Entre o Céu e o Inferno

Capítulo único

  Desde a criação de um pequeno pedaço do universo, mesmo poucos sabendo, existe e sempre vai existir um lugar neutro. Fica entre o céu e o inferno, entre a vida e a morte. Tal lugar é o lar dos neutros, como gostam de serem chamados. Seres criados para fins de organização quando o assunto é céu e inferno. Nenhuma alma morre sem passar por eles.

Localizado em lugar desconhecido onde o tempo não passa. Alguns dizem estar localizado dentro do próprio criador, outros dizem que os Neutros são os próprios criadores. Só o que se sabe ao certo é que os Neutros são os seres mais antigos. Vivem desde a criação do primeiro pedaço de universo. Não sentem fome, sede, sono ou até outros sentimentos que um humano normal teria. Sua única função e desejo é julgar.

Os Neutros vivem e trabalham em um prédio de 50 mil andares sem saída, somente com entradas para outros setores e para o próprio prédio em si. A cor cinza predomina em todo o lugar, seja nas paredes e nos uniformes de cada Neutro. O chão é tão liso que nem parece feito de algum material conhecido pelo homem, o mesmo com as prateleiras.

O primeiro andar é o salão de entrada. Vários balcões com muitos papéis que voam de balcão para balcão como se pessoas invisíveis controlassem os mesmos. Cada um desses papéis corresponde a um processo que foi finalizado nos andares de cima. Ou seja, são milhares de documentos que passam pelas balconistas até chegarem no fim do salão. É lá que as secretárias do inferno e do céu ficam com toda a papelada para depois enviar aos seus respectivos lugares.

Perto desses balcões no fim do salão estão dois portais que, por mais incrível e bizarro que pareça, levam para dois lugares completamente opostos. O modo como tais portais funcionam é um mistério, dizem ser criações do nosso Criador. Um negro e outro azul. No fim do dia os papéis são todos mandados para esses portais.

No resto dos 49 andares é onde tudo acontece. Cada andar é composto por várias salas pequenas onde cabe somente 4 pessoas: Um juiz; o réu; advogado do céu; e por último o advogado do inferno. Somente tem voz nessas salas os advogados, pois o réu é transformado em algo que não consegue sentir, falar ou pensar. Já o juiz, depois de ambos advogados apresentarem suas acusações e defesas, dá a martelada final definindo assim para onde o réu vai passar toda a eternidade.

Dependendo do julgamento pode demorar estrelas ou até luas para o juiz dar sua martelada final. Cada alma é muito valiosa para o céu e o inferno, então os advogados lutam até sua última chance de conseguir trazer aquela alma para onde irá permanecer por toda eternidade. Não existe pessoa má ou boa, pecadores ou até crentes nesse julgamento, cada ação feita em vida é discutida, defendida ou até acusada. O advogado que conseguir convencer o juiz de que aquela alma vai embora junto com ele é a chave para o fim do julgamento. E quando isso acontece, o réu é transformado em um papel que sai voando da sala em direção ao primeiro andar, onde passa por sua respectiva balconista e entra no portal de sua moradia eterna.

O que acontece no céu ou no inferno com essas almas aí já é outra história.