Os uivos dos ventos da montanha gelada, combinados com o silêncio daquele grupo pequeno, apenas contribuía ainda mais para o terror, lúgubre, que pairava no ar. O professor, com seu bigode bem feito e agora arrepiado pela visão que estava diante de si, respirava de maneira ofegante, enquanto os dois guardas, atrás de si, possuíam olhos arregalados. Boquiabertos e ao mesmo tempo fascinados, seus olfatos captaram um cheiro doce e estranho naquela instalação que, misteriosa e recentemente, havia se erguido da neve após centenas, talvez milhares de anos. O odor, bastante agradável por sinal, era algo nunca antes experimentado pelas pessoas ali presentes, uma mistura de hortelã com canela e alguma coisa mais. De fato, era um cheiro que nunca esquecerão pois, infelizmente naquele momento, o olfato não era o único sentido ativo. Estendido diante de seus pés, logo de primeira, estava um esqueleto humanoide que, encostado na escotilha, simplesmente caiu para trás. Seus ossos, tão frágeis pelo tempo, se desprenderam do corpo do morto, impactando contra a neve, rolando alguns centímetros de forma aleatória e afundando parcialmente na branquidão.
O senil, embora ainda tão perspicaz e inteligente quanto era na juventude - ou pelo menos era o que acreditava, retomou sua consciência mais rápido que todos os outros. Na verdade, não era completamente culpa daqueles restos humanoides que aquelas pessoas haviam ficado tão assustadas e boquiabertas logo de primeira: era a estrutura interna daquela, considerada desde o começo uma cápsula do tempo, que parecia tão avançada tecnologicamente quanto a dos dias atuais, quem sabe além.
Quando é dito "dias atuais", remete-se imediatamente à 1993, ano de sua descoberta. Um exímio pescador e seu filho, na Groenlândia, sentiram uma leve vibração na água sob seu barco de madeira imediatamente após e o som da neve deslizando e do gelo quebrando, ecoando de forma abafada e mínima da montanha mais próxima. O avalanche foi de um grau tão grande que cidades costeiras nas proximidades, inclusive a sua própria, foram arrastadas e soterradas juntos, sendo levadas até o oceano salgado e glacial. O impacto, ainda violento, dos destroços e do gelo criaram uma grande onda, que arrastou o seu barco e outros além dele para o mar. A onda destruiu barcos e afogou famílias, mas por algum milagre aquele pequeno barco, em conjunto com mais um, embora esse último esteja vazio, sobreviveu. Estavam longe da costa, mesmo que ainda seja visível no horizonte. O pai foi lançado violentamente para a base do barco, batendo sua cabeça e perdendo sua consciência. Quando acordou, seu filho estava em estado de choque e não dizia uma palavra sequer. O impacto psicológico, para a criança, foi tão grande que, mesmo uma semana após o resgate, nenhuma palavra sequer foi dita, deixando os investigadores do acidente sem nenhuma pista adicional do que quer que tenha acontecido. Havia uma semana do acontecido e o governo da Groenlândia imediatamente acobertou o ocorrido como um mero deslizamento de neve.
O professor se abaixou e checou, primeiramente, o crânio daquela criatura humanoide mais de perto, constatando um fato assustador: não era humano. Há um crescimento acentuado da parte traseira e inferior do crânio, símil ao ser humano, embora a parte frontal permaneça ainda alongada e os dentes ligeiramente pontiagudos; sua mandíbula também estava encaixada de forma que um espécime primata esteja escancarado na face branco-amarelada do esqueleto. Engolindo em seco, ele ocultou suas descobertas dos dois guardas que lhe acompanhavam, claramente bem treinados fisicamente, mas provavelmente possuindo pouco conhecimento em arqueologia e biologia, simplesmente virando ligeiramente sua cabeça e proferindo para ambos.
