Stranger Rings

Vermes

Nijmegen, Guéldria, Holanda. 27 de fevereiro de 2019.

Livraria Municipal de Nijmegen.

18:24 Anastasia, com um livro na mão, olha para a prateleira acima e posiciona a escada na mesma direção. Ao subir o primeiro degrau, hesita e olha para baixo, logo sobe mais um e percebe que ainda restam dois. Decidida a descer, sente duas mãos segurarem sua cintura.

- Conseguiu Ana? - Disse Lince ajudando-a a descer maliciosamente.

- Não gosto que me chamem assim. E se me recordo bem, acredito que, mais do que ninguém, sabe disto. - Responde ela ao se afastar e entregar o livro em sua mão. Logo se direciona ao balcão.

- Por que você é assim? Eu só tava tentando ser educado. - Ele sobe rapidamente os degraus colocando o livro no lugar, desce, e a segue ficando no lado de comprador do balcão com um sorriso no rosto. - Amei as luvas de hoje, são novas?

Anastasia olha para as mãos e revira os olhos ao perceber que está com a mesma luva preta de sempre.

- Vai levar algo hoje, senhor? - Ela o trata como cliente.

- Argh. - Ele revira os olhos ao perceber o desconforto de Anastasia. - Olha, me desculpa, tá? Tudo bem, eu não deveria ter tentado nada, mas, eu tava alterado tá bem? Nem foi algo tão grave...

- Lince, eu confiei em você. Te contei coisas que eu nem me conto. Você era meu amigo... Eu não o julgo pelo que tentou fazer, não esperava outra coisa, mas, olha você aqui, continua me perseguindo quando já te mandei ir embora, continua vindo aqui todos os dias. Não me deixa em paz!

- Sabe Ana? Eu só queria te ver se divertindo, descontraindo. Te tirar um pouco da zona de conforto ou até... Tá, eu devo ter... eu errei, tá legal? Mas é sempre assim que você retribui um bom gesto... Você é tão ingrata ao ponto de afastar seu melhor amigo de você. Seu único amigo, né?. - Lince fala com raiva.

- Amigo? Olha cara, eu não o convidei a entrar na minha vida, e hoje não me arrependo de ter feito isso. Mas agora, mais uma vez, eu faço o contrário: some daqui e por favor, vai mesmo! Não me olha mais nos olhos. - Anastasia responde e prende a lágrima ao tentar se expressar com frieza.

- Tá... Como quiser. Eu sabia que não ia dar mesmo... - Ele fala dando passos para trás, e quando chega na porta dá tchau e se vira indo embora.

Anastasia aperta forte a mão e chora olhando para cima, logo dá um murro no balcão. Na mesma hora olha para o lado esquerdo da livraria e percebe que as duas pessoas que estavam lendo estão a observando, e vê que, mesmo tendo um grande vidro que separa os dois cômodos, é bem possível que eles notem o que ela está sentindo, então respira fundo e começa a mexer no computador do balcão para disfarçar. Ao olhar mais uma vez, vê que já pararam de observá-la, então consegue ficar calma, mas, ao sentir uma sensação ruim, nota que há algo brilhante vindo da mais alta prateleira da livraria, então decide ir checar.

Ao se aproximar da prateleira, Anastasia já não consegue enxergar direito o objeto, seus olhos começam a pesar, como se quisessem fechar a todo custo. Ela não hesita nem por um segundo, e logo pega a escada que estava ao lado, posiciona, vê se está firme, e começa a subir cada degrau como se estivesse seguindo um compasso. Ao chegar no último degrau, Anastasia ainda não consegue alcançar o anel, então se estica ficando na ponta dos pés, e ainda assim falta só mais um pouco, logo levanta um pé e fica apenas com a ponta de um apoiado na escada. Quando sua mão alcança o objeto, ri, mas na hora se dá conta de que está fazendo uma grande loucura, e ao perceber que nunca subiu tão alto  em uma escada, começa a entrar em desespero, e quando tenta posicionar o outro pé na escada, se desequilibra e cai para frente gritando, mas a queda não chega. Ao abrir os olhos, tentando entender, vê seu corpo levitando a 18cm do chão, o que não dura muito, pois na mesma hora cai de vez, mas não sofre dano algum, porque algo amorteceu o impacto.