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   Lucy entrou no apartamento de Brian, sorridente como sempre, mas estranhou a seriedade do colega. Ele fechou a porta trás dela, sem dizer nada, e em seguida, a chamou para sentar com ele no sofá.

   — Tem algo errado? Você parece tão sério... — ela o encarou, esperando alguma resposta, mas ele ainda não sabia como começar a falar.

   — HGL, você sabe o que é isso?

   — Eu sei, mas por que está perguntando agora?

   — É o seguinte, você o reconheceu quando o achou?

   — Agora que você falou, acho que eu já vi ele em algum lugar, mas faz tempo... Minha mãe tinha um gato da raça dele, é estranho, ele também era meio louro e tinha olhos azuis.

   As coisas estavam começando a tomar um rumo que Brian não esperava, como aquilo foi acontecer?

   — Sua mãe?

   — Sim, ela tinha um gato, igualzinho ao Roger, mas aí ele fugiu, faz tempo, ela adorava aquele gato, ficou com ele por quase um ano.

   — Qual era o nome da sua mãe?

   — Lisa.

   Ele respirou fundo, não sabia se era uma boa ideia contar para ela sobre o híbrido, ele não queria acreditar que ela faria uma coisa daquelas. Sua esperança era que a Doutora Boynton da qual Roger falava fosse apenas uma mulher com o mesmo nome.

   — E o que você sabe sobre HGL?

   — Harris Golden Laboratory, minha mãe trabalhou lá por anos, eles faziam pesquisas para achar remédios...

   — Pesquisas... Um instante.

   Brian foi até o quarto, pegou seu notebook silenciosamente para não acordar Roger e voltou para a sala, sentou ao lado da veterinária, abrindo o Google e pesquisando sobre o que havia acontecido com o Laboratório Harris Golden.
  
   — Sua mãe ainda trabalha lá?

   — Não, o laboratório foi fechado e ela se aposentou, ela nunca falava comigo sobre o trabalho, apenas o de sempre, que as pesquisas estavam muito lentas, o orçamento estava horrível e que eles faziam...

   — Experiências com humanos.

   Brian leu em um dos resultados, uma notícia de três anos atrás, falando sobre o fechamento imediato dos Laboratórios Harris Golden.

   — Laboratórios Harris Golden são fechados sob suspeita de experiências humanas e com animais... — Lucy leu. — Minha mãe nunca me contou isso.

   — Pelo que parece, pagaram uma fortuna para esconderem essa história toda, mas apenas um dos jornais manteve a notícia... — Ele estava concentrado, lendo a matéria. — Animais e pessoas foram encontrados no local, ninguém sabe pra onde foram levados, eles sabiam de muita coisa...

   — Mas Bri, como a gente pode confirmar se isso é real? Experiências entre humanos e animais, parece coisa de filme, alguém pode ter inventado isso pra explicar o fechamento dos laboratórios.

   — Isso é real, eu sei que é... Ele não inventaria isso.

   — Ele quem?

  Antes que Brian pudesse responder, os dois ouviram um chiado bem agudo, olharam para trás e lá estava Roger, de pé no corredor, completamente arrepiado, olhando para os dois no sofá.

   De costas, Lucy era idêntica a ela.

   E se Lucy fosse ela?

  E se Brian estivesse planejando colocá-lo em um laboratório com a ajuda dela?

   E se Brian estivesse mentindo?

   E se Brian não gostava dele de verdade?

   E se Brian apenas quisesse se aproveitar dele assim como a Doutora Boynton?

   Tantas coisas passaram pela sua cabeça, mas apenas uma coisa passou pelo seu coração.

   A dor da traição.

   — Você... Por que você está com ela? — As mãos dele tremiam.

   — Roger, eu posso explicar, ela está me ajudando a...

   — Não sei por que eu confiei em você... — Ele olhou para a porta rapidamente, Brian sabia que ele iria tentar fugir, então foi correndo para a frente da porta. — Vocês querem me jogar lá de novo não querem!?

   — Quem é você? — Lucy se levantou, arregalando ao perceber que ele tinha orelhas e um rabo. — Brian...

   — Sim ele é o gato da sua mãe, ele não fugiu de casa, ela o levou para um laboratório, ele faz parte dos experimentos. — Ele encarou Roger, viu que ele estava prestes a chorar. — Roger ela é filha daquela mulher, ela não fez mal nenhum a você, não precisa ficar desse jeito, ela também quer te ajudar.
  
   — Roger, você não lembra de mim?

   Os dois se encaram por alguns segundos, Roger se lembrou de estar no colo de uma garota, ela o acariciava e gostava de ouvir música junto com ele, como ele pôde esquecer de Lucy? As coisas horríveis que ele passou naqueles dois anos preso no laboratório apagaram suas memórias com Lucy.

   — Eu... Gostava dos lacinhos que você colocava nas minhas orelhas. — Ele correu até Lucy e a abraçou. — Desculpa, eu esqueci de tanta coisa...

   — Eu nunca imaginei que você fosse meio humano. — Ela mexeu nas orelhas dele, sorrindo logo em seguida. — Não precisa mais ficar assim, está tudo bem agora, o Brian e eu vamos te ajudar com as memórias e a te manter seguro.

   — Bri... Eu posso ficar no seu colo? — Ele pediu envergonhado.

   — Venha. — Brian sentou no sofá, colocando Roger no colo. — Viu só? A Lucy não vai fazer nada pra você.

   — Voltando ao laboratório, essa é a única notícia sobre o HGL que fala sobre experimentos com pessoas e animais, acho que você tinha razão, pagaram pra esconder a história. — Ela sentou no sofá, pegando o notebook, já que o Roger já ocupava o colo de Brian. — Acha que devemos investigar isso mais a fundo? Com certeza deve ter algum vídeo escondido sobre isso...

   — Roger eu não quero forçar sua cabeça, mas você consegue lembrar de mais alguma coisa?

   — Enquanto eu estava no laboratório, não chamavam ela de Doutora Boynton, chamavam ela de... Doutora 773, é isso mesmo.

   — A HGL tem vários laboratórios, você consegue lembrar aonde ficava? — Lucy perguntou, ela ainda estava tentando se acostumar com o rapaz com orelhas e um rabo de gato.

   — Eu só lembro de que quando eu fugi, eu corri no meio mato, corri até parar em uma estrada, e eu segui a estrada...

   — Ótimo, é só pesquisar a localização dos laboratórios e...

   — Espera, eu não sei se isso é uma boa ideia. — Brian interrompeu. — Roger, isso é um trauma, você tem certeza que quer descobrir sobre isso?

   — Minha mente precisa ficar em paz Brian, pode doer, mas eu preciso saber o que aconteceu, de onde eu vim, como eu fui criado... Eu preciso saber, faz parte de mim. — Ele sorriu de canto, apoiando sua cabeça no corpo de Brian. — Acho que seria muito melhor se eu soubesse de tudo do que ficar fritando meu cérebro em dúvidas.

   — Você tem certeza disso?

   — Tenho, mas só vou conseguir se você for comigo...

   Ele segurou a mão de Brian, entrelaçando seus dedos com os seus.

   — Você é o único humano em quem eu confio.

Meow!? • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora