One

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   Senti meu coração estraçalhar-se uma vez, aos meus doze anos, quando meu pai deixou à mim e minha mãe. Senti de novo aos dezesseis, ao ser abandonado pelo meu melhor amigo e também por minha sanidade psicológica. Em meados de Janeiro, próximo aniversário de dezenove anos, tentei suicídio. Naquele dia fui hospitalizado. Tenho a teoria de que foi ali que minha vida começou, pois foi ali que te conheci.

  Ao abrir meus olhos senti as luzes brancas queimarem minhas retinas, então os forcei a permanecerem fechados por mais um tempo. Sinto uma dor intensa em meu abdômen o que me faz grunhir. Você ouviu, então apressou os outros a pegarem logo os remédios e o soro.

 Desde a primeira vez que olhei em seus olhos pude sentir uma preocupação que ninguém havia tido até então. Você se importava, sempre se importou, se lembra?

 Com os medicamentos voltei a dormir. Do ponto em que eu estava, pouco me importava todo o resto do mundo. Eu só precisava desligar, e foi o que todas aquelas agulhas conectadas a mim me permitiram fazer, sou grato a elas. Passei horas assim, desacordado, e o primeiro rosto que vi quando finalmente consegui abrir meus olhos foi o teu. Me lembro como eu aproveitei teus devaneios para admirar cada detalhe do seu rosto, fica bonito sério mas consegue ficar ainda mais sorrindo. Seus olhos tem um brilho límpido, eles mostram muito da tua alma. Posso dizer com tranquilidade que eles são as melhores coisas do mundo, e minhas preferidas, mas claro que na época eu ainda não sabia disso tudo.

  Não pude conter o riso quando o vi fazer uma careta para o bloco de notas que estava em suas mãos, foi naquele momento que você finalmente olhou para mim. Você ficou corado ao notar que estava sendo observado, achei aquilo gracioso e tenho certeza que deixei transparecer ter gostado disso, pois suas bochechas só ficavam mais avermelhadas a cada segundo naquele silêncio. Silêncio esse que você quebrou.

— Finalmente acordou, senhor Kim. — Você disse em um tom profissional, ou pelo menos tentou. — Sou Jeon, o enfermeiro encarregado para de você.

— Que horas são, Jeon? — perguntei, na intenção de fazer aquele ambiente ficar mais sereno.

— 23:51. — disse apontando para um relógio na parede, em frente a minha cama. Após isso se aproximou um pouco, e lembro como nesse momento eu me senti um tolo.

— Céus! estou atrasado, droga! Acho que não será hoje que poderei ir à minha festa com Yoongi e Jimin...—  falei, logo após comecei a gargalhar. Eu sei que deveria levar tudo aquilo mais a sério, e sei que minha mania de sempre brincar sarcasticamente com tudo te deixava um pouco irado, mas o que podia fazer?

— Parece que não… Mas se quiser, podemos comprar um daqueles bolinhos duvidosos na cantina e acender um isqueiro em cima dele, é tão glamuroso quanto. — você disse, me acompanhando na risada. Naquele momento pude sentir meus olhos brilharem e minha alma esquentar, tua risada sempre fora tão gostosa de ser ouvida.

 Lembro-me de termos uma náusea épica depois de comermos os bolinhos - duvidosos, como dissera você. - que você comprou para mim. Mas não me arrependo de forma alguma. Aquela foi a noite mais tranquila que já tive em anos, e teu sorriso me acalmou o suficiente para me fazer descansar, verdadeiramente descansar; Porém as consequências de termos ficado até 4 horas da manhã conversando - ou sussurrando. -, e rindo de situações desastrosas, não foram tão boas para ti. Me lembro como chegou morto de sono e pesado de cansaço no turno do dia seguinte, quero me desculpar por aquilo.

𝑩𝒓𝒆𝒂𝒕𝒉𝒆 » 𝑻𝒂𝒆𝒌𝒐𝒐𝒌Onde histórias criam vida. Descubra agora