— Macho. - Sua voz saiu rouca e falha, talvez por conta do frio, colocando suas mãos nos joelhos e se levantando, pigarreando assim que conseguiu se manter ereto na medida do possível, ainda inclinado ligeiramente para frente. Por mais que seja experiente em sua área, não podia vencer a idade, que havia tirado-lhe muito da beleza que tinha antigamente, como folhas amarronzadas caindo no outono. Suas mãos estavam encolhidas nos bolsos do casaco largo e pesado que vestia, enquanto seus passos ecoavam pela construção misteriosa, que talvez seja mais recente do que aparenta ser do lado de fora. Os guardas atrás dele apontavam lanternas ligadas, apoiadas em rifles automáticos, para várias direções ao mesmo tempo, procurando alguma ameaça. Seus cérebros jovens, com certeza em um lugar tão sombrio, lúgubre e misterioso, havia liberado adrenalina para seu sangue e lhes deixado em um grande estado de alerta.
O velho, no entanto, pigarreando mais uma vez e fungando, mexendo seu lábio superior e junto com ele seu bigode, pegou da pequena bolsa que havia trazido uma lanterna, girando sua parte superior para encaixar a bateria e, então, ligando-a para gerar sua própria luz. Ao contrário dos jovens, o professor sentia fascínio, mas também talvez seja uma estratégia de seu cérebro para esconder o medo que já sentia. Seus olhos percorreram as paredes, emolduradas com pedaços hexagonais de vidro e algum metal tingido de azul-claro. Na sua frente, havia cerca de dois deles, arranhados e empoeirados, bem grandes. A diferença de temperatura, agora notada pelo professor, lhe levou a ainda mais conclusões, olhando seus arredores, para as paredes. Elas pareciam ser feitas, por dentro, por algum tipo de material isolante. Parecia algum tipo de borracha ou sólido flexível de coloração cinza, agora apresentando desgaste do que antes poderia ter sido um trabalho incrível de arte e física.
Enquanto a temperatura exterior era de aproximadamente -5 graus Célsius, ali a temperatura aumentava para, novamente de forma aproximada, 0 a 1 grau Célsius. Para um local antigo e esquecido, não possuía características de nem antigo e nem esquecido. Aquele agradável cheiro, para o professor, chegava a ser estranho, de tantos túmulos de Faraós que havia aberto e de tantas aldeias rurais que já havia visitado. O que havia deduzido, naquele momento, era que havia algum tipo de mecanismo ainda funcionando para manter uma climatização e um odor agradável - ou pelo menos isso era sua esperança. Apenas de imaginar quantos benefícios o conhecimento de tais descobertas traria para a humanidade e para si, ele já estava disposto a deduzir ainda mais. Qualquer seja aquela criatura que havia visto na escotilha de entrada - e nesse momento estava muito mais inclinado a chamar a espécie de Símil -, possuía certa sensibilidade olfativa, talvez, e não suporte odores muito fortes. O corpo do professor girou em seu próprio eixo, olhou para os arredores daquele lugar, com seus olhos arregalados e atentos. Os símbolos eram hieróglifos, mas não correspondia a nenhuma comunidade conhecida por ele, quem sabe até pelo ser humano. Aquela sala em especial não tinha muita coisa além dos painéis à frente do professor, que agora mais pareciam telas de display. Havia uma elevação triangular de pedra na frente das molduras de vidro, e o professor deduziu imediatamente que era ali que, caso aquelas molduras fossem realmente displays, algum operador sentava. A sala era assimétrica: o lado esquerdo estava com alguns destroços do que parecia ser um móvel de pedra; irreconhecível a esse ponto. Um dos guardas sussurrou, chamando sua atenção enquanto esse se aproximava dos destroços, prestes a analisa-los.
