Cícero, as folhas caem como você disse que cairiam.
Me encontro sentada naquele mesmo banco de parque que você sempre estava, lembro-me quando dizia que é um ótimo lugar para renascer, tenho uma idéia do que queria dizer, estou longe do barulho da cidade, somente eu, o lago, e as elas, as suas verdadeiras musas, minha respiração está no ritmo dos seus movimentos, suas folhas, Cícero, dançam com o ar e pousam com maestria umas nas outras, assim como você me avisou. Poderia criar raizes naquele lugar, mas preciso ir, ele me traz lembranças suas fortes demais para suportar por muito tempo.
Acabo me espantando com uma gota de água em meus dedos, dessa vez não sou eu, é a chuva se aproximando, eu preciso ir.Estou em casa e Azimute ainda não chegou, foi você quem escolheu o nome, dizia que o cachorro nos informaria o caminho caso nos perdecemos, você estava 50% correto, Azimute tem ajudado a me encontrar depois de me perder de você, mas ainda assim, sinto que não há muito o que fazer quando não tenho um ponto de chegada. A verdade é que se você me visse agora saberia que a sua Laura está precisando de um abraço, um cafuné e daquela mágica que faziamos juntos.
O vidro do banheiro está turvo, meus dedos desenham formas geométricas com o vapor. Derrepente lembro de outros momentos em que pintavamos nossos passos nesse mesmo vidro, sua costa, meus dedos, sua bunda, meus joelhos, seus cabelos castanhos molhados projetavam pequenos circulos, suas mãos grandes acariciavam minha bunda, sua língua quente conversava com o meu pescoço me fazendo desmaiar e me reanimar em frações de segundos... Essa mesma pintura temporária está agora perpetuada em minhas memórias.
Deitada na cama que já compartilhamos noites inesquecíveis, eu constato, "Preciso esquecer você".
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Enquanto Eu Estiver Aqui
RomanceViveremos para sempre enquanto houver alguém para lembrar de nós.