Dias Difíceis

810 83 8
                                    


Eu sempre escutei meus pais, embora sempre houvesse aquele tom exagerado por trás dos conselhos. Eu sempre os escutei.

D. Mary era mais dramática, e seu David mais sucinto. Se ele não concordava, ele dizia. E eu puxei isso dele.

Embora não fosse meus traços hereditários que me fazia pensar neles enquanto eu olhava o balancete da editora. Eu mal assimilava os números em minha frente, apenas batia a caneta sobre os papéis de forma contínua. Os números não estava ruins quanto no mês passado, e isso era um alivio exorbitante.

Uma preocupação a menos. E esperançosamente depois da reunião de hoje, levantar a editora não seria mais um problema.

Contudo, mesmo assim, aquela dor de cabeça infernal não me abandonava. Soltei a caneta e busquei um alívio enquanto massageava as têmporas.

Tudo em vão, já que mais uma vez lembrei de meu pai.

No dia do meu casamento ele passou ao meu lado, enquanto minha mãe e Zelena cuidavam de Regina. Eu não sei se ele era um tipo de vidente, entretanto o que ele disse caia como uma luva agora.

Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava dar o nó na gravata, não que eu não soubesse como fazê-lo.

Mas hoje era diferente. Hoje era um dia especial. O dia em que eu formaria minha própria família com a mulher que eu amava perdidamente.

- Deixe-me ajudá-la - ele disse rindo. - Você tem que se acalmar, desse jeito Regina vai ficar viúva antes do casamento. - Soltei uma risada ofegante misturada com nervosismo enquanto ele habilmente ajeitava o nó. - Eu também fiquei assim no dia em que casei com sua mãe. Nós éramos bem jovens, e esse foi um dos melhores dias da minha vida. - ele se afastou e me fez olhar para nossos reflexos no espelho.

Meu cabelo estava trançado e mesmo com um batom vermelho em meus lábios, era inegável o ar masculinizado, e o quanto me parecia com ele. Mesmo usando um terno feminino, se eu usasse barba e cabelos curtos, com certeza, me confundiriam com ele.

- Seu avô também ficou ao meu lado, e ele me deu um conselho, e que agora chegou minha vez de repassá-lo a você. - ele me virou para ele e segurou meus ombros firmemente. - Ninguém conta o que acontece depois do "eu aceito". O álbum de fotografias vai estar repleto de imagens e memórias felizes, mas não é só disso que um casamento se mantém. Vai haver dias difíceis e delicados, sua mãe e eu também passamos por momentos assim. Mas nós sempre resistimos, e nós nos amamos muito. Assim como vejo esse mesmo amor, em você e em Regina. - balancei a cabeça indicando que eu estava ouvindo e que ele continuasse - Por isso, por mais difícil que o problema pareça, sempre tem uma solução, então não desistam quando as coisas ficarem feias, as pessoas só dão valor as coisas depois que perdem, não cometam esse erro.

Eu o abracei e o agradeci, não apenas por isso, mas por ser esse cara incrível que ele sempre foi.

- Desculpa interroper esse momento fofo, gente - Ruby abriu aporta do quarto de supetão, meu coração acelerou, não pelo susto, mas sim porque eu sabia o que ela estava fazendo ali.

Ela sorriu para mim enquanto eu respirava fundo tentando acalmar os nervos.

- Ela está chegando.

Honestamente, eu não tinha percebido o peso das palavras dele até agora. E eu acabei descobrindo o sentimento de dor e angustia quando ela olhou para mim e não me reconheceu.

Antes disso, eu sentia raiva e mágoa.

Nos primeiros anos juntas tudo foi maravilho. Os problemas tinham soluções... Ninguém guardava ressentimento e toda e qualquer briga acaba em sexo ou em risadas.

When a Look at YouOnde histórias criam vida. Descubra agora