Capítulo 1 - Visitas inconvenientes

16 4 2
                                    

Domingo, quatro da tarde. Um dia de sol muito quente ardia lá fora. Tive pena de quem não queria mas precisou sair de casa.

Estou largada na minha cama olhando para o teto há alguns minutos, pensando no que fazer. Minha Netflix já devia ter raiva de mim de tanto que abri o aplicativo e fechei decidindo não assistir nada. A minha cama ficou tão feliz que moldou meu corpo no colchão para que eu ficasse ali pelo resto da minha vida, mas precisei trair ela (desculpa cama), eu queria fazer alguma coisa. Agora o quê seria uma bela de uma aventura para descobrir.

Começando por sentar na cama (sintonizar a vontade da mente de fazer algo quando o corpo não quer requer passos pequenos). Pela janela que fica ao lado, eu conseguia ver grupos de amigos caminhando, namorados de mãos dadas, pessoas contemplando a própria companhia com seus fones de ouvido... Sorrindo como se fosse um belo dia. Para eles, é bem provável que possa ser um belo dia, mas para mim é complicado. Quando a vida adulta te faz desacreditar de muita coisa, tudo fica complicado.

Uma das coisas que sempre achei interessante é como o mundo inteiro resolve ficar feliz e bem educado quando nada anda bem para você. Fica parecendo que a lei de Murphy só é aplicada à sua pessoa e ninguém mais no mundo tem a má sorte que você tem, insistindo em te mostrar que todos tem motivos para sorrir e agradecer quando você só tem vontade de mandar todo mundo tomar no próprio orifício anal e ficar emburrado em um canto.

Provavelmente eu teria motivos para estar bem, não é mesmo? Final de semana, dentro de casa sem pegar um sol escaldante de verão, deitada sem fazer nada... Parecia um dia tranquilo e bacana, se não fosse o fato de que eu teria que receber minha família de visita em algumas horas.

Não me leve a mal, eu amo minha família.

Meus pais são pessoas carinhosas, sempre me deram suporte sobre minhas decisões e apoio quando as coisas não deram certo, mas nos últimos meses eles andam meio invasivos quanto à minha vida amorosa. Depois que meu irmão mais velho arrumou uma namorada faz três anos e acabou se casando à uns dois meses atrás, acho que eles querem garantir uma participação mais ativa na minha vida antes que eu divida ela com outra pessoa... Ou vai ver só não querem que eu vire uma tia liberal com um emprego que paga bem e que não tem de se apegar à algum lugar ou alguém para sair viajando por aí curtindo a vida sozinha (ou como eles gostam de chamar, "uma solitária mal amada"). Se eu posso ser sincera, a segunda opção parece mais tentadora.

Eu estava desesperada para arranjar alguma coisa e deixar eles ocupados o máximo que eu conseguir para não ter que responder àquelas perguntas constrangedoras e comentários desnecessários como "e então, está vendo alguém?", "mal posso esperar quando chegar a sua vez de subir no altar", comparações ao meu irmão e outras coisas que me tiram do sério. Durante as refeições,  planejei que iríamos comer fora para não ter que ficar trancados em casa dando liberdade à minha mãe para falar coisas estranhas. À noite eu chamaria eles para uma caminhada ou ver um filme, e durante às manhãs de dias úteis estaria trabalhando então não teria tanta preocupação assim. Pensar nisso me deixou mais calma.

E em menos de vinte minutos de sossego da minha ansiedade, o barulho ensurdecedor da campainha ecoa no meu apartamento.

****

Ah, me desculpa, onde estão meus modos não é mesmo? Esqueci de me apresentar. Meu nome é Louise Pennold, tenho 21 anos e vivo no sudeste de Londres, mais especificamente no distrito de Deptford. Saí de casa há dois anos após terminar a escola, e depois de ser rejeitada pela faculdade dos meus sonhos, basicamente eu sou apenas uma jovem tentando a vida adulta sem ter um colapso nervoso. Eu sei, bem clichê não é? O pior é que eu nem tento, mas te conto os detalhes mais tarde.

Waiting For The Unexpected (Esperando Pelo Inesperado)Onde histórias criam vida. Descubra agora