— Soren. Velho. —
O homem de cerca de vinte e oito anos apontava sua lanterna para uma escadaria entalhada em pedra. Logo sua lanterna foi seguida pelas outras duas. Os dois guardas tinham uma sensação ruim sobre tudo isso, e não estavam nem um pouco inclinados a descer lá. O velho, percebendo essas sensação dos dois, pigarreou mais uma vez e sussurrou em resposta.
— Um minuto. —
Talvez por conta do uivo mais agudo do vento passando pela porta, quase como um assobio naquela breve tempestade de neve que se formara recentemente, também pelo mistério pairando no ar daquele local intocado por inúmeros anos, alguma pressão superior lhes impedia de falar muito alto. O professor se aproximou e, retirando um par de luvas de sua bolsa, se abaixou devagar por conta de sua idade e remexeu nas ruínas de pedra. Ele achou hieróglifos esculpidos ali, novamente de nenhuma civilização conhecida e apresentando grandes semelhanças com aquelas imagens estampadas na parede. Esses, no entanto, parecem ter sido feitos às pressas, mesmo que esculpir geralmente demore muito e não seja uma opção tão viável em uma situação de adrenalina. Ele, ainda abaixado, olhou para a entrada, para aquele esqueleto de antes, começando a ter uma visão maior do ocorrido, por mais que não seja um detetive.
Ele se levantou, deixando as pedras como estavam. Depois, iria pedir para que os rapazes lhe ajudassem a carrega-las para estudos mais aprofundados em laboratório. Ele e os dois guardas agora desciam as escadas acinzentadas e o professor apenas acompanhava o ritmo lento e desconfiado dos que estavam à sua frente. Alguma coisa, até mesmo para o professor, lhes dizia para não prosseguir, talvez suas mentes se negando a dar mais um passo. Talvez um mecanismo de autodefesa, como se soubessem o que estava por vir. Talvez. Mas prosseguiram, um passo de cada vez.
E lá estava, o fim da escadaria, a entrada para um lugar ainda mais escuro e amplo. Não se ouvia quase nada. Silêncio, um silêncio ensurdecedor e perturbador, e novamente os uivos do vento, que ecoavam escadaria abaixo, mas se perdiam por entre aquela extensa sala. O que viam, no entanto, era diferente. Eles sim viam alguma coisa. Várias luzes esverdeadas, com espaços predefinidos e fixos entre elas. A luz da lanterna, no entanto, não chegava a tamanha distância de onde estavam, com os fótons se perdendo rapidamente na escuridão, como crianças na floresta. O Professor respirava pesadamente, tentando puxar o máximo de ar possível para seus pulmões, mas o fato é que é muito difícil puxar algum oxigênio para os pulmões, e ele sentia que não devia estar ali. Todos os três sentiam. E se bactérias, portando doenças antigas e inexplicadas como aquele lugar, ainda persistissem ali? O Professor não poderia recuar agora, no entanto. As luzes pareciam hipnotizantes, mesmo à distância, e ele espontaneamente se sentiu reprimido, indeciso, desorientado. Um dos guardas, quase no mesmo estado, encostou sua mão no ombro do Professor, que nesse momento estava, talvez movido pela própria curiosidade, pelo próprio medo, avançando em direção às luzes. Mas o medo, a adrenalina, não seria para afastar os seres do perigo? Havia algo estranhamente atrativo naquelas luzes retangulares e verticais.
— Velho... Devagar. Ah, Deus... Ah, Deus... Devagar. — O pânico de Soren era perceptível, enquanto devagar virava sua arma de um lado para o outro, extremamente atento. Naquele momento, o homem esteja sentindo ilusões auditivas, o efeito do ensurdecedor silêncio, como um zumbido em seus ouvidos, havia dado brecha para que seu próprio subconsciente faça as mais pesadas peripécias. Era visível, agora que os dois estavam na frente de si, que ambos suavam frio, que suas mãos estavam ligeiramente trêmulas, embora tentem se manter firmes para segurar suas armas. O Professor estava em estado semelhante: suava frio e tremia enquanto se aproximava das luzes esverdeadas. Tinha que sair dali, tinha que sair dali. Quando as luzes estavam próximas o suficiente, os fótons das lanternas refletiram no que parecia ser o começo de uma cápsula de vidro. Parando por alguns segundos e se entreolhando, enquanto o professor olhava de maneira desconfiada para os lados e para trás, apontando sua lanterna, embora não haja nada em sua visão exceto o chão é uma profunda escuridão. Ele estava passando mal, hiperventilando.
