"Todo o trabalho é vazio a não ser que haja amor – Khalil Gibran"
− Bernardo acorda, você vai se atrasar para o seu primeiro dia no trabalho... Você vai perder o horário, levanta menino pelo amor de Deus
− Que horas são mãe?
− Vai dar sete horas, acorda vá tomar um banho, vou para a cozinha organizar o seu café.
Abro os olhos e encaro o ventilador de teto girando lentamente sobre mim, se minha mãe não me acordasse o sol teria feito isso, a partir das sete e meia o sol começa a aquecer a telha e fica insuportável dormir. Sento na cama e apoio meus cotovelos sobre meus joelhos e limpos os meus olhos. Entro no banheiro abro o chuveiro e deixo a água sair do cano e bater diretamente nas minhas costas, fico alguns minutos no banho, refletindo o trajeto que irei fazer hoje. Começo a vestir minha roupa, vou até a cozinha, me sento na mesa e minha mãe vem em minha direção com um prato, nele está um pão recheado com ovo mexido, e uma caneca com achocolatado.
− Menino já te falei quantas vezes que a camisa se põe depois de tomar o café?
− Mãe uma hora dessas?
− Não é "ocê" que lava né? Vai! Pode ir tirando, aí quero ver, imagina se derrama essa pomba nessa blusa, não vou repetir, tira logo ela.
Obedeço e a penduro na maçaneta da porta da cozinha. Volto para a mesa e começo a comer o pão.
− Você sabe chegar lá né Bernardo?
− Sim, mãe, esqueceu que fiz a entrevista lá? E outra o pessoal daqui do morro vai comigo até o metrô, vão comigo o Allan, Clarisse e Rebeca.
− Evita falar "do morro" lá embaixo, o povo da Zona Sul tem preconceito de quem vem do morro – Minha mãe sempre evitou de falar de onde veio para evitar de sofrer preconceito − Mas então vai todo mundo do Vidigal para lá?
− Não mãe, Allan trabalha em Botafogo, Clarisse e Rebeca trabalham juntas em um salão de beleza em Copacabana e eu no Flamengo. E outra, sabe que o Vidigal é da Zona Sul né?
- O bonito não me vem se fazer de desentendido não hein! Você sabe muito bem que existe dois tipos de Zona Sul...
Enquanto terminava minha fala, fui interrompido pelas batidas na porta, olhei para o relógio que pontuavam sete e quinze, bebi rapidamente o achocolatado e fui diretamente para o banheiro escovar os dentes enquanto isso escuto minha abrindo a porta.
− Bom dia tia Vera cadê o Bernardo? – É o Allan.
− Está no banheiro escovando os dentes, entra gente, vocês querem um pãozinho?
Gente? Vocês? Cuspo a espuma que estava em minha boca e enxáguo com água, penteio meu cabelo e ponho meu relógio no pulso esquerdo. Saio do banheiro e vou até a sala para pegar minha mochila, quando chego na sala me deparo com a gente que minha mãe se referia.
− É invasão na minha casa agora? – Indago.
− Bom dia para você também Bernardo, cadê sua blusa? – Questiona Clarisse.
− Vamos que estamos atrasados – Prossegue Rebeca.
Pego o carregador que está plugado na parede e coloco dentro da mochila, e começo a fazer uma lista de checagem:
* Carregador
* Casaco
* Guarda-chuva
Bem está tudo aqui, pego a mochila e as meninas me seguem em direção à cozinha pego a blusa e a visto.
− Qual foi Allan? – Cumprimento apertando a sua mão – Bom dia, tudo bem?
− Tá tudo tranquilo – Responde, com um sorriso.
Enquanto calço meus sapatos ouço novamente as recomendações da minha mãe:
− Cuidado com estranhos, não aceite nada de estranhos, cuidado com o horário, nada de subir no morro de boné.
− Suave mãe, já explicou isso ontem. – Digo.
− Suave nada. – Retruca.
Clarisse anda em minha direção e cochicha em meu ouvido:
- Ih Jesus, a velha enlouqueceu.
- Maluca sua mãe Clarisse! Tem que avisar para depois vocês não falarem que eu não avisei, vem logo, vocês também crianças chega aqui, vamos orar.
− Orar? – Questiona a Rebeca.
− Sim chuchu vem logo, vamos pedir para Deus abençoar a semana de vocês.
Rebeca, Allan e Clarisse se aproximam timidamente, começamos a dar as mãos uns para os outros e minha mãe pede para que fechemos nossos olhos. E ela inicia sua oração.
− Querido Deus agradeço a ti pelo ar que o Senhor nos deu e a dádiva da vida a qual nós temos, agradeço pela condição que o Senhor me deu de criar meu filho até o dia de hoje, e hoje pai, ele inicia uma nova etapa nessa vida que é sua jornada de trabalho, agradeço por ter colocado ao lado dele amigos maravilhosos e que ajudam uns aos outros em momentos difíceis, vá guardando a cada um do trajeto de casa até o serviço, guarda e livra de todo perigo e todo mal, é isso que te peço. Amém.
E em uma só voz todos dissemos.
− Amém.
* * * * *
Estamos no ônibus que nos deixa mais próximo da estação de metrô do Leblon, a estação Jardim de Alah.
− Então quer dizer que o fofo ora toda semana? – Pergunta a Clarisse se levantando do banco da frente do ônibus com um tom de sarcasmo.
− Bem, orávamos quando eu era da escola, eu acreditava que minha semana poderia ser melhor com as orações. – Respondo.
− Deixa de ser chata Clarisse cada um acredita no que faz se sentir bem. – Retruca Rebeca. Clarisse revira os olhos e abre um sorriso e se senta novamente no banco.
− Bernardo deixa eu te perguntar, você ainda está fazendo aquelas suas anotações? No seu caderno?
− Cara eu sabia que estava esquecendo alguma coisa, esqueci o caderno no meu guarda-roupas, e sim ainda estou fazendo as anotações, na verdade ele virou mais um diário do que um caderno de anotações, quando eu estou estressado, deprimido, ou até mesmo feliz eu pego ele e escrevo, me faz aliviar o que sinto, sabe? Evita eu acumular o que eu sinto. Você tinha me dito uns dois meses atrás que iria comprar um novo para continuar fazendo. Você está fazendo isso também?
− Estou sim, estou anotando na verdade meu sentimento de amor por uma pessoa aí. – Allan fala abrindo um pequeno sorriso.
− Ah que legal cara, espero que seu amor seja correspondido. Vai dar tudo certo você é uma pessoa legal.
Levanta Clarisse de novo e exclama:
- Eu pensei que era a única retardada que escrevia ainda.
Descemos no ônibus e entramos no metrô aos poucos cada um vai descendo em sua respectiva estação, Rebeca e Clarisse descem na estação de Siqueira Campos, Allan desce na estação de Botafogo e eu desço na estação do Flamengo, fui contratado para ser recepcionista em um restaurante na rua Marquês de Abrantes. Assim que chego no restaurante sou recebido pelo administrador, o senhor Gustavo. Sou sorriso irradia e sua voz calma declara.
− Bom dia Bernardo, seja bem-vindo ao restaurante Fusca Azul.
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Escolhas Eternas
RomanceApós ingressar em seu novo emprego, Bernardo morador do Vidigal acaba se apaixonando por um cliente que frequenta o restaurante ao qual trabalha na Zona Sul. Junto disso descobre segredos perturbadores de seus amigos que o rodeia. Embarque neste liv...