c a p í t u l o ú n i c o .

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P a r a  O n d e  V o c ê  F o i ? 

P a r a  O n d e  V o c ê  F o i ? 

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❝☁☂❞

Dar adeus a tudo o que vivemos
Foi como me despedir do mundo

❝☁☂❞

Choveu muito naquele dia.

À luz das minhas memórias, lembro-me ter pensado que o céu desabaria sobre minha cabeça, ou talvez isso seja apenas mais uma tentativa inconsciente da parte de mim – cuja quer lembrar-se de você – que me obriga a reforçar a memória e o sabor de tê-lo comigo, apenas para desestabilizar meu lado autodestrutivo que não quer nem mesmo recordar do seu nome, SeokJin.

Pedir-te para ficar foi tão tolamente insuficiente quanto o beijo que me deu antes de partir, quando tudo o que eu queria – e mesmo que doa, ainda quero – era a sua presença ininterrupta. Às vezes prefiro acreditar que você deu adeus pelo motivo de eu não ter sido forte e sincera o bastante para persistir, porquanto dói ainda mais aceitar que sua partida se deu porque você é um pássaro que não nasceu para viver numa gaiola; e como eu quis; Deus, como desejei, que você pudesse chamar meu abraço de céu, apenas para que pudesse permanecer voando próximo a mim, sob meu firmamento. E é por desejar tanto que me recordo com tanta eficiência e riqueza de detalhes os momentos que me fez sentir complexamente amada com as mais simples ações.

Como ninguém você me mostrou a vida de cabeça para baixo, direcionada perpendicularmente, paralelamente com outras realidades; em síntese você bagunçou a desordem existente em mim, fez-me questionar os padrões que eu tolamente aplicava sobre mim mesma. Confesso, naquela época senti-me frágil e contrariada, mas entendo hoje que, às vezes, tudo o que precisamos é mudar a perspectiva.

Ora, "às vezes" não se aplica a sempre. Porque não importa que eu já tenha observado a sua partida por mil ângulos diferentes, eles representam sempre a mesma coisa: a verdade indiscutível, cuja nós humanos sonhamos em controlar, de que tudo (tudo mesmo) na vida tem um fim. E assim como o verão me aquece todos os anos, eu espero ser acalentada mais uma vez pelo seu abraço palpável e real, apenas porque dói demais não poder senti-lo de fato, mesmo que sua presença em minha vida tenha sido tão marcante a ponto de deixar rastros em todos os cantos. Esquecer-te é como tentar apagar a tinta da caneta que escreveu o que vivemos, com a borracha insegura do meu medo de te deixar ir: impossível.

E talvez, o brilho que vi em seus olhos antes de partir tenha sido uma promessa silenciosa da sua volta em algum momento, e não o pedido de desculpas indigno por não poder regressar jamais. Quero me agarrar a essa tola esperança, ao menos pelo tempo suficiente para a tristeza tornar dormente nossas memórias e elas não provocarem em mim nada além de uma saudosa nostalgia.

Mesmo agora me lembro da minha tentativa desesperada em fazer-te ficar quando você precisou ir. Você não quis partir. Ou quis, e a ideia contrária que tenho é apenas uma forma de proteção contra a dura realidade. Tem sido difícil encarar o mundo sem você. Mais árduo ainda é me lembrar do seu nome e não poder chama-lo porque você não me ouviria por estar a um continente de distância.

A caixa azul marinho abandonada no fundo armário é a personificação de todas as nossas memórias deixadas no passado apenas porque não posso revivê-las novamente. Se recordar é viver, então porque você ainda não está ao meu lado? Não importa o quanto eu me lembre dos nossos dias de glória, não consigo revivê-los, e o que me resta são apenas ruínas atemporais. Em algum lugar do meu inconsciente te vejo em sépia e cada vez mais distante do meu presente oscilante e vago sobre onde você deseja ficar, se em meu passado ou num futuro longínquo e brilhante como uma miragem. E nem eu mesma sei onde quero que você fique senão ao meu lado.

Querer não é poder, contanto, é decidir. E você decidiu partir. E eu decido te guardar no meu coração, talvez no fundo de uma gaveta entreaberta, onde você possa sair quando quiser. Afinal... Você mesmo me disse que não sou responsável e muito menos deveria descontar em mim mesma as suas escolhas ruins, que eu não poderia descartar o melhor de mim apenas porque você não soube – ou não se interessou a aprender – apreciá-lo.

Meses antes de partir você me disse que conseguia ver o fim da nossa relação, como o ponto de fuga em um pôr do sol. E te respondi que eu também via, afinal, nada é eterno, certo? Sabiamente você me respondeu que aquilo era injusto porque quando amamos deveríamos ter a sensação de que seria eterno. Concordo com você, o que não significa que eu viva isso. Me chame de hipócrita se quiser, mas tudo parecia bom demais, não para ser verdade, mas para ser real e perene. Eu não tinha a sensação, tinha o desejo de que nós fôssemos eternos, mas não fomos, não somos e jamais seremos, pois nossa história encontrou uma bifurcação, cuja obrigou-nos a colher o que plantamos: sonhos.

E sabe, SeokJin? Ficará tudo bem para mim. A tristeza que sinto nesse mesmo instante é menor do que a de um dia atrás, e apenas sei disso porque um dia chamei esse sentimento de aflição. Então, assim como seus sonhos te levaram fisicamente para longe, deixarei que o tempo seque a água desse rio efêmero que chamo de nós, mesmo tendo noção que mesmo seco, ele ainda terá areia em incontáveis grãos como as memórias e a saudosa nostalgia inquietante. Espero também que tudo fique bem para você que antes de partir deixou comigo uma parte de si. Queria poder devolvê-la para ver-te melhor logo, mas ao menos sei para onde você foi, sei apenas que seguiu seus sonhos e como uma grande sonhadora, compartilho da noção de que o caminho até a realização é incerto.

E por também não conhecer esse trajeto, torço para que nossos futuros desconhecidos sejam os mesmos.

b y : v i t ó r i a t.

Para Onde Você Foi? | ksjOnde histórias criam vida. Descubra agora