Capítulo 1

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"Há muito eu não via

do alto da minha janela

princesa tão bela

como esta que meus olhos

estão a observar".

(Por Estevão)

Nada como uma grana curta para fazer eu me mudar de um apartamento bem localizado, onde, de moto, em cinco minutos eu estava no centro da cidade ou em vinte minutos no meu trabalho, para outro em um bairro onde Judas perdeu as botas.

O prédio do meu novo endereço parecia abandonado. A pintura era de uma cor indecifrável. Eu não saberia dizer se a fachada era bege, marrom, branca, preta ou um mural de pichadores.

E a síndica? Parecia que era a "prima do Matusalém"!

Quando vi o local pela primeira vez, me espantei. Eu havia parado a moto do outro lado da rua e minha atenção foi direcionada às sacadas. No primeiro andar elas eram grandes, no segundo andar eram pequenas... Esse revezamento entre grandes e pequenas me intrigou. Que tipo de arquiteto projetaria uma merda daquelas?

Abri o portão de entrada e ele relinchou, estava enferrujado, cheguei a temer me ferir nele e contrair tétano. Ao me aproximar da portaria me convenci de que só olharia por pura educação, pois já tinha combinado com a síndica.

O exterior daquele lugar faria qualquer um pensar que encontraria mendigos deitados pelo chão, muita sujeira e tudo destruído por dentro, porém, não foi com isso que me deparei... E me surpreendi.

Admito que não poderia dizer que o hall estava em perfeitas condições, mas não era péssimo. E isso me fez considerar que, talvez, o prédio fosse habitável.

Olhei para os lados e não vi ninguém no balcão que, deduzi, seria o do porteiro. Aproximei-me e me encostei nele à espera do porteiro, achei que ele pudesse ter saído para resolver algo.

Inclinei-me para procurar uma campainha, um sino ou qualquer coisa que pudesse servir para avisar que alguém aguardava ser recebido, porém, as únicas coisas que encontrei foram um computador desligado, daqueles saídos do túnel do tempo, e uma cadeira velha toda rasgada.

Atrás da velha cadeira, na parede, encontrava-se uma pequena placa com um smile e os dizeres: "Sorria você está sendo filmado". Olhei para cima procurando pela câmera e vi apenas a fiação saindo de um cano, o que indicava que ali, algum dia, deve ter existido mesmo uma câmera instalada.

A primeira avaliação foi péssima... Portão sem tranca, nada de interfone, porteiro ou câmera. Segurança zero! Qualquer pessoa poderia entrar e sair sem problema nenhum. O lugar parecia que não poderia ficar pior.

Olhei o relógio do meu celular, três horas da tarde, horário combinado com a síndica, e eu estava ali, pontualmente esperando por ela e nada. Propus-me a esperar no máximo mais dez minutos, contudo, em cinco, uma senhorinha que deveria ter cerca de trezentos e cinquenta anos saiu do elevador. "Sério que aquilo estava funcionando?"

Com certeza ela era a síndica... Um primo do meu amigo Ian morou nesse prédio, e foi através dele que fiquei sabendo do apartamento disponível e da descrição peculiar da síndica.

— Estevão? — A voz dela me fez, quase no mesmo segundo, lembrar-me da minha avó.

— A senhora é a síndica? — Deus a esqueceu aqui na terra? Pense numa senhora idosa! A passagem dela para o céu deve ter sido emitida faz tempo, mas parece que não a localizaram para entregar.

— Sou sim. — Ela estendeu a mão e a cumprimentei. A pele flácida e muito branca deixava à mostra as veias azuladas. — Lúcia.

— Um prazer conhecer a senhora, dona Lúcia — disse, observando que a sua altura não passava do meu cotovelo. Tudo bem que eu tenho um metro e oitenta.

8º Andar (O Amor mora no andar Debaixo) [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora