The old lady

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- Lili Martin - 

As vezes eu acho que mereço tudo que já aconteceu na minha vida. Perder meus pais com apenas 5 anos, passar anos em um orfanato, ser adotada por um casal problemático, ser agredida diversas vezes pelo pai adotivo, ter amizade abusiva, perder a pessoa que me fez enxergar a vida de uma forma diferente. É muita coisa pra uma pessoa só. 

Talvez na outra vida eu tenha colado chiclete na cruz de Jesus Cristo pra passar por tudo isso. 

Desde que conheci o Nathan nos tornamos muito amigos. Frequentávamos a mesma escola e tínhamos uma forte conexão através da Nana. 

Eu nunca soube muito bem o que era amor, porque como vocês podem ver eu nunca tive exemplos de amor na minha vida, então eu sempre aceitei qualquer coisa.

Ver o quadro de Nana e Gabe em pedaços no chão da sala me destruiu. Ela sempre falou muito bem dele, sempre descreveu a relação deles em algo que eu sempre quis ter e que talvez eu nunca tenha. Eu nunca conheci o Gabe mas eu tenho certeza de que ele foi uma pessoa maravilhosa pra Nana, e de que ele a amava mais do que qualquer outra coisa nesse mundo.

Ela sempre dizia que nessa vida podemos encontrar muitas paixões, mas que amor é só um. E que esse amor pode ser tão grande e tão forte a ponto de se multiplicar e ser gerado dentro da gente. 

Quando Nana falava sobre os filhos, ela sempre chorava. Chorava porque sempre os criou da forma como pode, sempre cuidou deles com dedicação e amor, mas quando ela precisava ser cuidada novamente como um bebê, eles sumiram. 

Eu considero minha vida dividida em 2 partes: a Lili antes da Nana e a Lili depois da Nana.

A Lili antes da Nana era uma pessoa fria, que não se importava com nada, e que só pensava em sobreviver a cada dia. Mas a Lili depois da Nana se tornou uma pessoa forte, batalhadora, e que queria viver cada segundo do dia. 

Depois que Nana morreu, eu voltei a ser a Lili antes da Nana. Ficava trancada em casa e não queria sair de lá por nada nesse mundo. A Nana morreu 3 meses depois do dia do parque. Eu tinha começado a trabalhar na cafeteria pra ajudar a comprar suas fraldas geriátricas, seus remédios, e comida. Claro que eu tive a ajuda de Nathan, mas só dele. E não foi o suficiente. 

Quando ela se foi, eu passava horas sentada no chão de seu quarto de frente pra sua cama, porque foi ali que ela morreu. Eu nunca me desfiz de suas coisas. Todas as suas roupas estão intactas dentro do guarda roupa mesmo depois de quase 4 anos. 

Suas imagens religiosas ainda estão em cima da cômoda, ao lado de seu terço e uma foto do Brad Pitt, que ela morria (pesado) de medo que Gabe visse - coitada - e brigasse com ela por ciúmes. 

O quarto está trancado. Eu finjo que não sei onde está a chave mas eu sei muito bem onde coloquei ela na tentativa de nunca mais abrir aquela porta e chorar com as lembranças que viviam ali. 

Mas como eu conheci a Nana? 

Aqui vai a lembrança de quando uma luz se acendeu dentro de mim.

6 anos atrás

Eu estava desesperada atrás de um emprego. Eu só tinha 16 anos, quem ia querer empregar alguém nessa idade?

Tinha alugado uma kitnet e precisa de dinheiro pra pagar, afinal, o dinheiro que peguei daquele velho nojento não ia durar pra sempre. 

Andava pelas ruas de Toronto, enquanto ia pra escola, procurando por algo aceitável pra minha idade e não encontrava nada. 

Eu era nova na escola, então estava naquela fase em que todo mundo ainda me olhava querendo saber um pouco mais sobre a novata. 

The DealOnde histórias criam vida. Descubra agora