Capítulo 2

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Não era legal.

Não que eu já não soubesse como hospitais funcionavam. E como cada dia naquele lugar se tornava uma tortura. Mas aquele cheiro me enjoava. E eu nunca tinha sido cobaia de ninguém.

Eu já deveria ter encontrado com no mínimo, uns duzentos médicos. Todos eles não tinham respostas, todos eles faziam as mesmas perguntas, e todos eles desencavavam meu acidente. Como se só agora os efeitos colaterais fossem aparecer.

Zelena assim como Emma não saia de perto de mim, quando uma não estava a outra ficava em seu lugar. As duas estavam mais desesperadas que eu. Sem saber como a minha memória desapareceu e quando ela voltaria.

As lágrimas começaram quando as respostas começaram a se tornar recorrentes:

- Não sabemos ainda, vamos fazer mais exames.

- Não nunca vimos nada parecido antes.

- Você tem convulsões? Ou já teve?

- Nenhuma parte do cérebro dela está danificado.

Resumindo. Não havia nada que se pudesse fazer. E eu já estava conformada, normalmente eu tinha um ímã para esse tipo de coisa.

E agora além da falta de memória, eu tinha problemas pra dormir, sentia falta de alguma coisa eu nem sabia o que era, e a vontade de chorar era costumeira, e quase nunca me deixava.

Naquela manhã, Emma abriu as cortinas antes que eu acordasse. E olhar pela janela era a única forma que me mantinha atenta ao tempo e espaço, porque de resto, assim como as minhas lembranças, estava, completamente, perdida.

Eu não conversava muito, não estava preparada para conhecer os últimos 8 anos, eu ainda estava muito assustada com a falta deles.

Os sonhos, viraram uma rotina e as dores de cabeça constantes. Em algum momento, durante minhas paranoias, imaginei meu cérebro com todos os fios soltos e toda vez que a dor na cabeça aumentava, um curto circuito acontecia ali dentro. Mesmo sabendo que isso era a coisa mais absurda da face da terra, eu não parava de tentar achar uma explicação, por mais idiota que fosse.

Quase todos os dias, eu tinha o mesmo sonho, e quando eu tentava lembrar do que eu tinha feito na última semana, mês ou o que quer que fosse, meu cérebro parecia derreter. Como se alguém acendesse um maçarico bem perto para começar a deformá-lo. E então, tudo parecia um borrão, como se céu e nuvens estivessem se misturando, eu caindo e nunca aterrissando.

E tentando lembrar de como eu cheguei até aqui, eu fechei os olhos, e no segundo seguinte eu já estava sonhando.

***

Aquele era o meu apartamento, eu o reconheceria de longe. Havia algumas mudanças, como a vista para o Central Park, que fora substituída por um jardim belíssimo e digno de um filme. A escada que levava ao andar de cima estava coberta por um carpete creme, do mesmo tom que o tapete da sala, que agora estava cheio de brinquedos.

Um pequeno homenzinho passou ao meu lado como um míssil, ele usava um pijama do Bob Esponja, cabelos despenteados, e levava um brinquedo na mão.

- Henry, já conversamos sobre correr - avisei indo atrás dele.

O garoto se sentou no chão e puxou todos os legos que alcançou com seus bracinhos para perto dele.

Um a um ele ia encaixando, montando alguma coisa, mas o que quer que fosse, para ele fazia sentido.

Eu estava na cozinha, observando-o dali, e colocando leite em sua mamadeira. De dez em dez segundo, Henry me olhava, esperançoso, esperando seu leite. Ele deveria estar com fome.

When a Look at YouOnde histórias criam vida. Descubra agora