. Depois dos primeiros 10 minutos de espancamento ele pensou.
"Por que não desmaio quando preciso?"

Gantlets de MattskháOnde histórias criam vida. Descubra agora