"Há uma atividade anormal em sua área", o rádio avisou, com a voz de um homem. "Ah, Deus... O canal... O canal... Por favor saia daqui, se estiver escutando isso", o rádio avisou, com a voz de uma mulher. O rapaz sentiu um calafrio na espinha, olhando lentamente para a direita e para baixo, de cima da ponte onde passava, para o canal. Ele viu pequenas ondas localizadas serem formada na água, enquanto o sangue macula o azul-escuro de vermelho. O rapaz se recusou a olhar por muito mais tempo quando pedaços de ossos estilhaçados começaram a emergir, apressando seu passo. "Mais uma vítima... Pobre garota", o rapaz pensou, se encolhendo um pouco mais, tanto pelo sentimento de desespero e angústia, quanto pelo frio naquela noite enevoada. Ele se perguntava se sua morte também iria ser dolorosa... Ele sempre se imaginou morrendo em uma luta, não desistindo nem um segundo sequer, mas... Como você luta contra coisas assim? Contra criaturas anômalas? Estava destinado a ocorrer, mais cedo ou mais tarde.
As pessoas se escondiam em suas casas, se encolhendo de medo. As ruas vazias, ocasionalmente com algum pedaço de carne desmembrado na entrada de algum beco, em uma poça de sangue. Eles dizem para as pessoas ficarem em suas casas, se escondendo Deles. Mas o rapaz sabia a verdade; as criaturas anômalas poderiam se manifestar em qualquer lugar, a qualquer hora, com apenas uma mensagem em seu rádio avisando as pessoas na proximidade, para que a ameaça seja evitada. As pessoas rezam, então, para que não seja a própria voz deles, após tal aviso, mandando uma mensagem para os vivos.Como chegou a isso? A humanidade se acovardando de medo, esperando que seja outra pessoa que esteja na guilhotina... Como chegou a isso?
Tais pensamentos se afastaram um pouco quando o rapaz viu o rosto dela. Sentada em um banco na praça central, local que sempre fora o lugar de encontro dos dois, desde que começaram seu relacionamento. Ela estava cabisbaixa, sua expressão indicando a mesma coisa do rapaz. Desespero, angústia, desamparo. Ela ergueu sua cabeça, olhando para ele que se aproximava, assustando-se por um momento, e então se levantando devagar. O rapaz se aproximou dela, parando à sua frente, trocando olhares, sem dizer uma palavra sequer. A garota lentamente se aproximou do peito do rapaz, deitando sua cabeça ali e envolvendo suas mãos ao redor de seu torso. O rapaz correspondeu ao abraço. Um pouco de conforto, nesses dias terríveis; quase como uma consolação, ou um remédio para o desamparo. Mas ambos sabiam que não, tudo não iria ficar bem no final. Não havia como evitar, não havia como fugir. Ambos sabiam disso.
A garota quebrou o silêncio, sussurrando para o homem. "... Talvez devêssemos... Fazer como os outros? Talvez..." Ela disse, como se quisesse acreditar que as medidas implantadas pelas autoridades eram efetivas, e não simplesmente falhas e desesperadas. O rapaz apertou a garota mais forte em seus braços, a pressionando um pouco mais contra seu peito. "Não importa... Eu queria ver você... Estamos em perigo onde quer que estejamos", ele sussurrou de volta, quase como se fosse para mantê-la em silêncio, para que ele possa apreciar o momento, por mais fugaz que ele possa parecer. A garota, no entanto, ainda sim sussurrou de volta ao rapaz. "Também queria te ver. Não sei quando eu v--", ela simplesmente parou de falar, os músculos de ambos ficando tensos Subitamente, suas respirações interrompidas, enquanto escutavam um bipe familiar. Ambos os rádios soaram em uníssono. "Há uma atividade anormal em sua área."
Eles permaneceram ali, em silêncio completo, pelo que parecia uma eternidade... Até que um segundo bipe ressoou, e a respiração de ambos voltou como um ofego, um suspiro. "Não se preocupe, filha. Agora há apenas vocês duas, apenas duas bocas", a voz de um homem, mesmo agora com uma voz melancólica, depressiva até. Mais alguns momentos, um terceiro bipe. "A Atividade Anômala em sua área foi cessada", e finalmente tanto o rapaz quanto a garota suspiraram em alívio. Não eram eles na guilhotina, dessa vez. O rapaz encostou sua cabeça na ombro da garota, deixando algumas lágrimas escorrerem, sem pudor, como se todas suas forças se esvaíssem naquele exato momento.
"Eu não posso mais fazer isso... Eu não posso..." disse o rapaz, com uma voz rouca e trêmula. "Escutar outros... Suas últimas palavras..." e a garota afastou-se um pouco, para olhar o rapaz no rosto, em seus olhos, agora com as mãos embaixo dos braços do rapaz. O homem viu uma fagulha de determinação nos olhos de sua garota, por um momento, antes do desamparo dominar mais uma vez.
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Terror"Nossas mentes limitadas não podem sequer pensar o que está além de nosso próprio mundo, nosso próprio cosmos. Não importa o quão longe chegue, o caminho se estende ao infinito; e é impossível ter completa noção do infinito."