A feitiçaria moderna, na Europa e nos EUA, é um fato. Ela não é mais uma relíquiasubterrânea da qual a camada restante, e até mesmo a própria existência, é acirradamentedisputada pelos antropologistas. Ela não é mais o passatempo bizarro de um punhado deexcêntricos. Ela é a prática religiosa ativa de um número substancial de pessoas. Sobre oquão grande é este número não existe certeza, porque a Wicca, além do coven individual,não é uma religião hierarquicamente organizada. Onde organizações formais de fatoexistem, como nos Estados Unidos, isto se aplica à razões legais e tributárias, não parauniformidade dogmática ou o número de membros. Porém os números são, por exemplo,suficientes para manter uma variedade de periódicos ativos e para justificar a publicação deum corpo literário sempre crescente, em ambos os lados do Atlântico; portanto umaestimativa razoável seria a de que os adeptos da Wicca em atividade chegam agora àdezenas de milhares, no mínimo. E toda evidência sugere que o número está crescendo comregularidade.A Wicca é ao mesmo tempo uma religião e uma Arte – aspectos que Margaret Murraydistinguiu como "uma feitiçaria (Arte) ritual" e "feitiçaria operativa". Como uma religião –tal como em qualquer outra religião, seu propósito é colocar o indivíduo e o grupo emharmonia com o princípio criativo Divino do Cosmos, e suas manifestações, em todos osníveis. Como uma Arte, seu propósito é atingir fins práticos por meios psíquicos, parapropósitos bons, úteis e de cura. Em ambos os aspectos, as características distintas daWicca são a sua atitude orientada na Natureza, sua autonomia em pequenos grupos semqualquer vazio entre o sacerdotado e a "congregação", e sua filosofia de polaridade criativaem todos os níveis, desde Deusa e Deus até Sacerdotiza e Sacerdote.Este livro está relacionado ao primeiro aspecto – Wicca como uma religião, ritualmenteexpressada.As feiticeiras, como um todo, gostam de ritual – e elas (*) são pessoas naturalmentealegres. Como os adoradores de outras religiões, elas crêem que o ritual apropriado as elevae enriquece. Mas seus rituais tendem à ser mais variados do que em outros credos, variandodesde o formal até o espontâneo e também diferenciando de coven para coven, segundosuas preferências individuais e as escolas de pensamento (Gardneriana, Alexandrina,'Tradicional', Celta, Dianica, Saxônica, e daí para frente) nas quais eles se basearam.(* Sendo a Tradição Mágica essencialmente feminina, eu traduzi Witch/es comoFeiticeira/s, apesar de que uma tradução "normal" seria no masculino devido ao costumeimposto pela sociedade em se dar preferência à este gênero ao se referir à coletividadehumana).Mas ao passo que o reavivamento Wicca do século vinte amadurece (e em muitos covenspassa para sua Segunda geração), a animosidade entre escolas que frustrava seus primeirosanos tem diminuído considerávelmente. Os dogmáticos ainda se criticam entre si nosperiódicos – mas seu dogmatismo é condenado de forma crescente por outroscorrespondentes como sendo inútilmente separatista; e a maioria dos covens comuns estásimplesmente entediada com isso. Os anos lhes tem ensinado que seus próprios caminhosfuncionam – e se (como nosso próprio coven) eles tem amigos de outros caminhos, estestambém vieram à compreender que aqueles caminhos também funcionam.Desta maior tolerância mútua surgiu um entendimento mais amplo da base comum daWicca, seu espírito essencial que pouco tem à ver com os detalhes da forma. Também, coma troca de idéias através da palavra escrita e através do contacto pessoal mais aberto, há umcorpo crescente de tradição compartilhada do qual todos podem usufruir.
É como uma contribuição para este crescimento que oferecemos nosso presente livro. Para ser válido, e útil, qualquer contribuição desse tipo deve ser um ramo brotando de modo saudável a partir do tronco mãe da nossa história racial, tanto quanto as formas específicas da prática Wicca como ela agora sustenta (em nosso caso as formas Gardneriana/Alexandrina); e isso é o que temos trabalhado para realizar.
Afortunadamente, existe uma estrutura que é comum para todos os caminhos Wicca, e deveras à muitos outros: as Oito Celebrações.
O moderno calendário da feiticeira (qualquer que seja sua 'escola') tem sua raiz, como aquele de seus antecessores através dos séculos incontáveis, nos Sabás, celebrações sazonais que marcam pontos vitais no ano natural, pois a Wicca, como temos sublinhado, é uma religião e Arte orientada à Natureza. E uma vez que, para as feiticeiras, a Natureza é uma realidade de níveis múltiplos, seu 'ano natural' inclui muitos aspectos – agrícola, pastoral, vida selvagem, botânica, solar, lunar, planetária, psíquica – sendo que as marés e ciclos destes todos afetam ou refletem entre si. Os Sabás são os caminhos das feiticeiras para celebrar, e colocá-las em sintonia, com essas marés e ciclos. Pois homens e mulheres também são parte da Natureza de múltiplos níveis; e as feiticeiras se esforçam, consciente e constantemente, para expressar aquela unidade.
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A BÍBLIA DA FEITIÇARIA - Janet e Stewart Farrar
SpiritualJanet e Stewart Farrar estão entre os bruxos mais influentes da história da Bruxaria Moderna, cujas obras amplamente publicadas formaram as bases dos praticantes da Wicca Tradicional ao redor de todo o mundo. Suas obras são leitura obrigatória para...