— Soren. Ilasiak. Huff... Huff... — Os guardas tiveram que parar de se aproximar e dar apoio ao velho, mas o Professor tentou afastar um dos guardas, que nesse momento não sabia quem, com uma das mãos.
— Quero... Ver. Preciso... Ver. — O Professor aos poucos se recompunha, tentando acalmar sua respiração e retomar sua pressão normal. Ele não esperou tanto, porém, logo se aproximou, na frente dos guardas, criando alguma coragem movida pela vontade e entusiasmo ou, na pior das hipóteses, pura curiosidade. É sabido o que dizem sobre a curiosidade. Conforme o professor se aproximava, revelava-se mais daquela cápsula: Parecia um grande tubo, cerca de dois metros de altura, suspenso no chão por um tripé de algum material que o professor nem se importou em deduzir no momento, e sua parte externa estava recoberta por gelo, de forma que não era visto o que havia em seus interiores. A mão esquerda trêmula do professor tocou o gelo, alisando seus dedos ali devagar. Por um segundo, sua mente vagou, enquanto seu rosto se aproximava devagar da cápsula, tentando ver o que estava além da camada de gelo. Em seu subconsciente seu nome soou, com vozes de todos os tipos de tonalidades, em uníssono.
— Axel. — O Professor afastou sua mão espontaneamente, caindo para trás e se arrastando desesperadamente em direção aos guardas, hiperventilando. Era uma ilusão auditiva. Apenas uma ilusão auditiva. Oh Deus, não...
— Isso... Está indo longe... Demais. Vamos... Sair, rápido... Por favor, rápido! — A exclamação do professor ecoou por toda a sala e eles escutaram um baque muito alto no andar superior: A grande escotilha de entrada se fechando, que novamente ecoou por todo o recinto. Era um som alto e ensurdecedor, a ponto deles sentirem mais um deslizamento de neve pelas vibrações no solo e nas paredes. Ilasiak entrou em pânico: gritou e começou a atirar para frente, em direção às cápsulas, acreditando estar sob ataque, enquanto recuava a passos rápidos do grupo que se jogou ao chão pelo barulho ensurdecedor e pelo susto. Os batimentos cardíacos de Axel estavam muito acelerados, ele estava velho demais para isso; não suportaria muito mais. Ele sentia as frias mãos da morte lhe abraçando, o velho começou a lacrimejar sem parar, de puro terror.
As luzes verdes das cápsulas desapareceram. Abaixo delas, uma luz amarela surgiu, indicando danificação em sua estrutura. Todos ali escutaram um alto zumbido vindo de todas as direções, que ficava cada vez mais alto até chegar em seu ápice e subitamente parar por alguns segundos. O silêncio que antecede a tempestade. Outro barulho ensurdecedor, grunhidos inumanos e luzes azuladas vindas das cápsulas, criando silhuetas no vidro que se contorciam sem parar. Movimentos aleatórios, demonstrando profunda dor, a ponto do grupo conseguir ver os seres boquiabertos e olhando para cima, outros tendo aparentes convulsões e outros simplesmente dobrando o próprio corpo de forma não-humana, em conjunto com sons horríveis de ossos se quebrando e músculos se distendendo. Um verdadeiro show de horrores. Sem precisar justificar suas ações, Soren atirou no companheiro,que caiu desacordado no chão. O Professor, em posição fetal, foi praticamente arrastado, colocado nos ombros pelo homem que começou a correr o mais rápido que podia em direção à saída, sob a luz azulada que aquele terror criara.
