CAPÍTULO 1 - Depois de Tudo

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"A vida e a morte são determinadas demais, por demais implacáveis para que sejam puramente acidentais – Charles Chaplin"

          Você está preparado para morrer hoje? Ou parou simplesmente para imaginar como é a morte, ou como será sua morte? Nós achamos que temos o direito de dar a vida no momento em que queremos, mas a vida nos apresenta os bebês prematuros, e nos mostra que aquele é o momento de nascer, esfregando em nossa cara que a vida e o tempo que determinam os acontecimentos da natureza. Da mesma forma a morte. Todo santo dia estamos suscetíveis ao abraço da morte.

          No caminho do seu trabalho o seu carro pode capotar, ter um assalto no seu ônibus e você ser baleado, ser morto por um policial após o mesmo ter confundido seu guarda-chuva ou uma furadeira com uma arma. Mais injusto que uma vida começar no momento não adequado é uma vida acabar com assuntos pendentes à serem resolvidos. A nossa vida está ligada ao simples bater de nossos corações, no instante que ele para tudo ao nosso redor desmorona, tudo acaba, os projetos e expectativas criadas em cima de alguém simplesmente não existem mais.

          Há muita gente aqui no cemitério, alguns tive o prazer de conhecer, outros só conheço pelas redes sociais, ou de vista. Não posso acreditar que o perdi no dia que iria pedi-lo em casamento, uma das pequenas coisas que me prendia neste mundo se esvaiu pelas minhas mãos e não pude fazer nada para impedir. Ainda sinto sua voz ecoando dentro do meu peito e dizendo suas últimas palavras. Quer casar comigo? Meu corpo gela e estremece ao pensar que ele também iria me pedir em casamento, lembro de minhas lágrimas escorrendo pelo meu rosto e pingando em seu rosto ensanguentado, e a única coisa que ele dizia para me confortar era: "Está tudo bem, vai ficar tudo bem, a culpa não foi sua, já vencemos coisas piores". Sua mão molhada pelo sangue guiou a minha até a parte interna de seu casaco e senti uma pequena caixa aveludada, tiro lentamente de seu bolso e as lágrimas que desciam lentamente agora jorram dos meus olhos, sua mão direita sobe lenta e tremulamente e encosta suavemente no meu rosto, tentando vencer a dor ele abriu um pequeno sorriso e me fez o pedido. Você me daria a honra de ser a pessoa mais feliz do mundo? Eu te amo e você me ama, vamos sair dessa.

          Abaixo os meus olhos e abro a caixa, do lado de dentro tinha uma linda aliança de ouro, e a na parte interna superior da caixinha estava escrito, "Na vida sempre fazemos escolhas, a melhor coisa que eu escolhi foi você, você é a minha Escolha Eterna". Sentei-me no chão e coloquei sua cabeça em minhas pernas, peguei a aliança e pus em meu dedo e depois coloquei e seu dedo, enquanto o som da sirene da ambulância se aproximava e a única coisa que eu consegui falar foi:

          − Sim eu me caso com você, me perdoa eu não quis fazer isso.

          − Está tudo bem, eu te amo.

          O seu olhar estava ficando vazio e sem expressão, olho para o início daquele cruzamento e consigo ver a ambulância vindo em minha direção. Não consigo soltar seu corpo e ainda sinto seu coração batendo. Os paramédicos vêm em minha direção e pedem para eu soltar o corpo dele, olho em seus olhos e reafirmo o que havia dito antes:

         − Eu te amo, nós vamos nos casar. Eu te amo tanto, por favor fique comigo.

          Os paramédicos retiram seu corpo de meus braços, outros socorristas vão de encontro a um motoqueiro que está no chão. O mundo começa a se mover lentamente enquanto colocam ele na maca e o afastam de mim, outra equipe me segura e começam a fazer uma rápida verificação, a luz da lanterna clínica que está apontada para os meus olhos me impedem de ver para onde ele está sendo encaminhado, meu coração está pulsando em uma velocidade anormal, sinto meu sangue gelar, aquelas pessoas em minha volta estavam me deixando mais desesperado, às empurro e saio correndo em direção ao carro da ambulância e os paramédicos começam a me segurar pelos braços, começo a gritar, meu grito de dor começa a ficar estridente, sinto que se tivessem agulhas arranhando minha garganta, os paramédicos que estão dentro do carro fecham a porta e a ambulância começa a se afastar de mim, começo a dar passos lentos que em instantes se tornam rápidos, quando percebo estou correndo em direção dela, mesmo mancando, mesmo com dor. A culpa é minha, essa é a verdade. Ele vai morrer e a culpa é minha. Os enfermeiros correm atrás de mim, e tudo ao meu redor começa a escurecer e minha respiração começa a ficar ofegante. Sinto alguém me puxando pelo braço esquerdo me virando e perguntando pelo meu nome. Estou sentindo uma pressão muito forte na cabeça, as lágrimas correm pelo meu rosto, e enquanto um dos enfermeiros me encara a única coisa que consigo dizer é:

          − Ele vai morrer, e a culpa é minha.

          Fecho os olhos, e não sinto mais o meu corpo.

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