E ambos conseguiram chegar à escada, precisando de um esforço inumano para sequer sair do lugar, Soren desabou aos pés da escada, escutando o vidro se quebrando naquela sala, todos ao mesmo tempo, além do baque abafado, porém alto, de todos os corpos também caindo praticamente ao mesmo tempo. Axel estava fora de si. Novamente com um esforço inumano, o velho conseguiu se levantar, subindo as escadas correndo e, após alguns segundos de gritaria incompreensível por parte de Soren, escutou passos correndo atrás de si; pesados, como o do homem. O velho desabou ao atingir o topo da escada, rastejando até a escotilha, com uma grande dor no peito, que irradiou para o estômago e para a mandíbula em um tempo que pareceu uma eternidade para o velho que estava sob imensa pressão. Ele escutou os gritos de Soren, tiros de um rifle automático, vários estalos horrendos e estouros molhados e abafados vindo das escadarias.
Agora estava suando frio. Ele olhava para cima, tentando puxar algum ar para seus pulmões, mas não conseguia, era inútil. Ele sentia seu mundo girar, sua cabeça doer e seu estômago se contorcer. Ele não conseguia se mover, rapidamente soltou sua gravata, desabotoou dois botões de sua camisa, de maneira instintiva. Ele escutou várias batidas e gritos na escotilha atrás de si, vários homens e mulheres chamando pelo seu nome, fazendo-lhe perguntas que não conseguiria responder e nem conseguia entender no momento. Ele escutava batidas muito fortes e sentia o metal pouco se amassando do seu lado esquerdo. Os passos pesados, ainda mais que os de Soren, no entanto, se aproximavam... Devagar... Em um ritmo horrorizante. A criatura ainda estava se acostumando de novo com seu corpo, que começou agora a emitir um leve brilho fosforescente principalmente na área do rosto, logo se transformando em um leve brilho branco. Axel não conseguia olhar, não podia olhar. Ele fechou seus olhos, virando seu rosto, mas quando sentiu a respiração do ser em seu rosto, ele lentamente virou sua cabeça para ele, ainda com aqueles insuportáveis sintomas em seu corpo.
Axel abriu devagar seus olhos, e lá estava a criatura, lhe encarando com seus olhos acastanhados e brilhantes. Seu rosto parecia muito com um rosto humano, exceto que havia apenas dois orifícios ovais no lugar do nariz e havia uma elevação convexa oval na área de sua boca e bochechas, para frente. Ao mesmo tempo, era algo tão horrível que nem mesmo as mais perspicazes mentes, como a de Axel, conseguiam descrever com precisão o que exatamente era o rosto da criatura. Uma boa parte de seu rosto, exceto na região perto daqueles dois orifícios, estava coberta por pelos cinzento-escuros, ou uma tonalidade bem esbranquiçada de verde e eles pareciam se mexer de forma aleatória, hora ou outra criando falhas e rasgos que revelava o que quer que esteja sob aquela faceta obscura. A criatura mostrou seus dentes ligeiramente pontiagudos e tortos, bem devagar, quando notou que o velho a olhava de volta.
— Axel! — Novamente todas aquelas vozes do subconsciente do Professor, gritando em uníssono, dessa vez de forma muito alegre e até infantil. Axel gritou o mais alto que conseguiu para os agentes do lado de fora, que apenas escutaram um estouro abafado e molhado. E, então...Silêncio.
Não houve deslizamento do lado de fora. Não houve sequer uma perturbação na estrutura da montanha, então... O que diabos foi aquela vibração?
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Horror"Nossas mentes limitadas não podem sequer pensar o que está além de nosso próprio mundo, nosso próprio cosmos. Não importa o quão longe chegue, o caminho se estende ao infinito; e é impossível ter completa noção do infinito."